Por Adalberto Belgamo
Nas décadas de 80 e 90,
havia uma expressão interessante: “meu, o cara curte som!”. O tal do “curte
som” era usado pelos fãs de Rock, Metal e derivados. Hoje, mais experiente (mas
calma lá, não é assim também, não saí na foto do primeiro voo do 14 Bis –
risos), percebo que a expressão era um divisor entre os que gostavam do Rock
Clássico, Metal, Punk e Hardcore e de fãs de outros estilos.
Havia uma hierarquia,
inclusive cronológica (os “véios” mesmos – risos) em relação à confiança e ao
respeito. Um “roquista” (o termo “redbengui” ficou mais presente a partir da
metade da década de 80) com a camiseta de uma banda antiga, por exemplo, era...
o cara! Mesmo que, na intimidade do lar, o “guru” não dispensasse um Amado
Batista e/ou um Odair José (no interior, aquele sertanejão raiz, de viola!) e
não perdia um programa do Chacrinha (Terezinha... olha o bacalhau! risos).
A minha pré-adolescência
e “aborrecência” foi marcada pelos programas nas tardes de sábado. Havia, além
do Chacrinha, o Clube do Bolinha (Eles e Elas, no clube do Bolinha! Risos) e
Barros de Alencar. Só a nata do que chamavam de brega (risos). Via mais para
ver as participações do “Rock Brasileiro” (segundo alguns críticos) da época,
como o Barão Vermelho e o Ira!. Havia as dançarinas, mas “nenhum” adolescente (exalando
hormônios – risos) assistia ao programa do Chacra por causa das “moças” (risos).
Nada para fazer nas tardes de sábado. Ver “qualquer coisa” para passar o tempo
(sei... risos).
Na memória vem apenas os
nomes de algumas “chacretes” como Aurea
Figueiredo, Baby, Beth Boné, Bia Zé Colméia, Cambalhota, Chininha, Cida
Cleópatra, Cléo Toda Pura, Cristina Azul, Cris Saint Tropez, Daisy Cristal,
Débora Lúcia, Edilma Campos, Elvira, Elza Cobrinha, Érica Selvagem, Esther
Bem-Me-Quer, Estrela Dalva, Fátima Boa Viagem, Fernanda Terremoto, Garça
Dourada, Geni, Gláucia Sued, Gleice Maravilha, Graça Portellão, Gracinha
Copacabana, Índia Amazonense, Índia Potira, Índia Ana Circulete, Jussara
Mendes, Karina Fofura, Leda Zepelin, Lia Hollywood, Loura Sinistra, Lucinha
Apache, Marlene Morbeck, Mirian Cassino, Pimentinha, Regina Polivalent, Rita
Cadillac, Rosane da Camiseta, Roseli Dinamite, Sandra Pérola Negra, Sandra
Veneno, Sandra Mattera, Sandrinha Radical, Sarita Catatau, Suely Pingo de Ouro,
Valderez, Valéria Mon Amour , Vera Furacão e Eva Furacão... (risos)
Voltando ao “cara que
curte som”, as influências que recebíamos vinham dos mais velhos, ou seja, do
Rock Clássico. Já usávamos o termo “guitar hero” para definir nossos
guitarristas preferidos. Idolatrávamos
não somente a técnica musical, mas a postura e, principalmente, as diferenças
criativas, que moldaram 99% do que ouvimos atualmente, em relação ao Rock e ao
Metal, em especial. É importante expandir o conhecimento musical para outros
estilos, mas fica para outra oportunidade... se me derem (risos).
Jimi Hendrix, Ritchie
Blackmore, Alex Lifeson, Jimmy Page, Angus Young, David Gilmour, Eric Clapton
(que era considerado um deus! E é mesmo!), Pete Townshend, Johnny Ramone, (sim!
ele criou um dos estilos musicais mais influentes na história da música
ocidental!). Mais para os anos 80, Eddie Van Halen e Randy Rhoads (e tantos
outros) moldaram, aprimoraram e criaram técnicas, sonoridades e estilos novos.
Além da música, havia a “magia”, que os cercava. Sexo, drogas e Rock and Roll!
Vida “on the road”! Festas! Bom, para os fãs, o sexo era um tanto quanto
escasso (risos). “E não discordem”! (risos). Eu sei o que vocês fizeram nos
verões passados! (risos). As drogas eram os “corotinhos” da época (e mais
algumas coisinhas hehehehe), a vida na estrada consistia em atravessar a cidade
para ir a festas e fazer “air guitar” (risos). O “Roque” era a única coisa
realmente palpável! (risos)
A guitarra, naturalmente,
está em constante evolução técnica. No entanto, os “guitar heroes” estão
desaparecendo. Talvez seja um dos motivos de os jovens, principalmente, não se
interessarem pelo instrumento. Na opinião de quem vos escreve, o último grande
representante da raça (risos), que se impôs (por méritos próprios) para a
cultura de massa, foi o Slash. Deixando bem claro, alguém que extrapolou os
limites do Hard Rock e Heavy Metal, underground ou não. O próprio Kurt Cobain
no estilo dele (um gênio na composição!) influenciou muitos guris. É (era) um
outro contexto, mas foi de suma importância para o instrumento. Enfim, segue o
fluxo... (risos)
Bom, depois da pequena
introdução (risos), por que falar de guitarristas? Por quê? Por quê? Por quê?
Tony Iommi! O pai, o filho e o neto do Heavy Metal! Simplesmente, criou um
conceito e uma sonoridade musical! Ousou ao sair da formação
Blues/Jazz/Erudita. Misturou tudo. Criou os riffs, o peso e a densidade do
estilo! E acabou! Sem teorias da conspiração. Não concorda? Sol com chuva, casamento
de viúva, chuva com sol, casamento de espanhol! (risos)
Vamos então para a Pista
de Atletismo do Ibirapuera em 27 de junho de 1992. Black Sabbath!!!
Minha banda e meu
guitarrista preferidos de Heavy Metal. É adoração mesmo! (risos). Imaginem como
os fãs se sentiram com a notícia da primeira turnê da banda no Brasil? Êxtase,
ansiedade, felicidade, perplexidade e idolatria nível “hard”!
Eles estavam lançando o
“Dehumanizer” (1992) com uma das formações clássicas. Tony, Geezer, Appice e...
Dio! Era um sonho, tanto que um mês após o show, eu ainda estava meio passado,
segundo o pessoal da faculdade. Na verdade, naquela época eu era meio passado
mesmo (risos). Acho que tenho melhorado um pouco nos últimos anos. Será?
(risos)
E fomos de excursãozinha
básica. Ônibus lotado. Isopores carregados de cerveja e comidinhas suspeitas
(risos). Ainda não era proibido fumar em veículos fechados, então o fumaçê de
bastonetes bronzeadores de pulmões (e outras coisinhas...) corriam soltos.
Ansiedade a mil!
E o sonho dos “caras que
curtem som” se materializou com os primeiros acordes de The Mob Rules. Ver o Iommi tocando com um sorriso no rosto – pela
primeira vez no Brasil – foi surreal. E o peso que saia dos PAs? Orgástico, no
bom sentido (risos)! Ele é um “lindo”! Espiritualmente e musicalmente falando.
O “homi” é feio demais! E olhe que não me foi permitido passar na fila da
beleza, antes da chegada a este planeta (risos).
De repente apareceu o
elfo... Dio! De onde vinha a voz e o carisma de um ser que, na melhor das
hipóteses, batia na cintura do “Bonecão de Posto” (risos), que vos escreve? À
esquerda... Mr. Geezer Butler. Misericórdia! O cara espancava (no bom sentido)
o baixo, sem pena, como se fosse o último show, que estava fazendo! Na
bateria...Vinny Apice! Nos teclados, fazendo todas as texturas... Geoff
Nichols!
Todas as vezes, que me
pedem para definir o Heavy Metal com bandas como exemplos, as que saem ao mesmo
tempo do cérebro protegido por uma calvície avançada (risos), são sempre a
“era” Dio no Black Sabbath e o Judas Priest. E eu vi as duas!!!
Setlist: The Mob Rules , Computer God , Children of
the Sea , Time Machine , War Pigs, I, Die Young, Guitar Solo, Black Sabbath ,
TV Crimes , Master of Insanity , Drum Solo, Iron Man e Heaven and Hell. Encore:
Neon Knights e Paranoid. Laguna
Sunrise (tape)
A sequência inicial, as
quatro primeiras obras de arte, fizeram muitos marmanjos derramarem lágrimas.
Não vou contar quem “chorei” para vocês... (risos). E participação do público
em Heaven and Hell? E as músicas da
era Ozzy? O que foi aquilo? Parece fanatismo de adolescente, não é? Mas é
mesmo! (risos).
A música é a trilha
sonora dos momentos mais marcantes da existência no planeta Terra, bons ou
ruins. Garanto que este show do Black Sabbath foi um dos dias mais felizes da
minha vida, sem titubear! Sonho de infância realizado! Os outros shows da banda
nas terras do “Temeridade” (affff) foram antológicos, mas a primeira vez,
usando o clichê, a gente nunca esquece.
Crianças e “crianços”,
independente do tamanho da banda, sempre vale a pena ver um show ao vivo das
bandas que vocês mais gostam, uma, duas, três... quatro vezes. Fica marcado
para o resto da vida, mesmo quando vocês se tornarem “os caras que curtem som”!
(risos). Pessoas que não tem, no mínimo, um pneuzinho de bicicleta em volta da
pança e não frequentam shows... não tem (e não terão) histórias para contar.
Eu me arriscava (na
verdade, arrisco-me até hoje... sem muito sucesso – risos) em tocar guitarra
naquela época. Sinceramente, foi difícil olhar para a minha Giannini Pro Line
(ostentação no início da década de 90 – risos) depois do baque. Tocar?
Aventurei-me umas duas semanas depois, mas baixinho...
Inté!
*Adalberto Belgamo é
professor, atuando no museu (sem ser peça... ainda - risos), colaborador do
Arte Metal, além de ser Parmerista, devorador de música boa, livros, filmes e
seriados. Um verdadeiro anarquista fanfarrão.
Imagino o tamanho do DIO, apesar de ser gigante no Palco, não era maior que um Anão de Jardim, faço ideia por ter assistido o primo dele em Brasilia com a The Rods, outro gigante no Palco, cantando muito.
ResponderExcluirMas Black Sabbath é tudo mesmo, todas as fases, principalmente o álbum com Ian Gillan.
Um arrependimento: Não ter ido assistir Heaven And Hell em 2009 em Brasilia, 1 ano depois, praticamente exato, DIO faleceu e nunca mais poderia assistir com ele, depois não tive mais chance de assistir.