Foto: Kubo Metal |
Praticamente trinta anos
dedicados ao Metal brasileiro, em especial o extremo. André Gubber, guitarrista
- na verdade um multi-instrumentista e vocalista - contribuiu sozinho mais que
muita banda. Tudo para o cenário metálico nacional, em especial o paulista, com
registros de nomes clássicos do cenário, como Nervochaos (do qual ajudou
fundar), Siegrid Ingrid, Pentacrostic e o ‘cult’ Skullkrusher. Hoje lidera o
Skinlepsy, mantendo essa chama agressiva de sua música acesa. Este é o nosso
convidado do Killing Yourself!
“Skullkrusher” – Skullkrusher
(1992): Em
primeiro lugar agradeço a oportunidade de falar um pouco sobre alguns trabalhos
dos quais participei. Vou
começar falando sobre um disco que nunca foi lançado. Um pouco estranho, mas de
fato aconteceu. Eu tocava numa banda de Osasco-SP que era bastante ativa no
underground paulista chamada Skullkrusher. O Skullkrusher tinha gravado uma
demo-tape chamada “Walking to Disgrace” em 1988 e teve uma repercussão muito
boa. Pouco tempo depois, o Felipe que era baixista da banda sofreu um
gravíssimo acidente de trânsito e devido às sequelas se afastou totalmente da
música. Eu entrei na banda em meados de 1989 como baixista a convite do meu
amigo Sidney, guitarrista e vocalista e em 1990 gravamos a demo-tape “Protect
Your Skull”. Algum tempo depois, o outro guitarrista chamado Fábio
(posteriormente Fábio Jhasko) deixou a banda para se juntar ao Sarcófago e
depois de algum tempo eles lançaram o clássico álbum “The Laws of Scourge”
(1991), o resto da história todos sabemos. Depois de algumas tentativas com
outros guitarristas, o Sidney me convenceu a trocar o baixo pela guitarra e com
a banda reformulada recebemos a proposta para gravarmos o nosso primeiro LP. Então
viajamos até Belo Horizonte para gravarmos no JG Estúdio com o produtor
Gauguin. Esse estúdio era considerado um dos melhores naquela época, e bandas
como Sepultura, Mutilator, Chakal, Sarcófago e Overdose já tinham gravado seus
clássicos álbuns no mesmo estúdio e com o mesmo produtor. Tudo isso aconteceu
em março de 1992, voltamos para São Paulo muito entusiasmados com o resultado e
ansiosos para o lançamento daquele trabalho, fizemos até alguns shows em SP com
o Sarcófago durante a divulgação do “Laws of Scourge”, mas o produtor nos
enrolou e até hoje nada do disco sair. Não temos a fita master e tudo que ficou
de registro foi uma fita K7 cópia da cópia, que passei para mp3 e coloquei no Youtube
para quem quiser conferir. Foi uma grande frustração para a banda o fato desse
trabalho não ter sido lançado naquele ano, e depois de algumas mudanças de
formação a banda acabou. Alguns registros dessa época estão no livro lançado
recentemente “United Forces – Revirando Arquivos:1986-1991” (link do teaser https://youtu.be/v0DJIz1UG0g).
Skullkrusher |
“Pissed Off” – Siegrid Ingrid
(1995): Em
meados de 1994 entrei para a banda Siegrid Ingrid, da formação original só
restava o vocalista Mauro “Punk”. A banda já tinha lançado o 7” EP “The Choice”
(1992) que teve uma boa repercussão por causa da música Éneas. A formação ainda contava com o Edu na bateria, mas estávamos
sem baixista. Chegamos até a fazer alguns shows com essa formação, mas depois
de algum tempo o meu ex-parceiro de guitarra no Skullkrusher, Sidnei, se
juntaria à banda juntamente com o baixista Thomaz. Entramos numa fase muito boa,
ensaiávamos quase todos os dias e fazíamos muitos shows. Tocamos em casas
importantes de São Paulo ao lado de bandas que estavam em ascensão e de estilos
diferentes do Siegrid Ingrid, como por exemplo: Inocentes, Pavilhão 9 e Okotô,
além de participar do programa Fúria Metal da MTV. Estávamos a todo o vapor e então
decidimos que era a hora de gravar o primeiro CD, então iniciamos ainda em 1994
a produção do álbum “Pissed Off”. Com
exceção da música Pissed Off, todo o
repertório do álbum foi baseado em músicas que a banda já havia composto nas
formações anteriores, porém, com muitos arranjos diferentes. O CD foi gravado no estúdio ASAS em
SP e lançado pelo selo paulista Rottheness Records. Continuávamos a nossa maratona de
shows, inclusive em outros estados. Em um desses shows, mais precisamente na
cidade de Imperatriz do Maranhão infelizmente ocorreu um dos primeiros fatos mais
marcantes para a banda. O Punk ficou bem “alterado” para não dizer totalmente
louco, por ter misturado muita bebida e “otras cositas” e não conseguiu fazer o
show de forma decente, além de muita confusão gerada com público e organização,
enfim muito desgaste. Foram
dois dias viajando de ônibus de SP para tocar no norte do país e tivemos uma
ótima recepção por lá, mas infelizmente devido a toda aquela situação tocamos apenas
2 ou 3 músicas, então tivemos que colocar um ponto final. Aliás, esse tipo de atitude vinha
sendo uma constante em vários shows e sempre conversávamos com o Punk a
respeito da postura dele. Nós não estávamos para brincadeira e sem modéstia, a
gente arregaçava ao vivo, éramos muito bons mesmo, principalmente o Punk, que
já se destacava como um dos melhores ‘frontmans’ do Brasil. Como o Punk era o único membro
original do Siegrid Ingrid, decidimos que todos deixariam a banda, e
seguiríamos com outro nome e outro vocalista. Surgiria
então uma nova banda, o Nervochaos.
“Nervochaos”
(Demo 1996) – Nervochaos: Exatamente em setembro de 1996, convidamos
o Marcelo da banda Arum para ser juntar a nós como vocalista do Nervochaos. Até
então, ele havia tocado guitarra em outras bandas, inclusive no Siegrid Ingrid.
mas nunca tinha sido apenas vocalista, mesmo assim a química funcionou bem. Estávamos ansiosos para mostrar nossos
novos sons e não ficarmos à sombra do S.I., mas esse processo foi demorado e
nada fácil. Como já tínhamos iniciado as composições para o novo material do
Siegrid Ingrid e o Punk não tinha participado desse processo, concluímos as
músicas e entramos em estúdio para gravarmos nossa primeira demo com 4 músicas. Esse trabalho teve uma boa repercussão
e com isso mantemos a mesma frequência de ensaios e shows, então em 1997 surgiu
a oportunidade de uma turnê histórica pelo nordeste do país ao lado do Krisiun. Nessa turnê acabei atuando como
baixista porque o Thomaz havia lesionado o ombro e não tinha condições de
viajar e de realizar os shows. Quando
retornamos da turnê eu e o Marcelo deixamos a banda.
“The Path to Nothingness” (demo
1998) – Siegrid Ingrid: Não demorou muito, o Punk ficou
sabendo que eu tinha saído do Nervochaos e me chamou para dar uma força num
show em Vitória/ES porque o guitarrista não poderia ir. Fiz esse show e mais
outro e outro e com isso acabei retornando ao S.I. A banda tinha sido reformulada com a
entrada do Evandro Jr. (Anthares) na bateria, Roberto Toledo (que mais tarde
seria produtor dos 2 álbuns do Skinlepsy) e Luciano Garcia na outra guitarra
(tempos depois entraria para a banda CPM 22 onde toca até hoje). Começamos
a compor e surgiram músicas realmente fortes, The Path to Nothingness, Your Trivial World e Haven of Dusk, então decidimos gravar uma demo para mostrar a nova
cara da banda e novo som que estávamos fazendo. Com a saída do guitarrista Luciano
Garcia, agora éramos um quarteto. Escolhemos o estúdio MR Som e com a
produção do Marcelo Pompeu (Korzus) gravamos esse material e a repercussão não
poderia ter sido melhor. Pouco tempo depois, o guitarrista
Leonardo “Borô” substituiu o Luciano e começamos uma nova fase com muitos
shows. Essa demo foi muito importante para a banda conseguir se reafirmar e viabilizar
a gravação do novo álbum pelo conceituado selo Cogumelo Records. Contudo,
os abusos do Punk durante os shows continuavam e isso causava muito estresse e
problemas de relacionamento. Por esse motivo o Roberto Toledo deixou a banda e
isso foi uma merda, porque ele compunha muito bem e era muito ativo com os
lances da banda. Mas infelizmente, mudanças de formação no SI sempre foram uma
constante e sempre pelo mesmo motivo.
Siegrid Ingrid |
“The Corpse Falls” (1999) – Siegrid Ingrid: Tínhamos que recompor o time e sem demora, o Punk nos apresentou o baixista Luiz Berenguer (Opera). Mantivemos a nossa agenda de muitos shows e em paralelo trabalhávamos compondo o material para o próximo álbum. As músicas estavam mais agressivas, em alguns momentos flertando com o Death Metal e com menos influências do crossover que estava mais presente no início da banda. Estávamos novamente com um entrosamento muito bom, o Evandro Junior trouxe muita técnica e agressividade às composições, o Leonardo Borô também trouxe mais peso na guitarra e o Luiz Berenguer (Soneca) trouxe mais musicalidade e coesão à banda. Para a gravação do segundo álbum, escolhemos mais uma vez o estúdio Mr. Som, e com a produção de Heros Trench (Korzus) iniciamos as gravações do álbum “The Corpse Falls” em junho de 1999. Vale ressaltar que a galera do Korzus sempre apoiou muito o S.I. O Dick Siebert produziu o 7” EP “The Choice”, o Pompeu e o Heros Trench sempre nos apoiaram nas produções, inclusive, o Heros foi meu parceiro de guitarra no show de abertura do Exodus que fizemos em Santos ao lado do MX em 98 sem contar outras oportunidades que tivemos ao lado deles. O álbum foi lançado em dezembro de 1999 pelo já consolidado selo Cogumelo Records. Esse trabalho teve uma ótima recepção, e por consequência fizemos vários shows importantes. Naquela época o extinto canal MTV ainda abria algum espaço para a música pesada e tivemos a oportunidade de participar de entrevistas e de uma edição especial do programa Fúria MTV tocando ao vivo. Também tivemos uma participação no programa Turma da Cultura (TV Cultura SP) tocando ao vivo e trocando ideia com a galera, isso tudo foi muito bacana para nós, outras bandas como Korzus, Claustrofobia, Krisiun, Ratos de Porão também participaram desses programas e de certa forma era um espaço importante para a música pesada. Também tivemos oportunidades de entrevistas em outros meios, além de destaque em entrevistas nas revistas Roadie Crew e Rock Brigade. Enfim, na minha opinião, o melhor trabalho do Siegrid Ingrid e um dos melhores álbuns do estilo já lançados no Brasil. Porém, como eu já havia citado anteriormente, a relação com o Punk por vezes se tornava difícil e em 2002 o guitarrista Borô deixou a banda e aos poucos fomos nos distanciando, cancelando ensaios e por fim a banda mais uma vez se separou. Eu e o Punk ainda fizemos algumas tentativas com outros músicos, mas não tivemos êxito.
Foto: Xulipa |
“The Meaning of Life” (2009) –
Pentacrostic: Depois
que o S.I. acabou, fiquei um bom tempo sem banda me dedicando aos estudos e à
família. Em meados de 2006 comecei a fazer um som com o então baterista do Pentacrostic,
Leandro Gavazzi. Em 2007 durante a gravação do álbum “The Meaning of Life” os
caras da banda me convidaram para gravar alguns solos. Eu já conhecia o Marcelo
Sanctum (vocalista do Pentacrostic) de longa data porque o Skullkrusher
ensaiava no mesmo bairro e estávamos sempre nos trombando nos ensaios e em
shows. Depois de algum tempo eles me falaram que os guitarristas não estavam
mais na banda e me convidaram para entrar para a banda. Começamos uma sequência
de shows, inclusive participamos na abertura do show do Mayhem em SP, além de
uma tour em 2010 com a banda francesa Otargos. Em meados de 2011 deixei a
banda.
Pentacrostic |
“Condemning the Empty Souls”
(2013) – Skinlepsy: Assim
que saí do Pentacrostic comecei a conversar com o Evandro Jr. sobre o retorno
do Skinlepsy. Ele topou e iniciamos um longo período de ensaios colocando novos
arranjos nas 3 músicas que havíamos gravado em 2003 e compondo novo material. A
essa altura éramos apenas eu e o Evandro, na época tínhamos algumas dúvidas
sobre quem seria o vocalista, cogitamos convidar vários amigos de outras bandas
para participar, mas essa opção inviabilizaria que a banda se apresentasse ao
vivo. Foi então que o Marcos (Claustrofobia) nos indicou o Henrique Fogaça, ele
realmente tem um vocal muito poderoso e já estava na ativa com a sua banda
Oitão, com a diferença que as nossas músicas eram em inglês e isso demandaria
uma adaptação. Ocorre que depois de alguns
ensaios começamos a pré-produção do álbum e a agenda profissional do Fogaça
naquela época já era bem agitada. Como já estávamos há algum tempo preparados
para a gravação, optamos por não dar continuidade com ele devido a
incompatibilidade de horários. Como
eu havia composto todas as linhas de voz e a praticamente 99% de todas as
músicas, decidi que gravaria também as vozes. Nesse trabalho gravei as
guitarras, baixos e os vocais. O
Luiz Berenguer que é fotógrafo e havia tocado conosco no Siegrid Ingrid e no Skinlepsy,
foi convencido a voltar à banda durante as sessões de fotos para o encarte do
CD. Contamos ainda com as participações
da Fernanda Lira (Nervosa), Luiz Louzada (Vulcano, Chemical Disaster, Hierarchical
Punishment) e do guitarrista Thiago Schulze (Divine Uncertainty). Apesar de um processo conturbado de
gravação, esse foi um trabalho muito bem recebido e nos rendeu boas
oportunidades de shows e de divulgação no meio underground. Particularmente, esse álbum foi muito
decisivo porque deixamos de ser um projeto para se tornar de fato uma banda. As
músicas são caóticas e evidenciam o nosso propósito de não se prender
exclusivamente ao Thrash Metal, essa é a forma de composição que eu e o Junior
adotamos desde o Siegrid Ingrid, sempre gostamos de mesclar Thrash com algumas
passagens pelo Hardcore e Death Metal. “Condemning the Empty Souls” foi
lançado em 2013 em parceria com a gravadora Shinigami Records e foi gravado nos
estúdios Da Tribo e 44, e contou com a produção do nosso ex-parceiro de banda
Beto Toledo.
“Dissolved”
(2017) – Skinlepsy: Após o período de divulgação do primeiro
álbum, começamos a planejar quais seriam os nossos próximos passos, ou seja,
iniciamos as composições para o novo álbum. Porém, em 2015 tivemos mudanças na formação da
banda: a saída do baixista Luiz Berenguer que decidiu se dedicar exclusivamente
aos seus projetos profissionais, além da entrada do segundo guitarrista,
Leonardo Melgaço (ex-Divine Uncertainty). A entrada do Leonardo deu mais peso e
coesão à banda, principalmente nas apresentações ao vivo, contudo, nos mantemos
como trio até a gravação do “Dissolved” porque não encontramos um baixista. Mais
uma vez a gravação do baixo e vocal ficou sob minha responsabilidade, mas à
essa altura, eu já estava mais seguro para esse processo e conhecendo meu
alcance e limites para gravação da voz. Para falar a verdade esse lance de ser
guitarrista e vocalista não é algo que me deixa à vontade. Nos ensaios e
gravação ok, mas no palco ainda é algo que eu sinto que preciso me acostumar.
De fato, não é algo que eu gostaria de estar fazendo, mas faço por falta de
opção. Por outro lado, não é fácil ter um bom vocalista na sua banda e isso não
se resume apenas ao fato de ter um cara com visual, berrando e agitando a
galera durante os shows. Claro, isso também é importante, mas é preciso
dedicação à parte lírica, ao processo de composição e entender as linhas que
você cria durante as composições. Por esse motivo acabei assumindo esse papel,
mas não sei até quando... Acho que “Dissolved” é um trabalho realmente muito
bom, ele é mais coeso e mais planejado em todos os sentidos, desde o processo
de composição até a produção, que aliás, novamente ficou à cargo de Beto Toledo
e do estúdio 44. “Dissolved” também teve
uma ótima repercussão, mas devido à falta de baixista fixo e a outras demandas
pessoais não tivemos muitas oportunidades de shows para divulgá-lo. Eu e o
Evandro estamos conversando e planejando algo para 2019, mas provavelmente não
será um full álbum, talvez algumas músicas lançadas como single ou um EP. Mas
acredito que nossa história ainda não acabou.
Grande André Gobber parabéns pela sua tragetoria no Metal seu nome já faz parte da historia no metal nacional parabéns mano velho !!!!!
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