Por: Vitor Franceschini
Fotos: Victor Sanches / Caike Scheffer
A Blixten é aquela banda
que quando você ouve ou os assiste ao vivo, logo pensa: “O Heavy Metal está
longe de estar morto”. Não, eles não reinventam nada e não salvam a lavoura,
mas são como se fossem a água que rega essa lavoura, entendeu? Pois então, e
nesses cinco anos na estrada, ao menos os dois últimos valeram por 10. E a
banda, que divulga seu primeiro EP “Stay Heavy” (2018), fala sobre isso, seu
debut em registro e muito mais. Formam a Blixten Kelly Hipólito (vocal), Miguel
Arruda (guitarra), Aron Marmorato (baixo) e Murilo Deriggi (bateria)
De
2017, quando lançaram o single “Like Wild” até os tempos atuais, em que a banda
divulga o primeiro EP “Stay Heavy”, parece que a Blixten vem voando baixo. Para
começar a entrevista gostaria que vocês falassem desse momento atual. O que ele
representa pra banda?
Kelly
Hipólito: Isso só rolou com essa formação. Tudo isso é pela
química que a gente tem no palco e no estúdio, na hora de criar ou na hora de
reproduzir as músicas. O segredo é fazer tudo com paciência e paixão pela
própria arte, a gente quer ir além, e tá todo mundo sintonizado nisso, o
objetivo de toda a banda é o mesmo, e é isso que faz fluir.
E
como foi o processo de composição do EP durante este período? Provavelmente Like Wild surgiu primeiro, mas as outras
músicas vieram depois ou já estava em mente mesmo desde a criação do single?
Miguel
Arruda: Like
Wild
veio primeiro, aí tomamos gosto pela coisa. A gente tinha a necessidade de
fazer um show com um certo tanto de músicas autorais (não me lembro quantas mas
provavelmente eram cinco), e foi nessa necessidade que surgiram as músicas do
EP.
Aliás,
como vocês trabalham esse processo de composição? Qual a metodologia da banda?
Miguel: Algumas
músicas eu fiz elas por inteiro e mandei para a banda, ai a gente entra em
estúdio e vai acertando ela até ficar a gosto de todo mundo, algumas o Aron e
Kelly mandaram a letra e eu fiz a harmonia pra depois o Murilo fazer as linhas
de batera, e algumas simplesmente saíram em ensaio, já existia uma letra pronta
e em algum ensaio, eu e o Mu brincando com a guita e batera sai um riff que
fica legal, ou alguma coisa que poderia usar pro refrão e a gente monta,
completamente espontâneo.
Falando
agora do EP em si. “Stay Heavy” tem um título que resume bem a sonoridade do
trabalho. Afinal, a Blixten prima pelo Heavy Metal tradicional e o Hard Rock.
Como foi equilibrar essas influências no disco?
Kelly: Foi
tranquilo, fácil, não encontramos dificuldade em algo que a gente sente prazer
em ouvir, entende? É como se tudo isso já tivesse cravado em nós e é isso. Cada
música tem a pitada que precisa, e a gente não força isso.
As
músicas parecem ser escolhidas a dedo para atingir todas as facetas da banda.
Por exemplo, Trapped In Hell é a
pedrada inicial, Metal total, enquanto Maktub
é aquela ‘power-ballad’ para dar uma respirada. Stay Heavy é a faixa mais abrangente e Strong as Steel aquele hino para agitar a galera. Essa foi a
intenção? Gostaria que falassem um pouco mais das composições.
Kelly:
Pra
estar na ordem do EP realmente foi dessa maneira. E no fundo é pra mostrar como
a banda é nos shows. Cada hora é um sentimento diferente. Quando escrevo, meu
objetivo é despertar emoções nas pessoas, falar de coisas diferentes em cada
música, não gosto de soar igual nem a mim mesma, mas sem deixar de ser eu
mesma, sabe? Porque o ser humano é assim, louco e inconstante. Cada letra
carrega uma verdade, uma situação, uma vontade, algo que é real pra nós. Não permito
nada na Blixten que não seja verdadeiro, e isso transparece nas composições.
No
aspecto técnico, é interessante notar que as linhas de guitarras, além dos
solos, claro, exalam técnica, mas não passando por cima das músicas. Isto é,
soa necessário, mas de muito bom gosto. Como foi desenvolvida essa parte e como
atingir esse equilíbrio?
Miguel: Cara,
pra mim a ideia é exatamente essa, o trabalho do musico é criar música, mas
hoje em dia existe uma onda de fazer música especificamente pra outros músicos
ouvirem, então cria-se a necessidade de esbanjar técnica em todas as
composições e solos e quanto mais notas e mais bpm’s melhor. Ou então tem a
galera que é contra isso, mas eles iniciam uma nova ditadura que é a do
‘feeling’, então todos os guitarristas têm que tocar igual o Matheus Asato’ ou
então eles não tocam nada. Não dizendo que tem alguma coisa de errado com o
estilo que ele toca, muito pelo contrário, ele é um guitarrista absurdamente
talentoso, mas cada um com seu estilo, o problema é que o meio ‘guitarrístico’
gosta de impor estilos padrões pra todos os guitarristas. Eu quero fazer música
para as pessoas ouvirem, sejam elas musicistas ou não.
Por
contar apenas com uma guitarra, o baixo é de suma importância, e além do papel
que lhe cabe, a sonoridade do instrumento agrega muito às músicas, acompanhando
uma bateria simples, mas eficaz. Quão a cozinha pesa e é importante na
sonoridade da Blixten?
Aron: Exatamente
por termos apenas uma guitarra, o baixo tem que preencher esse
"buraco". É essa cozinha que tem que dar e complementar o peso no
nosso som. Devido a isso também que não há passagens mais complexas nas linhas
de baixo, e dificilmente você ouvirá uma música em que o baixo esteja
totalmente limpo, sem nenhum efeito. Esse som distorcido é necessário
exatamente para suprir a necessidade de uma outra guitarra fazendo a base.
Tentei timbrar o som do baixo para que soasse bem pesado e distorcido.
Já
Kelly vem evoluindo de uma forma natural, e sendo comparada às principais
cantoras de Heavy Metal como Doro Pesch, Lita Ford e Leather Leone. Além de
buscar suas próprias características, como é ter e ser comparada a essas
influências e como isso fluiu durante sua parte no EP “Stay Heavy”?
Kelly:
É sensacional ao mesmo tempo em que incomoda. Muita gente compara a voz
(particularmente eu não acho), já outras pessoas compara ao fato de ser mulher,
cantar com a mesma força e paixão que elas, sobreviver nesse meio que é a
música pesada. Eu sou apaixonada por essas mulheres, mas sempre prefiro ser
comparada na segunda opção, cada vocalista tem sua particularidade. Quando
estava gravando o EP, eu não pensava: "como Doro Pesch gravaria esse
trecho?", porque não era a Doro Pesch ali, era a Kelly Hipólito. Eu não
quero ser elas, mas prefiro ser lembrada como elas são.
Na
parte técnica, nota-se uma grande evolução sonora na questão da produção do
trabalho em relação ao single e ao EP. Como foi o processo de produção do
disco? Vocês atingiram o nível que queriam?
Kelly:
O
Single e o EP foram as primeiras gravações em estúdio que a banda fez. O Single
como divulgação do nosso primeiro trabalho autoral e o EP já buscando uma forma
mais profissional, provavelmente venha daí a evolução da produção, da nossa
própria exigência com o material. Para a gravação do disco, contamos com a
grande ajuda e experiência do Artur Rinaldi, do Estúdio Távola, que também
pós-produziu as músicas. A gravação e produção foram na verdade, processos
tranquilos, o que foi bem interessante. A banda já vinha executando algumas
músicas do EP em shows então nós estávamos bem acostumados para a gravação,
apesar de algumas óbvias alterações aqui ou ali, o que nos dava também uma
noção do que queríamos. O Artur, que também já curtia a banda, entendeu de cara
o que a gente procurava e fez os ajustes essenciais na produção. O resultado foi sim super satisfatório,
acredito que atingimos o nível que esperávamos para o EP, e que todo o processo
nos deu uma experiência necessária para a produção de um próximo trabalho ainda
mais interessante.
Vocês
gravaram um clipe para a faixa Trapped In
Hell. Por que a escolheram e como foi trabalhar no clipe? Aliás, como vocês
veem a importância de um trabalho audiovisual nos tempos atuais?
Miguel: A
Trapped In Hell foi escolhida
justamente por causa da introdução, eu já tinha o clipe todo montado na minha
cabeça antes de começarmos a gravar (depois de vários imprevistos ele acabou
ficando diferente mas tudo bem, risos) e como a gente já tinha escolhido essa
intro pra contrastar com a música no EP, achei que seria uma ferramenta legal
pra se utilizar no clipe também, conversamos e a banda concordou e decidimos
que seria ela. Atualmente, eu acredito no trabalho audiovisual ser a ferramenta
mais importante de divulgação de uma banda, porque os maiores meios de
divulgação hoje em dia são as redes sociais, as quais são próprias pra esse
tipo de conteúdo.
E
como “Stay Heavy” tem sido recebido tanto por parte da crítica, quanto pelo
público? Quais os ‘feedbacks’ que a banda recebeu do exterior?
Kelly:
Rolou muita crítica positiva de todos os cantos, e isso é sensacional. Eu juro
que fiquei com o pé atrás porque a banda fugiu um pouco do "mesmo" de
bandas que já existem. E isso só faz a gente se fortalecer e ter mais e mais
vontade de criar, de aprender coisas novas pra levar nas músicas e nos shows.
Já rolou algumas matérias de sites do exterior e o feedback é sempre positivo.
Só falta a gente ir pra lá.
Em
questão de shows, desde que a banda abriu o Araraquara Rock em 2017, a coisa
foi se expandindo e a banda passou a tocar em diversos lugares fora da região,
sendo o principal deles no Manifesto Bar em São Paulo e não apenas uma vez.
Como se deu essa oportunidade e como a banda trabalha a agenda de shows?
Kelly: A
gente se inscreveu no Girls n' Rock do Manifesto, que é basicamente um fest que
tem mulheres como integrantes de bandas, vocalista ou não. Era uma competição,
tinha jurados e tudo mais, mas quando chegamos lá, não vi isso, eu vi pessoas
nos recebendo muito bem, pessoas nos parabenizando pelo show, fizemos contatos,
fizemos amizades, e passamos pra semifinal, foi uma aprendizado que sempre vou
levar comigo e creio que os meninos também. A agenda de shows é até crítica,
chegamos num ponto que não podemos nos desvalorizar, se aceitamos menos que nós
somos, a gente joga nossa música e nosso esforço por água abaixo, deu pra
entender? E isso vai além de cachê, envolve condições pra gente tocar, ambiente
e como somos tratados como músicos.
Sei
que a banda vem trabalhando em novidades. O que podem nos adiantar a respeito
disso? Enfim, o que o segundo semestre de 2018 pode esperar da Blixten?
Miguel: Para
o segundo semestre de 2018, planejamos cumprir nossa agenda de shows. As
novidades mesmo ficarão pro início de 2019, ai galera, se preparem.
Agora
fugindo um pouco da pauta, me desculpem a ignorância (inclusive os leitores),
qual o significado do nome Blixten?
Kelly:
é
Flash/Raio em Sueco. Foi um guitarrista (que entrou na banda mas nunca chegou a
ensaiar) que escolheu, eu achei legal e é bem o jeito que nós somos, é um
clarão e um som estrondoso.
Este
espaço é de vocês para deixarem uma mensagem aos leitores.
Kelly: Sem
o público, nós não existimos, obrigada por nos ouvir, nos apoiar e espalhar a
"palavra" por aí. E aos músicos novos ou velhos de estrada: Stay
Heavy, Stay Hard, Stay True As Steel, continue acreditando naquilo que você
faz!
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