quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Entrevista



Tocar Rock no Brasil não é fácil. Tocar Rock pesado, sem cunho comercial e mesclando com diversos gêneros, incluindo Metal, fica mais difícil ainda. O Visagem faz exatamente isso e com muita qualidade vem divulgando seu primeiro disco auto intitulado. Falamos com o power trio Fabiano Vênkoff (vocal/baixo), Paulo Zumby (bateria) e Caio Caê (guitarra) sobre tudo que envolve a banda, além do atual mercado fonográfico e na dificuldade de se fazer Rock em nossas terras. Boa leitura!

Vocês mesclam vários estilos dentro do próprio Rock. Sei que é ruim se rotular, mas como definiriam a sonoridade da banda?
Fabiano Vênkoff: É difícil definir, até porque a proposta é misturar mesmo. Nas músicas novas misturamos até salsa. Nossa vertente mais evidente, na minha opinião, é o Stoner. Mas no final é tudo Rock mesmo!
Paulo Zumby: Para mim não tem definição, é Rock ‘N’ Roll!
Caio Caê: Eu defino o som da banda como Rock também, é pensando nisso que a gente coloca tantos elementos de várias vertentes. O Rock permite essa diversidade.

“Visagem” mostra bem essa mescla de estilos. Há características que vão desde o Rock Nacional passando pelo Alternativo até com o peso do próprio Metal. Mesmo assim o som da banda soa acessível sem nenhuma veia comercial. Vocês concordam com isso?
Fabiano: Sim. Não seguir nenhuma tendência é o mais importante pra gente, mesmo assim é quase impossível se desligar das influências. Acho que a gente achou um meio termo. Agora é evoluir dentro disso.
Paulo: Concordo, é isso o que procuramos, ser acessível sem ser comercial.
Caio: Concordo! Ainda existe muita discussão sobre ser acessível e ser comercial. A música do Visagem sai muito fluente, não colocamos nada a mais que possa incrementar o nosso trabalho de uma forma desnecessária. O recado é dado como deve ser dado.

Outro fator importante a se destacar é que mesmo mesclando essas influências, as composições soam atuais. O que podem nos falar sobre isso?
Fabiano: Acho que pode ter a ver com a mistura dos estilos, talvez isso faça a música soar pouco familiar ou diferente de alguma forma. Seja o que for, é involuntário.
Caio: Eu acho que esse é o grande lance do Rock, pegar aquilo que a gente cresceu ouvindo, assimilar, mastigar, e depois jogar pra fora acrescentando nossa visão sobre tudo isso, com a nossa vivência. Por isso que deve soar atual e com marcas das nossas principais influências.

O disco possui ótimas composições como A Corte e O Sabor de Ontem, mas acredito que Mundo Novo é um hit imediato. Vocês têm alguma música preferida no álbum?

Fabiano: O Sabor de Ontem na veia!
Paulo: Não tenho uma preferida, curto todas, cada uma tem um elemento dos estilos musicais que eu gosto.
Caio: Cara, antes de entrar na banda eu já era fã. As minhas favoritas são Mundo Novo, O Sabor de Ontem e A Corte, mas gosto muito de todas!

Vocês disponibilizaram “Visagem” para download gratuito. Como vêem esse tipo de formato virtual de música hoje em dia?
Fabiano: Sou positivo quanto a isso, mas vejamos pelo ponto de vista mais realista: De forma geral isso democratizou o espaço, o que pode soar bem na primeira, mas com isso “qualquer um” virou artista. “muita janela pra poucas vista”. E com tanta gente disputando atenção, ganha quem pode mais. O público de forma geral ainda está estigmatizado com tudo o que é servido na grande mídia. Usa-se a internet pra procurar o que viu na TV. Os padrões, qualidade de produção, “o médio vendido como máximo”. Tudo isso minimizou o valor artístico. Vender música já é algo inviável. Esse formato digital serve como um cartão de visita, um convite ao show, por isso a qualidade está cada vez mais indispensável, tanto na gravação quanto nos shows. Além disso, é preciso saber como utilizar esses recursos, não adianta gravar e disponibilizar. É importante trocar esses downloads gratuitos por e-mail ou curtidas nas páginas pra fazer valer o corre por outras vias.
Paulo: Acho que é um formato que só veio facilitar a divulgação do trabalho dos artistas em geral, a chegar até o público, antigamente isso só poderia ser feito por rádio e TV basicamente, e o acesso a essas mídias é complicado até hoje!
Caio: Concordo com o Paulo e com o Fabiano, mas ainda assim, eu reflito todo dia sobre o assunto, acho que a música virtual, a mídia virtual, e tantas outras coisas virtuais estão deixando as pessoas um pouco mais virtuais. Antigamente para conhecer bandas novas eu ia na galeria do Rock, pagava 10 reais num CD independente e o ouvia durante semanas até saber se gostava ou não... Se eu gostava, tinha sempre um show da banda para ir aqui em SP. Era muito mais orgânico. Hoje em dia, a galera ouve o disco na net, curte a fan page, e assiste os vídeos no YouTube. Pronto, já sabe tudo, já viu tudo, não precisa nem sair de casa. Isso pode ser muito bom se adicionado com a interação real com a banda... Caso contrário, você quebra o artista que você admira.

O guitarrista que gravou o álbum, Rafael Ohana, saiu da banda logo depois de finalizá-lo. O que aconteceu?
Fabiano: Isso permanece um mistério até pra gente. Não tivemos nenhum desentendimento em potencial. Ele disse que não tinha mais tesão pra fazer a parada e saiu. Até esse dia, tava tudo correndo muito bem.
Paulo: Isso é uma coisa que só ele mesmo pode responder!

Rafael foi substituído por Caio Caê. Como chegaram até Caio e como foi a adaptação dele na banda?
Fabiano: Conhecemos o Caio através de um festival. Ele tocava em outra banda e ouviu nosso som quando sondava as bandas participantes do festival. Ele entrou em contato com a gente pra trocar ideia. Chagamos até a desenvolver uma tentativa de movimento chamada “Tocaê”, mas a idéia não foi pra frente. 4 meses depois o Caio saiu da banda onde tocava e chamamos ele pra tocar com a gente ( O Rafael já tinha saído ). A adaptação foi instantânea. No primeiro ensaio ele começou a fazer uns riffs enquanto timbrava a guitarra. Eu e o Paulo começamos a tocar em cima e a música saiu inteira de primeira. Só fizemos a letra depois, mas a música saiu inteira. Isso nunca tinha acontecido com nenhum de nós. A música vai entrar próximo disco.
Paulo: Acho que o Caio já chegou adaptado! (risos). O cara é um bom músico, tem a pegada da banda e estamos na fase de criar coisas novas.
Caio: Eu conheci o Visagem por conta de um festival que eu ia tocar com um outro projeto, como dito acima pelo Fabiano. Eu fiz aquela pesquisa básica das bandas que iam competir com a minha na época. Ouvir o som do Visagem foi espantoso, fiquei extremamente feliz em saber que tinha uma banda independente fazendo um som de qualidade como esse. Mas passando esse período, ficamos amigos e me tornei fã, já sabia todas as letras... (risos). Hoje tocar com os caras é uma experiência animal, além de ser uma honra, estou sempre aprendendo muita coisa, e agora estamos na fase mais legal, que é criar, e está rolando muito bem! 

E como tem sido a repercussão do trabalho até então?
Fabiano: Melhor do que o esperado, considerando a falta de grana pra fazer divulgação. A gente já abriu muita porta com esse primeiro disco. Web TVs, rádios, entrevistas. No ano passado descobrimos alguns blogs pessoais que divulgam a gente sem que a gente soubesse. Conseguimos uma leva considerável de fãs no Facebook, You Tube e principalmente no Twitter. Além dos festivais que temos conquistado nesses 3 anos de banda, 5 ao todo. Conseguimos tocar no programa “Temos Vagas” da 89 (Rádio 89 Rock), e ainda tem muita coisa boa engatinhada.

Sabemos que fazer Rock no Brasil não é fácil. Acredito que cantar em português ainda o torna mais difícil devido ao público fiel ao estilo optar e preferir bandas que cantam em inglês. Por que optaram por cantar em português?
Fabiano: Nossa parada é fazer musica com sinceridade. Não dá pra ser sincero cantando na língua dos outros!
Paulo: Eu acredito no trabalho bem feito, na verdade não acredito que tenha a ver com o idioma. Nós mesmos temos uma música em inglês e ficou do caralho, Skeptical. Mas nosso negócio é fazer as músicas em português mesmo e mostrar que pode ter a mesma qualidade, mas não acredito que fique mais difícil porque é em português, acredito na qualidade do trabalho.
Caio: Cantar em português é considerado um obstáculo para muitas pessoas, eu acho que com tanta referência boçal por aí, fica difícil tentar tirar outra conclusão a partir disso. Eu já tive um monte de banda, e a única que cantava em inglês não saiu do quarto. Eu acho que a grande dificuldade dos letristas hoje em dia é tentar se aprofundar em suas próprias ideias, o nosso idioma é muito bonito, e por mais que o inglês possa soar “melhor” a princípio, só o português entra na cabeça e no coração das pessoas de forma direta. Sem precisar pensar muito, sem precisar de tradução...

E quais os planos da banda, já há algum material para um próximo disco?
Fabiano: A curto prazo, investir tudo o que for possível em divulgação. Ainda temos mais um clipe do primeiro disco pra lançar. Depois disso, gravação. Temos um EP pronto pra gravar com 4 músicas, pra começar a correr com material novo. E mais 8 músicas ainda não arranjadas pra continuar o processo. Do mais É evoluir todo dia, e TOCAR PRA CARALHO!!!!!!!


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