Por: Adalberto Belgamo
Uma das coisas mais
legais do “mundo” underground e/ou alternativo são as amizades, que nascem e se
perpetuam pela vida toda. São amigos
(muitas vezes “irmãos e irmãs”!), que você tem para o sempre. Logicamente, crescemos,
assumimos responsabilidades e não dá para manter o contato constante com as
pessoas, mas, se há algo de bom (risos) nas redes sociais é a oportunidade de
retomar velhas amizades e retomar a camaradagem e as risadas com os brothers e as sisters.
Na metade da década de
80, o Metal brazuca finalmente dava a cara para bater. Especificamente falando sobre o interior de
São Paulo, pipocavam shows. No mínimo, dois ou três festivais (ou eventos, como
está na moda - risos) ocorriam pelo “interiorzão”. Nestes eventos, nasceram
amizades, que cultivo até hoje. Os “minos” e as “manas” (risos) de cidades como
Jaboticabal, Bauru, Ribeirão, Monte Alto, Americana, Limeira e São Carlos
(entre tantas outras) sempre se encontravam nas rodoviárias e nos shows da
vida. Consequência disso: amizades que beiram os 30 anos ou mais! Bons tempos.
O contato com as bandas
ultrapassava a linha de fãs com os “artistas” (risos). Era comum, elas se
hospedarem nas casas dos roquistas e/ou redbenguis, quando vinham para os
festivais. Falando de Texascoara (Araraquara - SP), o “sister” (risos) Talo era
o que mais organizava shows na cidade. Festivais memoráveis. Muitas histórias
para contar. Mas antes da Nuclear Egg Productions, o show mais marcante foi
organizado pelo Marcote (R.I.P.), primo do Zema do Vulcano.
Ele encarou a difícil
missão de organizar um festival com bandas “de nome” da época (até hoje!), com
poucos recursos, no famoso “faça você mesmo (DIY)”. A cidade estava acostumada a receber os nomes
do chamado Rock Nacional. As bandas “mainstream” passavam quase todos os meses
pelo município. Brincávamos em dizer que, por exemplo, os Titãs moravam aqui
(risos). Patrocínio não faltava.
No entanto, Metal?
Capirotagem? Cabeludos? Em uma cidade conservadora? A insistência venceu! E eis
que tivemos o famoso THUNDER METAL! Vulcano, Dorsal Atlântica e Sepultura... no
mesmo dia! A cidade foi invadida pelos “cabeludos” com suas calças aperta-bagos
(risos), coturnos, correntes e arrebites! A horda de preto chamava a atenção da
população que, até aquele momento, nunca tivera contato com o lado “sombrio”
(risos) do Rock. Havia os “malucos” locais, mas a maioria ainda estava na viagem
de “doce” de Woodstock (risos).
Antes de ir para o
Gigantão (um ginásio enorme, onde o show ocorreria), resolvi passar na casa do
Marcote para ver as bandas. Lembro-me da mãe dele reclamando que a “molecada”
(risos) não parava de comer. Não aguentava mais fritar bifes! (risos). Os
irmãos Cavalera estavam em cima de uma árvore, despertando a curiosidade (e o
medo - risos) dos vizinhos.
Depois de jogar conversa
fora, passei na casa de uns amigos e fomos andando (pobreza...que continua até
hoje - risos) para o Gigantão. Ele fica em um dos bairros mais nobres da
cidade, ao lado da Arena da Fonte, casa da gloriosa Ferrinha (Ferroviária de
Araraquara). Imaginem a cara das pessoas vendo verdadeiras filas indianas
subindo a Avenida Bento de Abreu, que na época era uma região ainda residencial
do pessoal “high society” da cidade (risos). Apesar do “susto” (risos), reinava
a tranquilidade. Anos mais tarde, conversando com alguns espectadores (risos),
demos muitas risadas, pois a preocupação maior era a de alguém acionar os
“hómi” e todos passarem por corretivos e humilhações. Coisas que já deveriam
estar enterradas no passado, porém alguns roquistas e redbenguis acéfalos
insistem em pedir a volta da repressão. Decepção. Os mais novos não tem noção
do que é levar uns “colabrincos”. Os mais experientes (risos) devem ter algum
tipo de fetiche sexual (risos). Voltemos à musica.
Guilhotina (Valinhos/SP)
e Aggressor (Campinas/SP) fizeram bons shows e cumpriram muito bem o papel de
abertura para (nada mais... nada menos) para Sepultura, Dorsal e Vulcano! O Sepultura vinha com toda a força do “Bestial
Devastation” (1986) e “Morbid Visions” (1987) (que seria lançado em novembro do
mesmo ano), o Dorsal com o material do “Antes do Fim” (1986) (que também seria
lançado naquele ano) e o Vulcano com o “Live!” (1985), um dos discos mais
importantes da cena brasileira de todos os tempos, um clássico!
Carlos Lopes (ou Vândalo
na época - risos) destilava toda a revolta de uma geração, que cresceu sob as
asas da repressão. Performance animalesca! A fúria das letras impressionava ao
vivo! O Sepultura já apresentava características que, mais tarde, tornariam a
banda um fenômeno mundial. Uma delas era a agressividade. Death/Black Metal
insano, o qual é influência e referência para muitas bandas da cena extrema
atual.
O Vulcano, além da
questão musical, representava a resiliência e a insistência em um sonho!
Independência da arte na forma mais pura. Jogavam-se na música extrema em uma
época, na qual ela não estava tão em evidência. O show reproduzia fielmente o “Live!”.
A introdução foi feita (cantada) por praticamente toda a plateia do festival.
Não chegou a encher o local, mas havia um público considerável, levando-se em
consideração o caráter underground do festival.
Noite histórica e
memorável! Após o show, pegamos o caminho da roça (risos), passamos em um
“carrinho de hambúrguer” (atualmente o “gourmetizado” food truck - risos), nos
enchemos de gordura, carne prensada, condimentos e refrigerante. Tudo saudável!
(risos)
Antes de terminar,
gostaria de agradecer o Luis Carlos Conceição (o sister Talo - risos) por
confirmar algumas informações, que o tempo e as capirotagens “quase” apagaram
do cérebro, envolto por uma calvície “experiente”! (risos)
Inté!
*Adalberto Belgamo é
professor, atuando no museu (sem ser peça... ainda - risos), colaborador do
Arte Metal, além de ser Parmerista, devorador de música boa, livros, filmes e
seriados. Um verdadeiro anarquista fanfarrão.
eu fui! abração, Adalberto.
ResponderExcluirGuilhotina "arrasou " na abertura, um dos maiores e melhores shows que fizemos.
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