Por Vitor Franceschini
O Metal e o ‘metaleiro’
(falo assim, e pouco me importo se você acha ruim) é nostálgico. Às vezes até
demais. Porém, nem sempre isso é ruim. Se a gente souber lidar com o passado,
preservando o presente e valorizando o futuro, isso é totalmente viável e
prazeroso. Afinal, não tem como não sentir saudade das coisas boas que se
foram, muito menos deixar de viver o agora e nos prepararmos para o amanhã.
Revirando meu bagunçado
arquivo de publicações, certa hora tive que ir ao banheiro (desculpe os
detalhes, mas tem que ser dito), passei a mão em uma revista, sem ver, até
porque não uso smartphone sentado no vaso, e fui cumprir minhas necessidades.
Até que olhei para a capa e o ano, quando pensei: “poxa, essa não é tão velha
assim, queria ler uma mais velha”.
Eis que, pro meu espanto,
calculei, e lá se foram mais de 20 anos desde aquela edição, que era mais
precisamente de novembro de 2000. Trata-se de uma tradicional Rock Brigade, talvez no final de seu
auge. Falando em auge, pela capa (na foto acima), nota-se como o Power Metal
estava estourando. O Rhapsody (hoje Rhapsody of Fire, que na época eu tinha
pavor) estampa a capa, com os destaques sendo o Hammerfall e os pais disso tudo, o Helloween. O pôster vinha com o Symphony X, ícone da mescla Prog/Power Metal, e nos anúncios cartazes
de shows de fenômenos italianos do estilo como Labyrinth e Vision Divine,
convocando o público para a invasão italiana.
Pois bem, voltando ao
assunto ‘nostalgia’, no Heavy Metal se celebra muito os anos 80 e com razão. Pois
foi rica para o estilo, atingiu o ‘mainstream’ e cresceu junto com o surgimento
da MTV e dos videoclipes. Além
disso, foi uma era de troca intensa de material e de uma tecnologia (K7, vinil)
que perdura até hoje e envolve todo um ritual para se consumir música.
Mas, além dos anos 90
como um todo, o início dos anos 2000 também traz ótimas lembranças. Ainda não
vivíamos a era das redes sociais, apesar dos fóruns em sites especializados
começarem a gatinhar por aqui. Então, ainda havia o alto consumo de material
físico e trocas de fitas (famosas ‘trade tapes’) e muita correspondência.
Falando nisso, na mesma
edição da revista que folheei, fui direto para as cartas. Lá, em letras
minúsculas, os editores davam espaço para fóruns sem assuntos específicos e o
negócio era extremamente hilário. Tretas que duravam edições, imagina só, o
sujeito intimando uma galera e a resposta vindo somente na edição seguinte,
quando vinha. Coisa do tipo: “o cara que escreveu tal assunto na edição
passada, mora na minha cidade, é um poser, começou a ouvir som ontem”, João da
Silva de Pindamonhangaba/SP. Ou algo como “Eu queria conhecer a Suzie que disse
que gosta do Bon Jovi na edição de agosto”, Manoel Souza de Macaé/RJ... Isso
tudo num material impresso. Sensacional!
Sem contar a seção de
correspondências (do qual participei e muito na época, preservando contatos até
hoje, só que pelas redes sociais). Nela, anúncios do tipo: “Sou amante das trevas
e ouço Katatonia, Paradise Lost e afins, se você curte esses sons e gosta de
tomar vinho no cemitério, encontrou a pessoa certa. Mas somente para amizade!”,
Mônica Pires, Salvador/BA. Ou, “O Punk vai salvar o mundo, curto sons como
Cólera, GBH e Greem Day, se você quer salvar o mundo comigo, entre em contato”,
José Pereira, Rio Branco/AC. Tudo com direito a endereços residenciais, sem
medo de ser feliz.
Na seção negócios, os
anúncios de trocas de K7, CD´s e LP’s, além de prestações de serviços, desde gravações
caseiras, passando por luthieria, entre outros. Também tinha a seção de bandas,
para contatos imediatos e afins. Uma época mágica, onde, apesar do
distanciamento da situação político/social dos cidadãos, as coisas eram mais
pacíficas e menos polarizadas, neste último caso, muito menos.
Enfim, esse texto foi só
para relatar isso mesmo, mas também para ponderar um pouco as coisas, além de
valorizar o passado. Os tempos mudam, as coisas se adaptam, mas a grande
maioria de nós humanos, neste mundo, somos sobreviventes e dependemos muito uns
dos outros, por isso respeito, caráter e tolerância são fundamentais,
principalmente em tempos caóticos, onde o ódio ganhou vozes intensas, inclusive
no poder.
Obs.: os nomes das
pessoas aqui mencionados são fictícios.
*Vitor
Franceschini é editor do ARTE Metal, jornalista graduado, palmeirense e
headbanger que ama música em geral, principalmente a boa. Na época editava o
fanzine Goredeath Zine.
Nenhum comentário:
Postar um comentário