Tocar Rock no Brasil
não é fácil. Tocar Rock pesado, sem cunho comercial e mesclando com diversos
gêneros, incluindo Metal, fica mais difícil ainda. O Visagem faz exatamente
isso e com muita qualidade vem divulgando seu primeiro disco auto intitulado.
Falamos com o power trio Fabiano Vênkoff (vocal/baixo), Paulo Zumby (bateria) e
Caio Caê (guitarra) sobre tudo que envolve a banda, além do atual mercado
fonográfico e na dificuldade de se fazer Rock em nossas terras. Boa leitura!
Vocês
mesclam vários estilos dentro do próprio Rock. Sei que é ruim se rotular, mas
como definiriam a sonoridade da banda?
Fabiano
Vênkoff:
É difícil definir, até porque a proposta é misturar mesmo. Nas músicas novas
misturamos até salsa. Nossa vertente mais evidente, na minha opinião, é o Stoner.
Mas no final é tudo Rock mesmo!
Paulo
Zumby: Para mim não tem definição, é Rock ‘N’ Roll!
Caio
Caê:
Eu defino o som da banda como Rock também, é pensando nisso que a gente coloca
tantos elementos de várias vertentes. O Rock permite essa diversidade.
“Visagem”
mostra bem essa mescla de estilos. Há características que vão desde o Rock
Nacional passando pelo Alternativo até com o peso do próprio Metal. Mesmo assim
o som da banda soa acessível sem nenhuma veia comercial. Vocês concordam com
isso?
Fabiano:
Sim. Não seguir nenhuma tendência é o mais importante pra gente, mesmo assim é
quase impossível se desligar das influências. Acho que a gente achou um meio
termo. Agora é evoluir dentro disso.
Paulo:
Concordo, é isso o que procuramos, ser acessível sem ser comercial.
Caio:
Concordo! Ainda existe muita discussão sobre ser acessível e ser comercial. A
música do Visagem sai muito fluente, não colocamos nada a mais que possa
incrementar o nosso trabalho de uma forma desnecessária. O recado é dado como
deve ser dado.
Outro
fator importante a se destacar é que mesmo mesclando essas influências, as
composições soam atuais. O que podem nos falar sobre isso?
Fabiano:
Acho que pode ter a ver com a mistura dos estilos, talvez isso faça a música
soar pouco familiar ou diferente de alguma forma. Seja o que for, é
involuntário.
Caio:
Eu
acho que esse é o grande lance do Rock, pegar aquilo que a gente cresceu
ouvindo, assimilar, mastigar, e depois jogar pra fora acrescentando nossa visão
sobre tudo isso, com a nossa vivência. Por isso que deve soar atual e com
marcas das nossas principais influências.
O
disco possui ótimas composições como A
Corte e O Sabor de Ontem, mas
acredito que Mundo Novo é um hit
imediato. Vocês têm alguma música preferida no álbum?
Fabiano:
O Sabor de Ontem
na veia!
Paulo:
Não tenho uma preferida, curto todas, cada uma tem um elemento dos estilos
musicais que eu gosto.
Caio:
Cara, antes de entrar na banda eu já era fã. As minhas favoritas são Mundo Novo, O Sabor de Ontem e A Corte,
mas gosto muito de todas!
Vocês
disponibilizaram “Visagem” para download gratuito. Como vêem esse tipo de
formato virtual de música hoje em dia?
Fabiano:
Sou positivo quanto a isso, mas vejamos pelo ponto de vista mais realista: De
forma geral isso democratizou o espaço, o que pode soar bem na primeira, mas
com isso “qualquer um” virou artista. “muita janela pra poucas vista”. E com
tanta gente disputando atenção, ganha quem pode mais. O público de forma geral
ainda está estigmatizado com tudo o que é servido na grande mídia. Usa-se a
internet pra procurar o que viu na TV. Os padrões, qualidade de produção, “o
médio vendido como máximo”. Tudo isso minimizou o valor artístico. Vender
música já é algo inviável. Esse formato digital serve como um cartão de visita,
um convite ao show, por isso a qualidade está cada vez mais indispensável,
tanto na gravação quanto nos shows. Além disso, é preciso saber como utilizar
esses recursos, não adianta gravar e disponibilizar. É importante trocar esses
downloads gratuitos por e-mail ou curtidas nas páginas pra fazer valer o corre
por outras vias.
Paulo:
Acho
que é um formato que só veio facilitar a divulgação do trabalho dos artistas em
geral, a chegar até o público, antigamente isso só poderia ser feito por rádio
e TV basicamente, e o acesso a essas mídias é complicado até hoje!
Caio:
Concordo com o Paulo e com o Fabiano, mas ainda assim, eu reflito todo dia sobre
o assunto, acho que a música virtual, a mídia virtual, e tantas outras coisas
virtuais estão deixando as pessoas um pouco mais virtuais. Antigamente para
conhecer bandas novas eu ia na galeria do Rock, pagava 10 reais num CD independente
e o ouvia durante semanas até saber se gostava ou não... Se eu gostava, tinha
sempre um show da banda para ir aqui em SP. Era muito mais orgânico. Hoje em
dia, a galera ouve o disco na net, curte a fan page, e assiste os vídeos no
YouTube. Pronto, já sabe tudo, já viu tudo, não precisa nem sair de casa. Isso
pode ser muito bom se adicionado com a interação real com a banda... Caso
contrário, você quebra o artista que você admira.
O
guitarrista que gravou o álbum, Rafael Ohana, saiu da banda logo depois de
finalizá-lo. O que aconteceu?
Fabiano:
Isso
permanece um mistério até pra gente. Não tivemos nenhum desentendimento em
potencial. Ele disse que não tinha mais tesão pra fazer a parada e saiu. Até
esse dia, tava tudo correndo muito bem.
Paulo:
Isso é uma coisa que só ele mesmo pode responder!
Rafael
foi substituído por Caio Caê. Como chegaram até Caio e como foi a adaptação
dele na banda?
Fabiano:
Conhecemos o Caio através de um festival. Ele tocava em outra banda e ouviu
nosso som quando sondava as bandas participantes do festival. Ele entrou em contato
com a gente pra trocar ideia. Chagamos até a desenvolver uma tentativa de
movimento chamada “Tocaê”, mas a idéia não foi pra frente. 4 meses depois o
Caio saiu da banda onde tocava e chamamos ele pra tocar com a gente ( O Rafael
já tinha saído ). A adaptação foi instantânea. No primeiro ensaio ele começou a
fazer uns riffs enquanto timbrava a guitarra. Eu e o Paulo começamos a tocar em
cima e a música saiu inteira de primeira. Só fizemos a letra depois, mas a
música saiu inteira. Isso nunca tinha acontecido com nenhum de nós. A música
vai entrar próximo disco.
Paulo:
Acho que o Caio já chegou adaptado! (risos). O cara é um bom músico, tem a
pegada da banda e estamos na fase de criar coisas novas.
Caio:
Eu conheci o Visagem por conta de um festival que eu ia tocar com um outro
projeto, como dito acima pelo Fabiano. Eu fiz aquela pesquisa básica das bandas
que iam competir com a minha na época. Ouvir o som do Visagem foi espantoso,
fiquei extremamente feliz em saber que tinha uma banda independente fazendo um
som de qualidade como esse. Mas passando esse período, ficamos amigos e me
tornei fã, já sabia todas as letras... (risos). Hoje tocar com os caras é uma
experiência animal, além de ser uma honra, estou sempre aprendendo muita coisa,
e agora estamos na fase mais legal, que é criar, e está rolando muito bem!
E
como tem sido a repercussão do trabalho até então?
Fabiano:
Melhor do que o esperado, considerando a falta de grana pra fazer divulgação. A
gente já abriu muita porta com esse primeiro disco. Web TVs, rádios,
entrevistas. No ano passado descobrimos alguns blogs pessoais que divulgam a
gente sem que a gente soubesse. Conseguimos uma leva considerável de fãs no
Facebook, You Tube e principalmente no Twitter. Além dos festivais que temos
conquistado nesses 3 anos de banda, 5 ao todo. Conseguimos tocar no programa
“Temos Vagas” da 89 (Rádio 89 Rock), e ainda tem muita coisa boa engatinhada.
Sabemos
que fazer Rock no Brasil não é fácil. Acredito que cantar em português ainda o
torna mais difícil devido ao público fiel ao estilo optar e preferir bandas que
cantam em inglês. Por que optaram por cantar em português?
Fabiano:
Nossa
parada é fazer musica com sinceridade. Não dá pra ser sincero cantando na
língua dos outros!
Paulo:
Eu acredito no trabalho bem feito, na verdade não acredito que tenha a ver com
o idioma. Nós mesmos temos uma música em inglês e ficou do caralho, Skeptical. Mas nosso negócio é fazer as
músicas em português mesmo e mostrar que pode ter a mesma qualidade, mas não
acredito que fique mais difícil porque é em português, acredito na qualidade do
trabalho.
Caio:
Cantar em português é considerado um obstáculo para muitas pessoas, eu acho que
com tanta referência boçal por aí, fica difícil tentar tirar outra conclusão a
partir disso. Eu já tive um monte de banda, e a única que cantava em inglês não
saiu do quarto. Eu acho que a grande dificuldade dos letristas hoje em dia é
tentar se aprofundar em suas próprias ideias, o nosso idioma é muito bonito, e
por mais que o inglês possa soar “melhor” a princípio, só o português entra na
cabeça e no coração das pessoas de forma direta. Sem precisar pensar muito, sem
precisar de tradução...
E
quais os planos da banda, já há algum material para um próximo disco?
Fabiano:
A curto prazo, investir tudo o que for possível em divulgação. Ainda temos mais
um clipe do primeiro disco pra lançar. Depois disso, gravação. Temos um EP
pronto pra gravar com 4 músicas, pra começar a correr com material novo. E mais
8 músicas ainda não arranjadas pra continuar o processo. Do mais É evoluir todo
dia, e TOCAR PRA CARALHO!!!!!!!
Nenhum comentário:
Postar um comentário