terça-feira, 15 de junho de 2021

In Lo(u)co: E as camisetas de bandas?


 

Por Adalberto Belgamo

 

Que jogue a primeira pedra quem nunca usou a camiseta certa no lugar errado! Primeiramente, nunca fui ligado à moda. Na realidade, não sei combinar roupa, cores e tecidos. Visto o que estiver na minha frente. Tenho a sorte e a oportunidade de poder trabalhar de bermudas. Quem não me encontra no inverno, imagina que eu não uso calças (risos). A única vez que estive na “crista da onda fashion” foi nos anos 90, por causa das camisas de flanela. Venho de uma família rural (com muito orgulho!) e, portanto, sempre usei quadriculado e flanela. Nada de novo pra mim (risos).

Não suporto comprar roupas, nem quando preciso. Um salve para as lojas online! Apesar de raramente comprar algo “necessário” (prefiro ganhar), os provadores virtuais são uma benção para “bonecões de Olinda”. Já cheguei a quebrar um espelho em uma cabine, a qual chamo de porta de entrada do inferno, principalmente no verão!

Mas voltando às camisetas de bandas, filmes, seriados e livros... Nos anos 80, era difícil encontrar na minha cidade para comprar. Apareciam algumas nas feiras, ou tinha de esperar alguém ir para São Paulo. Logicamente, a numeração nunca batia. Ou virava baby look, ou cabiam umas três pessoas na peça. A solução era pintar ou pedir para alguém fazer o serviço.

A primeira, que comprei, foi uma do Kiss, no show de 1983. Oficial? Nem pensar! Consegui uma do “Creatures of the Night” ‘silkada’ em um saco de açúcar, transformado em camiseta! “Agora eu ‘se’ consagro!”. Não tirava a camiseta do corpo. Fui (ou melhor me enfiaram em) a uma festa na casa de uns ‘bacanas’ da cidade. Em certo momento, saí para fumar (cigarro... será? – risos) na calçada. Uns dez minutos depois, apareceu um garçom com um pratinho coberto com papel alumínio. Ele pensou que eu fosse algum tipo de andarilho ou qualquer outra coisa, por causa da camiseta. “Fique com Deus! As coisas vão melhorar!”. Surreal! (risos)

Uma banca de revistas famosa da cidade resolveu vender uma camiseta do Iron. Bonita, mas impossível de usar. Não era silk. Imaginem uma Eddie, que pegava a frente toda da camiseta. O material usado parecia um plástico duro. Vestir a “danada” no calor era uma aventura. A gola era pequena, o que dificultava entrar o cabelo “Playmobil” (risos). Depois de assentada, começava a sauna. A Eddie grudava no corpo. Nem mesmo na frente do ventilador a sensação de incêndio desaparecia. Infelizmente, ela morreu queimada. Estava fumando (cigarro... será?) deitado e o cigarro – não sei como – caiu da minha boca e percorreu a coitada da mascote. Morte triste. (risos).

Outra camiseta que eu adorava era uma branca do “Ride The Lighting” (Metallica). “Sumiram” com ela, depois de tantos remendos para tapar os buracos e rasgos (risos).

Uma famosa foi a do Vodu, banda paulistana. Comprei duas na mesma cor: azul. Então, para os que achavam que eu usava a mesma camiseta todo final de semana (risos), a mágica está finalmente, revelada! (NE: viu Zaba! – risos)

Dei aulas por mais de 20 anos. Só situações pitorescas (risos). Sala com 90% dos alunos evangélicos. Eu aparecia com camiseta do Bad Religion. Alguns até se afastavam quando eu chegava perto das carteiras deles.

Fui paraninfo de uma turma de EJA (Ensino de Jovens e Adultos). A única coisa que me pediram era não ir de bermudas. Não sou tão sem-noção assim (risos). Coloquei calças, uma camiseta do Black Sabbath e tênis. Usei sapatos, no máximo, umas cinco vezes na minha vida, inclusive de terno. Dizem que é moderno, ou ficam com pena e não falam nada. Enfim, na mesa das “autoridades” estavam o Prefeito, o Secretário da Educação, entre outros. Todos bem vestidos. Nas fotos “oficiais” só aparece a minha cabeça.

Antes da eleição do “inominável”, o “cidadão de bem” já estava emergindo das profundezas dos esgotos. Em uma das escolas, onde lecionei, havia uma professora substituta por duas semanas. Estava eu com outra camiseta do Sabbath (“Heaven and Hell”) e entrei na sala dos professores na hora do intervalo. A “educadora” já olhou de cima em baixo com cara de “ivermectina” (risos) e começou com o discurso da invasão islã-comunista. Surreal! Com certeza, não sabia o que era o Islamismo, muito menos o comunismo. Meca comunista!

Raramente me irrito com essas conversas, mas naquele dia estava com o Casco Rachado no corpo. Esperei uma deixa de uma amiga e levantei. “Onde você vai?”, perguntou-me minha amiga, já sabendo que eu assustaria a “professorinha”. “Vou passar na brinquedoteca, pegar um colchãozinho e ir para o estacionamento. São dez horas da manhã. Tenho de virar para a Meca e fazer minhas orações.”

No outro dia fui com uma camiseta muita velha (mas muito mesmo; de preta já estava cinza - risos) do “To Mega Therion” (Celtic Frost). Sim. Queria ver a reação da futura “cloroquiner. Nos 15 dias em que ela ficou na escola, não passava perto de mim e fazia o almoço na cozinha, sozinha (risos).

Meses depois, tive de ir ao RH da prefeitura (sou servidor municipal). Estava com uma camiseta “vermelha” do Sheldom do “The Big Bang Theory”. A campanha para as eleições municipais na época já era uma luta contra o comunismo satânico gaysista do foro de São Paulo.

Vermelho? Comunista satanista! Sheldom? Gaysista! Pronto, segundo um ‘aspone’, estava eu provocando a administração, se já não bastassem as participações nas greves e os discursos antissistema. O leite de ornitorrinco sagrado da Amazônia desse povo já devia estar com o prazo de validade vencido (risos).

Na mesma época, fui pela primeira vez na casa de uma ex-namorada. Usava uma camiseta do Johnny ‘God’ Cash, a famosa como o dedo médio em riste. Família tradicional e católica. Além de olharem com estranheza, ao cumprimentar a mãe da moça com os beijinhos no rosto, não sei como, derrubei os óculos da mulher. A entrada na família não foi triunfal! (risos)

No museu, pensei que as coisas seriam diferentes. Mais ou menos. Atendi uma escola pentecostal com uma camiseta do Agnostic Front. Em outra ocasião, estava na recepção, esperando alguém aparecer. Eis que surge um casal. Levantei-me, tirei os fones do ouvido e fui recebe-los. Estava com uma camiseta do Hellside, da qual a senhora não tirava os olhos. A situação ficou ainda mais engraçada, quando o marido (acho eu) me perguntou o que eu estava ouvindo. Eu, “Cannibal Corpse”. Ele, “mas corpse não é cadáver?” Eu, “Sim.”. Associou o nome todo. Não esperaram nem eu mostrar o famoso crânio indígena de aproximadamente 500 anos (encontrado em Olímpia/SP), nem as famosas pegadas de dinossauro. Assinaram o livro de visitas com “letra de médico”. Então, é isso. Se alguém quiser doar umas “peitas”, aceito tamanho GG de coração! (risos)

 

Inté!

 

*Adalberto Belgamo é professor, atuando no museu (sem ser peça... ainda - risos), colaborador do Arte Metal, além de ser Parmerista, devorador de música boa, livros, filmes e seriados. Um verdadeiro anarquista fanfarrão.

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