Por Vitor Franceschini
É impossível não associar
o nome de Cristiano Fusco (guitarra) ao Torture Squad, já que se trata de um
membro fundador da banda. Porém, o que poucos sabem, é que o músico fundou o
Distort quatro anos depois de sua debandada. Em 2008, já com a Distort, lançou
o álbum “Terror Against Greed”, que pouco repercutiu. Após diversas mudanças de
formação (muitas mesmo), quase dez anos depois, com a chegada do vocalista
Heverton Souza (Imperium Infernale, Eternal Malediction, ex-Warshipper), a
Distort voltou a por a mão na massa, mas preferiu remodela-la. O grupo regravou
o primeiro álbum, que vem atingindo o status que ele merecia. É sobre isso que
conversamos com Cristiano e Heverton, que também falaram sobre o futuro da
banda.
Primeiro,
como e por que a Distort passou por uma reformulação com a entrada de Heverton
Souza (vocal)? Único membro fixo da banda, além do fundador Cristiano Fusco
(guitarra), correto?
Cristiano
Fusco: Várias pessoas passaram pela banda nesses anos, porém
nenhuma delas pôde continuar, seja por projeto pessoal, por falta de
experiência ou desinteresse em tocar esse tipo de música, mas ninguém saiu por
briga ou atrito. Heverton, como conhecido, acabou por tornar-se um membro fixo
principalmente por ser experiente e interessado no som da banda.
Heverton
Souza: Engraçado que, quando comecei os primeiro ensaios, me
sentia já parte daquilo como se estivesse há anos com a banda, sendo que, agora
em 2020 ainda estou completando 4 anos de Distort. Eu acreditava que no Thrash
Metal, por ser um estilo bem popular entre músicos no Brasil, não teríamos
tantos problemas com formações, com músicos capazes e interessados. Engano o
meu! Por sorte, hoje temos de volta exatamente a cozinha original da banda, com
Caio Caruso (baixo) e Thiago Coiote (bateria), sendo que ambos tocam muito, mas
muito mais do que tocavam há doze anos, em sua primeira passagem pelo Distort.
Agora sim, podemos ir aos palcos.
E
por que o Distort não lançou nada durante estes mais de dez anos desde o debut
“Terror Against Greed” (2008)?
C.F.:
Ao longo desse tempo todo foram acho que 14 bateristas, alguns baixistas e dois
vocalistas. Música para um novo CD já tenho há tempos, mas sem uma formação
fixa e comprometida para isso não tem como.
H.S.:
Até daria pra fazer sem os demais músicos, contando com convidados, músicos
contratados, mas o Thrash é muito orgânico, precisa sentir a pegada e a
vibração de cada músico e eles precisam estar integrados ao trabalho da banda
para isso. Sem fixar formação por tantos anos, isso ficou impossível de se
realizar como descrevo.
Exatamente
este debut foi regravado e relançado com a atual formação, além das linhas de
baixo de Daniel Souza (Outlaw). Como surgiu essa ideia e por que a regravação
do trabalho?
C.F.:
Primeiramente são as músicas que já tocamos e havia a linha de bateria gravada,
a ideia principal era substituir o vocal por um mais atual e que casasse com o
som como deveria ser desde o início, e refazer os solos iguais aos moldes em
que toco hoje, já definidos. O resto foi uma questão de praticidade em unir o
útil ao agradável.
H.S.:
Era aquela coisa: “Já que vamos mexer...” No fim, o resultado foi muito
satisfatório, as músicas têm vocais mais agressivos e expressivos, guitarras
mais gordas, solos mais na cara, uma produção que trouxe o som mais pra frente,
mas sem modernices e uma arte gráfica com um conceito pensado para o título.
As
únicas partes não regravadas foram as de bateria. Qual o motivo que os levaram
a mantê-las?
C.F.:
Pelo simples fato de estarem muito bem gravadas, timbradas e regravá-las
ficaria muito caro, isso inviabilizaria esse remake.
H.S.:
Só
o que eu gostaria de ter feito é ter como mixar também a bateria, mas o arquivo
original dela foi gravado em fita, não de forma digital, então ela foi intocável
por toda essa nova produção e foi desafiador trabalhar em cima disso. A
limitação nos deu certa disciplina.
É
claro que, além da produção, o trabalho ganhou diferenciais. Isso se nota
principalmente no dinamismo das composições. Vocês concordam que esse quesito
foi preponderante no disco?
C.F.:
Sim, totalmente, regravei todas as guitarras com muito mais canais, os solos
bem altos também, o baixo poderia ser diferente, visto que o produtor Daniel
não é um baixista. Talvez uma gravação com um baixista, com outro tipo de
equipamento e pegada de baixista, soaria ainda melhor. Mas ele fez um belo
trabalho reproduzindo as linhas e trazendo mais corpo ao baixo na produção.
Além
do mais a versatilidade das linhas vocais de Heverton elevou o patamar de
“Terror Against Greed”, inclusive o aproximando de estilos como Death e Black
Metal, este último do qual o vocalista tem bastante influência. Como foi
encaixar essas linhas em músicas tipicamente Thrash Metal já compostas?
C.F.:
Acho que o Heverton pode explicar melhor, mas adianto que por ser um cara que
curte e conhece muito todas as vertentes, isso pra ele não é problema.
H.S.:
Olha, quando recebi o convite para a banda, confesso que foi engraçado, porque
eu pensava: “Thrash? Caramba, eu não tento nada parecido desde os 13 anos. Será
que sei fazer isso?” (risos). Mas confesso que foi muito mais natural do que eu
poderia imaginar. Figuras como o babaca do Phil Anselmo (risos), me fizeram
querer ser vocalista, ainda moleque. E tenho inspiração enorme por nomes como
Chuck Billy, John Bush, Marco Aro, Dave Padden (pra mim um dos melhores vocais
do Metal), e, claro James Hetfield. São vozes que me cativam e ter a
oportunidade de estar num estilo que me permite usar também dessas influências
hoje, junto às características que eu já trago de mais de 20 anos no meio Black
Metal, é gratificante.
Claro
que as guitarras de Cristiano Fusco soam bem características, afinal é um
músico de estilo próprio e consolidado. Como foi manter essas características,
mas trazer a sonoridade para os tempos atuais?
C.F.:
Acho que tocar Heavy Metal nas guitarras não tem aquela coisa de soar datado, é
uma questão de equipamento, se você tem equipamento bom e uma boa timbragem,
esse é o segredo, o resto está na pegada de cada um, na característica de cada
um também, algo que se constrói ao longo da vida escutando e observando esse
estilo por décadas desde cedo. Agora, quando é forçado, copiado, querendo ser
algo sem ter amadurecido, aí não adianta equipamento nem timbragem excelentes,
o que se produz não tem identidade.
Falando
em tempos atuais, no que as letras de “Terror Against Greed” se encaixam nos dias
de hoje, com a sociedade visivelmente doente, alienada e polarizada
politicamente?
C.F.:
O conteúdo e o contexto são sobre assuntos atuais sim, pobreza, fome, loucura,
corrupção, fanatismo... mas sem pender ou acusar lado nenhum, é uma crítica às
coisas ruins e problemáticas do dia a dia. Seguir ideologia é complicado, se
você quer seguir uma ideologia então respeite a oposição a qual você se opõe,
do contrário você está sendo tão hipócrita quanto aquilo que você está
criticando. Acho que, na vida pessoal, cada um pode ser o que quiser, gostar do
que for e seguir o que for, mas querer ditar regras como se fosse o único lado
certo e usando um meio de comunicação como a música pra fazer a cabeça de
pessoas alienadas, não concordo com isso. É infantil e desonesto demais pra
mim.
H.S.:
São letras simples, diretas e com uma cara do cotidiano de todos nós, sem
querer revolucionar nada ou impor coisa alguma, mas mostrando como o ser humano
é sujo, falho e por vezes simples em toda uma enorme complexidade. São letras
escritas há mais de dez anos, mas que continuam atuais, justamente por trazerem
um conteúdo atemporal.
Agora
falando da arte da capa, é um brilho à parte no álbum. Heverton mesmo cuidou
dela e a baseou no conto “O Sonho dos Ratos”, de Rubem Alves. Como foi a elaboração
da mesma e por que desta inspiração?
C.F.:
Resumindo, o contexto da arte fala exatamente de parte do que eu disse
anteriormente, sempre existirão aqueles que se acham os certos e criticam o
outro lado e quase sempre se aproveitando da ingenuidade das pessoas com
promessas e mais promessas, mas todos quando lá chegam fazem igual ou pior. Um
retrato da hipocrisia.
H.S.:
Falando por mim, não gosto da arte original, lá de 2008, e logo que tive a
ideia de regravar o disco, pensei se eu conseguiria trazer algo que refletisse
a ideia do título, a coisa da ganância humana, que leva a todos a serem
corruptíveis em algum momento, ainda mais na cultura brasileira. Sempre
observei muito as artes de Gustave Doré, apesar de ele não ter recebido tanto
reconhecimento da classe artística do século XIX, por desenhar em uma escala
quase industrial. E, coincidentemente, quando eu pesquisava a ganância, surgiu
uma das imagens dos ratos. Fui em busca de tudo que ele havia desenhado sobre
os ratos e achei “minha história”. Dos meros coitados dados como escória da
sociedade, mas que venceram o topo da pirâmide e chegaram lá em cima. A
história do Rubem Alves, na verdade, veio depois e foi perfeito a forma como
encaixou, afinal, a ganância fez com que, após chegarem lá em cima, os ratos se
tornassem tão imundos e gananciosos quanto quem lá estava antes. Não tive como
deixar de fora do encarte após descobrir esse conto. Uma bela alusão a todo comportamento
humano e um reflexo da história política brasileira. Vale dizer que não sou
artista, designer, nada disso e me arrependo um pouco de ter inventando tudo
isso, porque me deu um trabalho do cão (risos) e ainda depois fiz nosso lyric
video. Mas não nego a satisfação com o resultado, dei sorte em achar as coisas
certas para criar sobre elas e montar toda a arte.
Apesar
de um trabalho atual, “Terror Against Greed” não é inédito. Portanto, há algo
pronto inédito que a Distort pretenda lançar? Quando? Ou estão trabalhando
nisso? Enfim, o que vocês pretendem adiantar aos leitores?
C.F.:
Esse CD é de material que começou a ser composto em 2004, portanto antigo, mas
temos já músicas prontas para um segundo, estamos trabalhando nisso, sim. O
“novo” time está aprendendo as composições e criando seus arranjos, só com isso
finalizado vamos para as gravações, isso talvez esse ano.
H.S.:
O que posso já adiantar é que teremos músicas bem mais diretas, mais curtas e
mais brutas. E poder criar minhas letras, faz com que eu também consiga
melhorar as linhas vocais para algo mais cativante, sem perder a agressividade.
Fora que, Caio e Thiago são músicos muito melhores hoje que quando estiveram na
primeira formação, então seus arranjos são incríveis atualmente. E nem vou
comentar os riffs, porque Cristiano parece uma máquina de riffs. Sairá um belo
trabalho quando formos em estúdio.
E
quais os planos, além de compor, para 2020?
C.F.:
Queremos tocar mais ao vivo, minha agenda e a dos caras são meio complicadas,
eu viajo quase todo final de semana saindo de São Paulo para minha casa em Foz
do Iguaçu/PR, outro estado, por isso a agenda da banda acaba sendo complicada,
mas não impossível, então queremos tocar e aguardamos convites pra isso.
H.S.:
Os planos são palco, palco e palco. “New Terror Against Greed” foi lançado de
forma independente, num digipack bem legal, então não só merece ter as músicas
em palco, mas ter seu CD vendido para a galera. E nada melhor que shows para
isso.
Sim, temos uma agenda complicada por Cristiano dividir-se entre São Paulo e Foz do Iguaçu, mas também porque todos temos outras atividades, inclusive na música. Porém, impossível não é! Só nos resta sermos convidados aos palcos para ajeitarmos isso. Estreamos a formação em outubro do ano passado e saí do palco muito feliz com o resultado de como a banda toda se sai muito bruta e coesa ao vivo. Queremos repetir isso logo.
Sim, temos uma agenda complicada por Cristiano dividir-se entre São Paulo e Foz do Iguaçu, mas também porque todos temos outras atividades, inclusive na música. Porém, impossível não é! Só nos resta sermos convidados aos palcos para ajeitarmos isso. Estreamos a formação em outubro do ano passado e saí do palco muito feliz com o resultado de como a banda toda se sai muito bruta e coesa ao vivo. Queremos repetir isso logo.
Muito
obrigado pela entrevista, podem deixar seu recado!
C.F.:
Agradeço imensamente pela oportunidade e espero realmente que possamos em breve
estar aqui comentando do novo trabalho. Muito obrigado a todos!
H.S.:
Vitão já me conhece de anos, um grande parceiro desse meio que consegue
persistir quando tantos de nós já estamos cansando e parando pelo caminho. Só
posso agradecer por seguir o trabalho, por ter nos dado o espaço e torcer para
que a galera siga lendo e apoiando seu trabalho, porque só assim nós músicos
seguimos tendo espaços como esse para divulgar nossa música. Mais uma vez
convido a nos convidarem (risos) para tocarmos. Também convido a todos para
seguirem as redes sociais da banda e acompanharem nossos trabalhos, assim como
para assistirem ao lyric video da música “Modern Slave”. Obrigado e voltamos
logo mais, com novidades!
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