sexta-feira, 6 de agosto de 2021

Hellion Records: 30 anos dedicados a Heavy Rock mundial!


 

Por Vitor Franceschini

Trabalhar no meio Rock e Heavy Metal no Brasil não é para qualquer um. Parece clichê, mas amor e dedicação é o mínimo que se pode ter para tocar um negócio por tanto tempo. Se para as bandas somente isso não basta, imagina para quem realmente vive disso, ou seja, coloca comida na mesa mesmo! Pois então, a Hellion Records, uma das mais antigas lojas do cenário nacional, completou 30 anos justamente no ano mais difícil de nossas vidas, 2020. Também selo, a gravadora foi pioneira em alguns lançamentos, se adaptou ao mercado e continua firme e forte na sua missão. Falamos com Moises Della Monica, que contou um pouco dessa história nas próximas linhas.

 

Vamos do início e provavelmente você respondeu algumas perguntas que faremos aqui diversas vezes (risos). Mas como começou a sua paixão pelo Rock e Metal?

Moises Della Monica: A música sempre foi uma das minhas maiores paixões mas o Rock começou a fazer parte da minha vida quando ouvi o primeiro álbum do Van Halen, que para mim até hoje salvou o Rock da decadência do final dos anos 70.

 

Antes da Hellion Records, você chegou a trabalhar no cenário de alguma forma? Com o quê?

Moises: Eu tinha um fã-clube chamado Heavy Metal Maniac, tínhamos uma loja em São Bernardo do Campo (ABC). Também produzíamos shows no Aeroviários com bandas como Sepultura, Ratos de Porão, MX, Revenge, Viper, entre outras, além de lançar o LP do Avenger alemão, “Prayers of Steel” (1985) e mais alguns álbuns em LP e CD.

 

E como surgiu a Hellion? Houve alguma necessidade de trabalho ou foi por pura paixão a música? Ou até a junção das duas coisas?

Moisés: Em 1989, quando o Sepultura estourou na Europa, conheci o dono da Hellion na Alemanha, que apenas vendia LPs por mala direta. Ele ficou louco para conseguir LPs do Sepultura e levamos vários para lá. Na época não tínhamos mais loja e ele sugeriu que abríssemos uma loja e colocasse o nome de Hellion. Nós gostamos da ideia e em 1990 inauguramos a primeira loja no segundo andar da Galeria do Rock.

 

O segundo álbum do Dream Theater, "Images and Words", foi a primeira distribuiçao bombástica do selo no Brasil

E quando você fundou o selo, imaginava lançar o que lançou, produzir o que produziu e chegar onde chegou?

Moises: No começo a Hellion surgiu mais como loja, mas apesar de gostar muito de atender clientes, nunca gostei de ficar atrás do balcão sentado esperando clientes entrar. Sempre tive esta necessidade de conhecer bandas novas e foi a partir dai que a Hellion como selo foi crescendo.

 

Um selo de Rock e Heavy Metal, até os dias atuais, é algo difícil de se manter. Qual seria o segredo para perdurar por tanto tempo e ainda mais totalmente na ativa, como a Hellion está até hoje?

Moises: Realmente é muito difícil, principalmente no Brasil onde ter um negócio próprio já é difícil e crescer fazendo isso é mais difícil ainda, quase inviável. Acredito que o segredo é sempre seguir em frente, mesmo com tantas dificuldades que passamos nestes 30 anos. Tivemos que nos adaptar a várias mudanças durante todo este trajeto.

 

Agora falando um pouco das adaptações do mercado. No início da Hellion, especificamente no Brasil, o CD estava ganhando força. Mesmo assim, ainda havia o consumo do vinil e fitas K7. Como foi esse período?

Moises: Quando começamos o vinil ainda era forte, tanto que lançamos álbuns do Burzum, Bathory, Immortal, Samael, Katatonia, entre outros. Até o Dream Theater (“Images & Words” de 1992) foi “lançado” pela Hellion em 1992, digo lançado entre aspas pois encomendamos 1000 peças do vinil em parceria com as lojas Music House e Rock Machine. A Warner na época nem pensava em lançar Dream Theater por aqui e como o vinil ainda tinha força naquela época, bancamos e compramos 1000 cópias em exclusividade. Depois veio o boom do CD, alguns lançados pelas ‘majors’ de forma bem ruim, sem encarte, sem nada. Obviamente hoje não vendemos mais CDs como antes, mas tudo é mais cuidadosamente pensado para ter um lançamento bem caprichado, pelo menos é o que nós e outros selos independentes estão fazendo.

 

Debut dos suecos do Katatonia, lançado em vinil e CD pela gravadora

E essas mudanças no mercado da música foram ainda mais rápidas na segunda metade dos anos 90 e início dos anos 2000 com a chegada dos arquivos da internet. Também gostaria que falasse sobre essa época?

Moises: Sim, tivemos que nos adaptar a isso, mas acredito que quem realmente ama a música não se contenta em ficar só baixando músicas, o fã quer ter o produto na mão para curtir tudo o que envolve esta arte apaixonante.

 

Aliás, até hoje e ainda mais, o streaming, o MP3 e afins já são definitivamente novas formas de consumir música. Já sabendo dessa mudança. Vocês, que trabalham com material físico, como se adaptam?

Moises: Como disse antes, nos adaptamos procurando caprichar nos lançamentos em CD, sabendo que não vamos vender como antes, mas lidamos com um público muito fiel e que realmente ama a música.

 

A Hellion foi responsável por muitos lançamentos, tanto grandes, como médios e até mais undergrounds, internacionais e nacionais. Destes, quais ficaram mais marcados pra você, assim como para o próprio selo?

Moises: Falando de um modo bem genérico, o que marcou foi a Hellion ter começado a lançar muito Metal extremo no início dos anos 90, quase todos em LP, também lançamos muitas bandas de Prog Metal e Gothic Metal. Em relação a nomes, posso citar alguns (com a certeza de que vou esquecer de outros... risos) como Samson, Mercyful Fate, King Diamond, Dio, Symphony X, Within Temptation, Epica, Whitesnake, Motorhead, Judas Priest, Dream Theater, Geordie, entre outros.

 

O combo King Diamond / Mercyful Fate foi um dos mais recentes e bombásticos lançamentos do selo

E vocês chegaram a produzir eventos também? Além de citar os mais importantes, queria que falasse um pouco do trabalho desenvolvido neste setor?

Moises: Em relação a eventos, trouxemos o Symphony X em 2000, o Tristania em 2002 e em 2005 trouxemos Evergrey, Pain Of Salvation, Kamelot e Epica. Todos eles pela primeira vez no Brasil e nos orgulhamos de praticamente termos revelado quase todas elas. Tirando o Kamelot, todas elas eram totalmente desconhecidas por aqui. E nossa proposta e o nosso prazer é este, lançar e divulgar novas bandas por aqui e se possível trazer elas para shows.

 

É clichê perguntar como era há 30 anos em relação a hoje. Mas, o que deveria ser feito para que os selos expressivos do Brasil, como a Hellion, pudessem voltar a desenvolver esse trabalho mais amplo, do tipo lançar álbuns e produzir os shows das bandas lançadas no país? Incluindo eventos com bandas nacionais?

Moises: Muita coisa mudou de lá pra cá tanto para o bem como para o mal... (risos) Naquela época a maneira como as pessoas curtiam música era bem diferente do que é hoje, mas o Rock continua mais vivo do que nunca e quem se propõe a trabalhar duro com certeza vai colher bons frutos.

 

Sempre resgatando nomes clássicos do Metal mundial

Uma característica da Hellion Records, principalmente hoje em dia, é resgatar alguns nomes ‘cults’ dos anos 80. Bandas como Overdrive, Riff Raff, só pra citar alguns exemplos... Isso me parece algo bem pessoal, apesar de inegáveis qualidades das bandas. Enfim, como surge essa oportunidade de relançar e o intuito disto?

Moises: Pode até ser pessoal e é mesmo... (risos) Mas existem muitas bandas legais “esquecidas” ou que não tiveram a sorte de ter um bom contrato com boas gravadoras. Inclusive muitas delas faliram e ninguém sabe com quem ficaram os direitos. Nós estamos sempre atentos a bandas que se sentem felizes de ter alguém como nós interessados em lançar um material que muitos nem sabem que existem. O Riff Raff, por exemplo, teve uma ótima aceitação por aqui, agora pouco lançamos o Thunderfire que vai pelo mesmo caminho.

 

Outro fator importante. A Hellion sempre deu espaço às bandas nacionais, tanto revendendo, quanto lançando material. Claro que vocês acreditam no nosso cenário. De qualquer forma, parece que o público aceita as nossas bandas com mais resistência, concorda? A que você acha que se deve isto?

Moises: Sempre digo que o brasileiro só dá valor para uma banda nacional se ela faz sucesso lá fora, então quem começa pelo exterior tem mais chances de vingar por aqui, com raríssimas exceções. Nós já fizemos muito pelas bandas nacionais que lançamos, já produzimos álbuns, shows, hoje infelizmente não é mais possível produzir bandas e com a pandemia ficou mais difícil promover shows, é uma pena, mas é a dura realidade.


De qualquer forma, continuam trazendo trabalhos de grandes nomes ao mercado nacional, como os últimos relançamentos especiais do Mercyful Fate / King Diamond... Essa importante abrangência não só de estilos, mas também de dimensão, seria a principal característica da Hellion?

Moies: Sim, sou uma pessoa que ama a música, não consigo imaginar a vida sem música e gosto de praticamente todos os estilos e isso reflete na grande variedade de estilos lançados pela Hellion, e claro, é um prazer enorme lançar títulos tão grandiosos como Samson, Mercyful Fate, King Diamond, Judas Priest, Dream Theater, entre outros.

 

Girlschool vem aí

E agora, pra gente fechar, os tempos atuais, com polarização política, pandemia e uma sociedade bem enferma, como está o trabalho da Hellion? E quais os planos?

Moises: Eu procuro ficar a parte de tudo isso, respeitando as pessoas, tomando todos os cuidados e trabalhando muito para manter a chama de nossa paixão pela música acesa. Nossos planos são continuar a buscar lançar bandas novas e bandas consagradas. Temos planos para shows, mas só nos resta aguardar como vai ficar toda esta questão de eventos.

 

http://www.hellion.com.br/

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