Por Adalberto Belgamo
Que jogue a primeira
pedra quem nunca usou a camiseta certa no lugar errado! Primeiramente, nunca
fui ligado à moda. Na realidade, não sei combinar roupa, cores e tecidos. Visto
o que estiver na minha frente. Tenho a sorte e a oportunidade de poder
trabalhar de bermudas. Quem não me encontra no inverno, imagina que eu não uso
calças (risos). A única vez que estive na “crista da onda fashion” foi nos anos
90, por causa das camisas de flanela. Venho de uma família rural (com muito
orgulho!) e, portanto, sempre usei quadriculado e flanela. Nada de novo pra mim
(risos).
Não suporto comprar
roupas, nem quando preciso. Um salve para as lojas online! Apesar de raramente
comprar algo “necessário” (prefiro ganhar), os provadores virtuais são uma
benção para “bonecões de Olinda”. Já cheguei a quebrar um espelho em uma
cabine, a qual chamo de porta de entrada do inferno, principalmente no verão!
Mas voltando às camisetas
de bandas, filmes, seriados e livros... Nos anos 80, era difícil encontrar na
minha cidade para comprar. Apareciam algumas nas feiras, ou tinha de esperar
alguém ir para São Paulo. Logicamente, a numeração nunca batia. Ou virava baby
look, ou cabiam umas três pessoas na peça. A solução era pintar ou pedir para
alguém fazer o serviço.
A primeira, que comprei,
foi uma do Kiss, no show de 1983.
Oficial? Nem pensar! Consegui uma do “Creatures of the Night” ‘silkada’ em um
saco de açúcar, transformado em camiseta! “Agora eu ‘se’ consagro!”. Não tirava
a camiseta do corpo. Fui (ou melhor me enfiaram em) a uma festa na casa de uns ‘bacanas’
da cidade. Em certo momento, saí para fumar (cigarro... será? – risos) na
calçada. Uns dez minutos depois, apareceu um garçom com um pratinho coberto com
papel alumínio. Ele pensou que eu fosse algum tipo de andarilho ou qualquer
outra coisa, por causa da camiseta. “Fique com Deus! As coisas vão melhorar!”.
Surreal! (risos)
Uma banca de revistas
famosa da cidade resolveu vender uma camiseta do Iron. Bonita, mas impossível de
usar. Não era silk. Imaginem uma Eddie, que pegava a frente toda da camiseta. O
material usado parecia um plástico duro. Vestir a “danada” no calor era uma
aventura. A gola era pequena, o que dificultava entrar o cabelo “Playmobil”
(risos). Depois de assentada, começava a sauna. A Eddie grudava no corpo. Nem
mesmo na frente do ventilador a sensação de incêndio desaparecia. Infelizmente,
ela morreu queimada. Estava fumando (cigarro... será?) deitado e o cigarro –
não sei como – caiu da minha boca e percorreu a coitada da mascote. Morte
triste. (risos).
Outra camiseta que eu
adorava era uma branca do “Ride The Lighting” (Metallica). “Sumiram” com ela, depois de tantos remendos para tapar
os buracos e rasgos (risos).
Uma famosa foi a do Vodu,
banda paulistana. Comprei duas na mesma cor: azul. Então, para os que achavam
que eu usava a mesma camiseta todo final de semana (risos), a mágica está
finalmente, revelada! (NE: viu Zaba! – risos)
Dei aulas por mais de 20
anos. Só situações pitorescas (risos). Sala com 90% dos alunos evangélicos. Eu
aparecia com camiseta do Bad Religion.
Alguns até se afastavam quando eu chegava perto das carteiras deles.
Fui paraninfo de uma
turma de EJA (Ensino de Jovens e Adultos). A única coisa que me pediram era não
ir de bermudas. Não sou tão sem-noção assim (risos). Coloquei calças, uma
camiseta do Black Sabbath e tênis.
Usei sapatos, no máximo, umas cinco vezes na minha vida, inclusive de terno.
Dizem que é moderno, ou ficam com pena e não falam nada. Enfim, na mesa das
“autoridades” estavam o Prefeito, o Secretário da Educação, entre outros. Todos
bem vestidos. Nas fotos “oficiais” só aparece a minha cabeça.
Antes da eleição do
“inominável”, o “cidadão de bem” já estava emergindo das profundezas dos
esgotos. Em uma das escolas, onde lecionei, havia uma professora substituta por
duas semanas. Estava eu com outra camiseta do Sabbath (“Heaven and Hell”) e
entrei na sala dos professores na hora do intervalo. A “educadora” já olhou de
cima em baixo com cara de “ivermectina” (risos) e começou com o discurso da
invasão islã-comunista. Surreal! Com certeza, não sabia o que era o Islamismo,
muito menos o comunismo. Meca comunista!
Raramente me irrito com
essas conversas, mas naquele dia estava com o Casco Rachado no corpo. Esperei
uma deixa de uma amiga e levantei. “Onde você vai?”, perguntou-me minha amiga,
já sabendo que eu assustaria a “professorinha”. “Vou passar na brinquedoteca,
pegar um colchãozinho e ir para o estacionamento. São dez horas da manhã. Tenho
de virar para a Meca e fazer minhas orações.”
No outro dia fui com uma
camiseta muita velha (mas muito mesmo; de preta já estava cinza - risos) do “To
Mega Therion” (Celtic Frost). Sim.
Queria ver a reação da futura “cloroquiner. Nos 15 dias em que ela ficou na
escola, não passava perto de mim e fazia o almoço na cozinha, sozinha (risos).
Meses depois, tive de ir
ao RH da prefeitura (sou servidor municipal). Estava com uma camiseta
“vermelha” do Sheldom do “The Big Bang
Theory”. A campanha para as eleições municipais na época já era uma luta
contra o comunismo satânico gaysista do foro de São Paulo.
Vermelho? Comunista
satanista! Sheldom? Gaysista! Pronto, segundo um ‘aspone’, estava eu provocando
a administração, se já não bastassem as participações nas greves e os discursos
antissistema. O leite de ornitorrinco sagrado da Amazônia desse povo já devia
estar com o prazo de validade vencido (risos).
Na mesma época, fui pela
primeira vez na casa de uma ex-namorada. Usava uma camiseta do Johnny ‘God’ Cash, a famosa como o dedo
médio em riste. Família tradicional e católica. Além de olharem com estranheza,
ao cumprimentar a mãe da moça com os beijinhos no rosto, não sei como, derrubei
os óculos da mulher. A entrada na família não foi triunfal! (risos)
No museu, pensei que as
coisas seriam diferentes. Mais ou menos. Atendi uma escola pentecostal com uma
camiseta do Agnostic Front. Em outra
ocasião, estava na recepção, esperando alguém aparecer. Eis que surge um casal.
Levantei-me, tirei os fones do ouvido e fui recebe-los. Estava com uma camiseta
do Hellside, da qual a senhora não
tirava os olhos. A situação ficou ainda mais engraçada, quando o marido (acho
eu) me perguntou o que eu estava ouvindo. Eu, “Cannibal Corpse”. Ele, “mas corpse não é cadáver?” Eu, “Sim.”.
Associou o nome todo. Não esperaram nem eu mostrar o famoso crânio indígena de
aproximadamente 500 anos (encontrado em Olímpia/SP), nem as famosas pegadas de
dinossauro. Assinaram o livro de visitas com “letra de médico”. Então, é isso.
Se alguém quiser doar umas “peitas”, aceito tamanho GG de coração! (risos)
Inté!
*Adalberto Belgamo é professor, atuando no museu (sem ser peça... ainda - risos), colaborador do Arte Metal, além de ser Parmerista, devorador de música boa, livros, filmes e seriados. Um verdadeiro anarquista fanfarrão.
Sensacional!
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