quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Sem Textão: Carta do editor não é linha editorial




Por Vitor Franceschini

Em tempos de polarização extrema há atitudes e opiniões que nos surpreendem, outras nem tanto. E, publicações jornalísticas, especializadas ou não, dificilmente escapam de rotulações, acusações e/ou de serem classificadas de direita ou esquerda (para ser mais direto aos menos atentos).

Recentemente a polêmica rondou a Roadie Crew, maior revista de Rock e Heavy Metal da América Latina, e que está há mais de 25 anos no mercado, se contarmos a época que ainda era um fanzine. A revista já publicou mais de 240 edições e teve praticamente todos os ícones do Rock e do Metal, internacional e nacional em suas páginas, com capas exclusivas históricas e milhares de bandas de todos os estilos desde o Classic Rock ao mais extremo Metal.

Em uma carta do editor da edição 243 (se não me falha a memória), o editor-chefe Airton Diniz expos algumas de suas opiniões, o que acabou expondo também sua posição em relação à política. Nenhuma novidade, pois o autor, no seu livre direito e liberdade de expressão, sempre deixou claro nas redes sociais e até em alguns flertes nestes editoriais, esta sua posição.

O problema é quem em tempos atuais, isso pode soar ofensivo para muitos e como incentivo para outros. Erroneamente, claro. Por que? Porque a carta do editor ainda assim é algo opinativo, e opinião não é exatamente um fato ou uma verdade. Não é uma linha editorial. Mas, muita polêmica aconteceu na internet, algumas exaltações e muitas críticas, até com menções de boicotes à revista.

Chegando exatamente neste caso, muitos me perguntam por que ainda sou assinante da Roadie Crew (e sou há anos, pela segunda vez, além de acompanhar a revista desde sua oitava edição, ou seja, há mais de 20 anos)? Principalmente sabendo que minhas opiniões se opõem a do editor, assim como visões político-sociais.

Primeiramente porque respeito a opinião alheia e sempre admirei o trabalho do Airton Diniz por erguer a bandeira do Rock e Metal no Brasil com uma publicação impressa, fato dificílimo neste país, assim como tudo que envolve música independente. Inclusive Airton foi fonte de trabalho de faculdade deste que vos escreve (confira a entrevista que fiz com o editor aqui), em um bate papo em que já prevíamos as dificuldades encontradas atualmente no meio jornalístico especializado.

Mas é fundamental ter coerência e saber que a carta do editor nem sempre representa o conteúdo da revista. É ser extremista e irracional se deixar levar por uma opinião, e ignorar que a publicação, riquíssima em informação e conteúdo exclusivo além-internet, não tem cunho ideológico e é repleta de uma rara democracia e liberdade para seus repórteres. Vide que na mesma edição ainda há uma entrevista reveladora com a banda Within Temptation, conduzida pelo excelente Daniel Dutra, onde várias pautas consideradas de esquerda são comentadas, com críticas ao atual governo federal, diga-se de passagem.

Por fim, algo mais particular, porém com uma opinião profissional, já que sou formado em Comunicação Social com ênfase em Jornalismo. Criar uma bolha em torno de se informar através daquilo que somente concorda, além de ser perigoso, geram péssimas críticas e poucos argumentos para debates. É isso.

Vitor Franceschini é editor do ARTE METAL, jornalista graduado, palmeirense e headbanger que ama música em geral, principalmente a boa. Não, não recebi nada financeiro e nem proposta da Roadie Crew.

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