Por Vitor Franceschini
Faz muito tempo que estou
para escrever este texto, mas não encontrava palavras, e olha que vivo delas.
Talvez seja por isso que a minha situação econômica nunca melhore (risos). Indo
ao assunto, talvez esta palavra ‘ecletismo’ cause calafrios na maioria dos
‘headbangers’ mundo afora, principalmente no underground nacional, que é o que
eu conheço de fato.
São raras as exceções de
‘metaleiros’ que passam, passaram ou passarão por uma fase radical dentro da
música pesada, que aliás é o estilo que mais encontra ‘resistência’ na arte em
geral (não tenho dúvidas). Alguns ficam nessa fase, outros passam e outros soam
meio que entre o radical, mas nem tanto... neste caso o mais ou menos existe.
Com este que vos escreve
não foi diferente. Lá pelo final da década de 90, mais precisamente entre
1999/2000 uma onda extremista permeou o miolo em formação aqui, até então com
cerca de 16, 17 anos. Na mente, Death Metal e Black Metal (no fundo ouvia um ‘Dark/Gothic
veiaco’ com muita ‘deprê’ imposta), principalmente com grupos de ‘logos’ que
ninguém conseguia ler ou bandas de menos adeptos, visual não muito forçado, mas
preto em sua essência e olhares tortos para ‘roqueiros alternativos’ e/ou que
estavam chegando na cena.
A maior cagada foi se
desfazer de diversos discos ‘não extremos’ entre vinis e CD’s (Ramones por
exemplo, banda que amo até hoje) em trocas por qualquer banda extrema, pura ‘poseragem’,
porque no fundo gostava de muita coisa alternativa, de ‘rocks’ mais simples, de
Metal melódico, etc, etc, etc... Ainda bem que essa época durou pouco tempo,
veio a boa fase com garotas (ahhh como poderiam voltar, risos) e a formação de
uma personalidade musical (me desculpem se soou sem modéstia) que me fez ter o
conhecimento que tenho hoje, mas principalmente a felicidade em ser uma pessoa
eclética.
Não desrespeito em
momento algum uma pessoa que não tem o gosto musical amplo, mas confesso que
sinto pena muitas vezes. Eu explico. Eu lamento o que eu perdi em pouco tempo e
poderia ser mais, no caso os anos que mencionei acima e hoje eu sinto orgulho
quando me chamam de ‘farofeiro’ (no termo de ouvir muitos estilos diferentes) e
até ‘sem filtro’, como um grande amigo já se referiu a mim outra vez (risos).
Até me apresento assim.
Pelo fato de ter passado
por essa fase radical, e ter superado isso, sei muitas vezes que as pessoas
radicais sempre têm algo enrustido. Pode ter certeza absoluta que ao menos uma
banda mais ou menos ‘alternativa’, uma música ‘pop’, ‘brega’ ou alguma coisa ela
gosta, mas se auto reprime e com isso só sofre. E digo mais, quanto mais
radical, mais coisas dentro de si esconde. Garanto! É questão de psicologia
(cursei 1 ano da área aplicada à comunicação), de vivência, de experiência
própria.
É latente que meu gosto é
esmagadoramente pelo Metal e Rock pesado, senão não me dedicaria tanto a estes
estilos, nem teria esse blog e quem me acompanha sabe disso. Mas, quem me
conhece mesmo sabe que se restou algo de radicalismo é realmente contra a
música de massa, que é descartável e imposta pela mídia. Mesmo assim me atenho
de ficar julgando quem as ouve ou criticando, pois me ponho no lugar da pessoa,
e eu detesto que falem mal do que eu gosto. A certeza é que esse tipo de música
não acrescenta em nada, a não ser em momentos espontâneos de alegria, e isso já
é algo.
O ouvido é igual o tato,
o paladar... quanto mais consome, mais compreende, mais sente. No mais,
continuo aqui tendo pena de quem sempre ouve as mesmas coisas porque impõe
diversos obstáculos a si mesmo: “poxa, a banda usa bermuda”, “tem teclado aí”, “é
muito pula-pula”, “meus amigos vão tirar o sarro que eu ouço isso...”” só pra
mencionar o que acontece no meio Metal. Continuo também, após um dia pesado em
termos de resenha, a colocar meu ‘poperô dos anos 80’ ou ouvir um Cartola, e
quando tomo ‘umas a mais’ até aquele sertanejão raiz de verdade que faz a gente
sentir ‘saudade da morena’. Isso sem contar no dia a dia ter praticamente
música para TODOS os tipos de sentimentos. Pena de quem quando perde a fita
cassete tem que se contentar com o silêncio.
*Vitor
Franceschini é editor do ARTE METAL, jornalista graduado, palmeirense e
headbanger que ama música em geral, principalmente a boa. Continua adorando
bandas com logos inelegíveis e de poucos adeptos.
Excelentes colocações. Também passei pela fase radical, e também minha paixão principal é por música pesada, mas me permiti apreciar a qualidade técnica e o sentimento musical que aflora em qualquer estilo musical se feito com talento nato ou com amor.
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