quinta-feira, 27 de setembro de 2018

A que ponto chegamos?




Por Vitor Franceschini

Primeiramente gostaria que o leitor não comprasse este texto pela capa, pois além de apensa ilustrar e direcionar, o motivo do texto não tem a intenção de dissecar a mesma. Em segundo, porque o texto tem como intenção trazer reflexão e até questionar, não dando o mérito à razão disso ou daquilo.

Não adianta querer entrar por brechas dadas pelo sistema, para dizer que não vivemos em uma democracia, pois, apesar de alguns atos falhos do mesmo, ainda vivemos em uma. Isso é que o não impede nós cidadãos de mostrarmos apoio a políticos, particularmente. E, também como cidadãos, músicos e artistas também o podem, com a consciência de que são formadores de opiniões e devem arcar com as consequências, que são bem maiores.

Capa do ótimo terceiro álbum da banda brasileira Anarkhon de 2013, com uma suposta caricatura de uma ex-presidente 


Pois, bem. O que não é compreensível no momento atual, principalmente em relação ao cenário Rock/Metal é ver algumas coisas invertidas. Não que haja regra pra isso, mas é óbvio que um artista consagrado fez/faz muito mais pra gente (pela arte e música) do que qualquer político no cenário de hoje. Doa a quem doer, todos lá no congresso são corruptos, e isso não consiste somente a desvios e enriquecimento ilícito às custas do dinheiro público, mas a vários outros fatores indiretos, como omissão e passividade diante de milhares de atos de corrupção. Consentir com isso é grave também, mas é outra história.

Ontem, mais precisamente no dia 25 de setembro de 2018, o polêmico vocalista do Ratos de Porão, João Gordo, postou em seu perfil particular do Instagram a foto da capa da coletânea “Satan Smashes Facism” que conta com 16 bandas do underground que são contra o fascismo com a seguinte mensagem: “Coletânea com 16 bandas de metal anti-fascista ... nem tudo está perdido no heavy metal brazuca... 🤘☠⛧ ... "headbanger paga pau de crente o Lemmy vai te comer".

Capa da coletânea "Satan Smashes Fascim" postada por João Gordo (Ratos de Porão)


A capa, como pode ser vista acima, conta com a suposta caricatura de um dos presidenciáveis e, o que poderia ser normal em outros tempos (vide as outras ilustrações do texto, incluindo as do Iron Maiden com a então primeira ministra britânica Margareth Tatcher), se tornou uma avalanche de críticas ao vocalista, algumas defendendo o tal político.

Aí vem a questão. Não importa o seu apoio político ou suas ideias, mas estaria realmente o ‘poste mijando no cachorro?’. Não convém se o tal candidato é ou não fascista aqui, se a esquerda ou a direita prestam, enfim qual a sua ideia. Mas, cadê o a cultura em luta contra o sistema e que no mínimo se mostrava um ato de manifesto? (Não me venha falar que política não cabe no Metal, porque ela está em tudo e todo lugar).

Outra questão, é que João Gordo nem ergueu bandeira de apoio a ninguém ali, nenhum sistema e nenhum candidato e foi achincalhado, mas não arredou o pé. Particularmente acho que ele não deveria digladiar com ninguém, mas como ele mesmo disse nos comentários, aquele é um perfil pessoal dele, então ele está no seu direito, afinal o segue quem quiser.

Capa do single "Sanctuary" de 1980, onde supostamente o mascote Eddie assassina Margaret Tatcher, então primeira ministra do Reino Unido. Essa arte chegou a ser censurada na época.

Capa do single "Women In Uniform" de 1980, onde Tatcher faz uma emboscada para a mascote Eddie. Seria a suposta vingança da ex-primeira ministra


Como dito antes, e fica aqui as ilustrações, houve vários outros casos de capas polêmicas envolvendo políticos e não teve tanto ‘bafafá’ assim, então não seria a hora de pensarmos, mesmo nos opondo a certas ideias: a que ponto chegamos ao xingar artistas, incluindo de nosso cenário e meio, pra defender político? Este é o problema, se opor é uma coisa, mas defender cegamente quem mal sabe da existência da nossa cena e do qual temos o dever de cobrar e exigir, afinal são servidores públicos, ofendendo pessoas que contribuem com o cenário musical, chega a ser assustador.

Reflitam sobre isso, não é preciso concordar. Particularmente conheço N músicos e bandas de quem sou fã, e não concordo com as visões políticas deles, mas fico feliz em ver que não erguem bandeiras, mas sim se mostram insatisfeitos e inquietos, inclusive com sistemas que concordo em maior parte. A subversão não tem lado, e é isso que qualquer sociedade política pensa do Rock/Metal, que somos seres subversivos. Fica a dica.

OBS.: NÃO SERÃO PUBLICADOS COMENTÁRIOS ANÔNIMOS.

*Vitor Franceschini é editor do ARTE Metal, jornalista graduado, palmeirense e headbanger que ama música em geral, principalmente a boa. Não escolheu seus candidatos, e se tivesse escolhido, não iria ficar aí ‘babando ovo’.

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