Por Adalberto Belgamo
Umas das coisas mais
legais em relação aos shows nos anos 80 era a “aventura”, pela qual os
“interessados” tinham de se submeter para ver os poucos shows gringos, que
aconteciam no país.
Trinta (ou mais - risos)
anos atrás, tais shows, principalmente os do underground, eram raros abaixo da
linha do Equador. Um, dois ou no máximo três por ano. O frenesi era intenso,
quando anunciavam uma banda e/ou artista internacional, principalmente para os
fãs do Metal.
A década de 80 foi
marcada pelo surgimento do Thrash Metal e subgêneros. Tanto lá fora como aqui,
o estilo estava em alta na cena underground. Estávamos saindo (ou
adicionando...) da era das bandas clássicas e da NWOBHM. As próprias bandas
brasileiras começaram a assimilar o estilo e produzir música de excelente
qualidade.
Uma das minhas bandas
preferidas de Thrash Metal era (é) o Nuclear Assault. O som, a postura política
das letras, que retratavam o caos no planeta (criado pela ganância humana
desenfreada), condiziam (e condizem) com muitas das minhas convicções
ideológicas (não - panfletárias e esquizofrênicas - risos), as quais se resumem
ao respeito inviolável da liberdade de expressão e da igualdade social e
econômica de todas as classes sociais. Utopia? Sim, mas vale muito a pena a
luta, principalmente no meu caso, professor há mais de 20 anos, tentando levar
dignidade e cidadania (direitos e deveres) aos lugares esquecidos tanto pelo
Estado, como pela iniciativa privada. Mas, aí já é outro assunto.
Voltando à música
(risos), não havia a facilidade para adquirir ingressos, muito menos excursões
para shows “menores”. Hoje em dia, pela graça de Deus ou do Capiroto (risos), é
muito mais simples a logística (risos), que basicamente é entrar na internet,
comprar a entrada e arranjar uma excursão ou dividir as despesas do carro com
os amigos, que dirigem e tem carro, lógico. Não é o meu caso. Sem carro e sem
habilitação. Seis reprovações. As ruas estão bem melhores sem a minha
habilidade no volante! (risos).
O
que fazíamos, então?
Na noite anterior
preparávamos os lanchinhos para a viagem, pois comer em posto ou lanchonete era
considerado um luxo! (risos). Descíamos para a rodoviária e tomávamos o ônibus das
duas da madrugada para chegar a São Paulo às seis da manhã e ir para a Galeria
do Rock pegar os ingressos. Dava um certo medo que não houvesse mais ingressos,
mesmo tendo reservado. As lojas, que os vendiam, não se preocupavam muito (ou
não sabiam - risos) com o termo “reservado”. Normalmente, dava certo. Mas o que
fazer até a hora do show, que sempre estava marcado para as nove da noite,
porém começava as onze? (risos).
Fazíamos a Via Sacra ‘Capirótica’
(risos). Aproveitando a viagem, também para comprar discos. Da Woodstock para a
Galeria do Rock e da Galeria do Rock para a Woodstock (risos). Ficávamos
andando com uma mochila e um monte de LPs nas mãos, os quais, podem acreditar,
levávamos aos shows e ficávamos segurando, enquanto as bandas tocavam. Não dava
para confiar no guarda-volumes! (risos).
O Nuclear Assault
aconteceu no Dama Xoc, uma das casas mais importantes para shows que havia em
Sampa, lugar legal de fácil acesso por “cataloco” (ou busão - risos) na Zona
Oeste.
Como sempre, os shows serviam
para encontrarmos vários amigos do interior, de cidades como Jaboticabal, Monte
Alto e Bauru. Ficávamos na expectativa de como seriam os shows (o Sepultura foi
a banda de abertura). E papo vem e papo vai. Aquele desfile de “peludos”
(risos) com tênis de basquete, cabelos compridos e calças aperta-bagos!
(risos). Graças a Deus ou ao Casco Rachado (risos) que as mulheres estão cada
vez mais presentes na cena, curtindo e, principalmente, em cima dos palcos,
deixando muitos “cuecões (alguns fascitoides) para trás! Hail to the ladies!!!
Enfim,
os shows!
O Sepultura foi muito
bom, porém todos queriam mesmo era o Nuclear Assault! Danny Lilker, ao vivo! A
banda toda extrapolando energia e agressividade (no bom sentido), desfilando
“crássicos” em um set list com mais de vinte músicas. Equal Rights, Game Over, Survival, My America... como dizemos no
interior, “cada enxadada uma minhoca!” (risos). O som estava perfeito, fazendo
com que os timbres das guitarras parecessem um soco na cara! Muito violento, no
sentido musical da coisa!
O lugar estava lotado,
mas como a posição do palco em relação à plateia era perfeita, não havia a
necessidade (só se realmente quisesse se “aventurar”) de ficar muito próximo.
As rodas de pogo, o mosh, o stage diving foram insanos. Em cima do palco,
misturavam-se público e banda! Um tumulto “delicinha”! (risos). E quem vos
escreve, presenciando tudo isso, com um pacote de discos em uma das mãos, o
cigarrinho (ainda não era proibido) na outra, balançando a cabeleira
“palymobil”, torcendo para que os óculos não caíssem! Um verdadeiro “Bonecão de
Olinda”, observando tudo através dos onze graus (risos) das lentes dos óculos, extasiado...
petrificado!
20 de maio de 1989, a
data que não ficou marcada apenas na mente, mas no coração. Ninguém saiu, após
o término do show, a mesma pessoa em relação ao Heavy (Thrash) Metal.
Impossível. Um dos melhores shows que vi na minha vida! E já vi (e pretendo)
ver muitos mais ainda.
Depois da lição de Thrash
Metal, só nos restou ir para o Terminal do Tietê, esperar o primeiro ônibus da
manhã para voltar a Texascoara. Alguns tiraram um cochilo, outros conversaram
sobre o show, e quem vos escreve continuou a segurar o pacote de discos em uma
das mãos (medo de ser assaltado - risos) e uma coxinha da lanchonete da “rodô”
na outra. Depois da avalanche sonora, somente uma gordurosa para baixar a
adrenalina, um “luxo” merecido... (risos) Inté!
*
Adalberto
Belgamo é professor, atuando no museu (sem ser peça... ainda - risos),
colaborador do Arte Metal, além de ser Parmerista, devorador de música boa,
livros, filmes e seriados. Um verdadeiro anarquista fanfarrão.
Dan Lilker só monta banda uma mais paulada que a outra, Brutal Truth é outra prova. Mas é foda, arrisco a dizer q até hoje é foda curtir Metal no interior, o povo parece estar voltando a acompanhar só os clássicos, então quando uma banda foda vem pro Brasil, mesmo sendo muito conhecida lá fora (por vezes, até mesmo na cena do Brasil), por aqui o povo não dá a mínima, aí é aquela briga pra achar quem possa fazer van pela região. Digo isso porque passei por uma situação assim em Marília, pra ver o show do Cannibal Corpse/ Testament(!?) em Sampa, em 2015. E metaleiro quebrado é foda, todo mundo na van parando em posto pra fazer lanchinho, eu já levei um kit sobrevivência:1 pacote de pão de forma e mais algumas gramas de mortadela kk. Curti o show sóbrio, mas vendo pelo lado bom, foi até melhor (tinha um locão que me oferecia pinga toda hora, eu dava uma bicada modesta e blz hehe), ver o show dos caras e lembrar boa parte da performance é muito bom. Abraço Adalberto/Vitor, é issaí!
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