Foto e texto por Cris Figueiredo
Na noite chuvosa do
sábado, 18 de maio, a princípio silenciosa, Aracaju vivenciou uma celebração do
mais puro e autêntico Heavy Metal, surpreendendo aos mais jurássicos dos
Metalheads presentes, tamanha a qualidade das bandas e o envolvimento do
público, transformando o show no Lado B Studio Pub num verdadeiro espetáculo de
Metal intimista, termo, aparentemente, fora de contexto, mas que traduz,
literalmente, o que aconteceu – sem diminuir o volume, o peso e a distorção,
principais características do estilo – arriscaria dizer que foi algo
excepcional, até mesmo, para as bandas do cast.
Os trabalhos tiveram
início por volta das 22h, com a subida ao palco da banda Tchandala – na estrada
desde 1996, quatro discos lançados – uma das maiores expressões do Heavy Metal
no Nordeste e, principalmente, do estado, mostrando competência e uma qualidade
indiscutível nas suas canções, claramente refletida na empatia com os
headbangers presentes ao iniciarem os primeiros acordes de The Flame, aquecendo
o ambiente e dando sequência com Labyrinth, já sinalizando que os caminhos
dessa noite seriam de temperaturas elevadas e, ao riff de One Billion Light’s,
a saga dos nordestinos viria à tona, mostrando o quanto é duro sonhar e ter
esperanças vivendo no agreste, porém, em seguida, parte da resposta ao
sofrimento desse povo surge com Valley of Greed, mas, a batalha não parou aí e
continuou com Fantastic Darkness, provando que esses caras não se rendem e nem
se deslumbram com o show business, mantendo os pés no chão, segue a candência
com Shadows e Tears of River, clamando pela preservação do meio ambiente e,
inexoravelmente, da vida, quando nos surpreendem, positivamente, mais uma vez,
com a intrigante Echoes Through the Fourth Dimension na sequência e, sem deixar
decair o ritmo a frente dos presentes, eis que surge a, talvez, mais aclamada
pelos fãs, Mirror of Decay, uma pancada conclamando a marcharmos juntos e,
bradando pelo politicamente correto, sugerindo nos colocarmos no lugar do
outro, Flatland prepara a marretada final – resistindo e superando às
dificuldades de fazer Metal no Brasil e, principalmente, no Nordeste – com
Resilience, encerrando sua participação nessa noite, que ficará na memória dos
camisas pretas de Aracajú. Excelente show dessa pérola nordestina, que ainda não
recebeu o seu devido valor e lugar, mais que merecido, ao sol.
Por volta da meia noite,
os baianos da Viscerall, atração principal do cast, surgem no palco ao som da
sua épica e marcante Intro, pareciam estar em casa, diante da imediata
interação e calorosa receptividade do público presente que, mesmo numa noite
nublada e chuvosa, se fez presente no lado B Studio Pub, celebrando a força do
Metal nordestino e do Brasil. Na estrada desde 2016, formada pelos experientes
Alexandre Humildes (vocal), André Fiscina (Baixo), Davi Carvalho (teclados),
Gleuber Machado (guitarrista), Igor Tavares (guitarrista) e Leandro Araújo
(bateria), iniciam o set chutando a porta de entrada da cidade de Aracaju, com
Death Machine – canção tema do Lyric Vídeo divulgado nas redes sociais em 2018
e bem recepcionado pelo público nacional e até internacional – uma sacudida nos
Metalheads mais curiosos na casa. Na sequência, mantendo a temperatura em alta,
Keeping the Flame Alive faz um convite aos camisas pretas manterem a cena viva
e nossa bandeira, permanentemente hasteada; uma canção com a força do Metal, a
maestria da música clássica e melodias marcantes, daquelas que ao dormir
sonhamos com elas. O massacre seguiu testando a resistência dos batedores de
cabeças, sem tréguas, com a pesada e cadenciada Between the Cross and the
Sword, simplesmente uma marretada pra impulsionar nosso exército metálico a
seguir marchando, sem temer obstáculos e firmes no propósito. Dando seguimento
ao setlist, bastante singular eu diria, fomos brindados com um hard/heavy,
longe do convencional, Into the Darkness (pelo que pude apurar, uma das
favoritas da banda), mostrando que a música pesada não reconhece fronteiras,
colocando abaixo qualquer tipo de prisão ou limite, trazendo uma mensagem muito
forte sobre as drogas em sua letra, alertando sobre o sofrimento em viver na
escuridão; magnífica composição.
A essa altura do show, a
banda Viscerall proporciona o momento mais emocionante da noite, surpreendendo
aos presentes, faz uma merecida homenagem a Fábio Andrade, ex-proprietário do
Lado B Studio Pub – falecido no início deste ano – e também, a sua
ex-companheira, que segue a frente da casa, Araceli Rodrigues, executando, de
forma particular e mágica, a canção All That I Bleed, da consagrada e lendária
banda norte-americana, Savatage, simplesmente de arrepiar diante da aclamação
do público, que interagiu de forma quase solene fazendo desse momento, único.
Retornando ao repertório
autoral, a curta Act Seven faz a transição – com uma breve apresentação dos
membros da banda – para, a também instrumental, Krusaders, provocando o
exército de Headbangers à cerrar fileiras na peleja em nome do Metal, para,
logo em seguida colocar os corações à prova, eis que soam os acordes de mais
uma surpresa da noite, Metal Heart, tributo ao Accept, destacada e emblemática
banda alemã, mais um momento excepcional do show, quando o golpe final é
proferido com Age of Steel, cortante como o aço, chamam os verdadeiros para
construir o nosso Império Metálico.
Fica o gostinho de quero
mais, anunciando que breve estarão de volta às terras sergipanas, para celebrar
o reencontro com os Metalheads do estado, esperando que não demore muito.
Porém, ainda tinha muita
celebração pela frente, eis que, próximo às 2h da manhã, sobe ao palco a banda
Reunion X (tribute band), anunciando que a noite ainda se prolongaria madrugada
a dentro, executando grandes clássicos do Metal. O público, por sua vez, cantou
junto com a banda uma música atrás da outra e o repertório não decepcionou,
iniciando o tributo com March of Time (Helloween) e na sequencia, Edge of
Thorns (Savatage), contando com a preciosa participação do tecladista da
Viscerall, Davi Carvalho. Seguindo a celebração, eis que os sinos dobraram
anunciando For Whom the Bell Tolls (Metallica) e prossegue com The Ripper
(Judas Priest), Sabbath Bloddy Sabbath e Paranoid (Black Sabbath), Don’t Fear
the Night (Omen) e, finalizando em grande estilo o primeiro bloco do setlist,
Abigail (King Diamond), levando ao delírio os bangers presentes. Na sequência,
tentando dar folego ao público, que não arredava o pé do show e iniciando o
segundo bloco da apresentação, os caras surpreendem ainda mais, com Children of
the Damned (Iron Maiden) e A Tale That Wasn’t Right (Helloween). Colocando mais
lenha na fogueira, dando seguimento ao cortejo, com a energia exalando pelos
poros e quase que em uníssono, Breaking the Law (Judas Priest) abala a casa
mais um vez; o que parecia o fim, mas não havia trégua pra essa noite por parte
da Reunion X, ainda tinha uma sequência matadora em homenagem à maior banda de
Heavy Metal da história, Iron Maiden; The Trooper e Aces High decretam o fim,
deixando desfalecidos os bravos Metalheads que resistiram até ali.
Os caras executaram com
qualidade, competência e respeito às canções originais – fazendo dessa noite
algo apoteótico e memorável – deixando o palco com um sonoro bis dos presentes.
Parabéns, ao Lado B
Studio Pub pela receptividade, qualidade dos equipamentos da casa e a atenção
nos bastidores, respeitando os músicos das bandas de forma profissional. Também
ao público que compareceu e ficou até o ultimo acorde da noite, sem deixar cair
a vibração e o nível do calor humano no ambiente.
Vida longa ao Metal
sergipano, nordestino e do Brasil!
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