Por Vitor Franceschini
São mais de vinte anos de
carreira e quase quinze sustentando a seguinte formação: Fernando Lima (vocal),
Marcos Amorim e Kerley Ribeiro (guitarras), Rafael Porto (baixo) e Beto Loreiro
(bateria). Exatamente nestes moldes o Drowned lançou “7th” (2018), seu sétimo
registro de estúdio e mais versátil álbum até então. O guitarrista Marcos falou
conosco sobre este novo trabalho, além de outros assuntos que englobam a banda
e a cena.
“7th”
é o disco mais versátil do Drowned e talvez o mais “diferente” da carreira da
banda. Porém, não é novidade que a banda ouse. Afinal, desde a demo “Where Dark
and Light Divide...” (1998), a banda soa diferenciada. Mas, vocês acreditam que
o novo disco é o maior passo evolutivo e ousado do Drowned?
Marcos
Amorim: Possivelmente seja o que as ideias mais variadas
foram melhor compiladas em um único disco. Como você disse, nunca ficamos
amarrados, mas esse talvez seja o disco mais variado de todos, com mais
elementos progressivos, mais variação rítmica, mais vocais em camadas, é um
disco relativamente complexo.
E
como foi o processo de composição deste novo trabalho. Afinal, são seis anos
desde o último lançamento “Belligerent - Part One: The Killing State of the
Art” (2012). O que vocês mantiveram e no que vocês buscaram inovar nos métodos?
Marcos: Nós
tivemos um período de agendas individuais um pouco conflitantes, acabamos nos
atrapalhando um pouco. Somente em 2014 é que começaram a surgir algumas músicas
novas, mas demoramos ainda mais 1 ano até acertar a mão do que queríamos. Creio
que o processo de composição deste disco atual é mais próximo dos discos do
começo da carreira, ensaiando até chegar no ponto ideal. Outros discos a gente
fez coisas mais “fechadas”, menos trabalhadas nos ensaios, mais trabalhadas em
casa. “7th” tem o instrumental todo trabalhado ao vivo, nos ensaios, somente os
vocais, mesmo assim partes, é que saíram com elaboração fora do estúdio.
Ao
invés de comparar com os trabalhos anteriores, gostaria que você destacasse as
principais características de “7th” dentro de suas particularidades e com qual
álbum da discografia do Drowned ele mais se assemelha?
Marcos: Em
termos de semelhança, creio que ele seja um parente próximo do “Bio-violence”
(2006). Ali já havíamos feito algo que para a época foi considerado diferente,
com o tempo as pessoas assimilaram a ideia. “7th” é um disco que tem peso,
melodia, arranjos e finalização harmônicos. Não se pode taxá-lo de Death metal
puro, de Thrash, de Heavy. Nem ignorar que há elementos progressivos. É um
disco que a gente buscou empregar o máximo de expressividade musical. Pode ter
ficado de mais difícil digestão, mas o tempo pode acabar dizendo que estava num
bom caminho.
É
interessante que, novo trabalho, quando ouvimos as bases e solos de guitarra,
sabemos que estamos diante de um trabalho do Drowned. Ou seja, as
características foram mantidas. Porém, vocês inovam nas mudanças de andamentos,
inserindo ‘groove’ nas composições e quebradas intrincadas, mérito da cozinha
que parece o maior diferencial de “7th”. Concorda? Como foi equilibrar tudo
isso?
Marcos: A
parte rítmica foi importante, porque qualquer trecho, até uma valsa, se você
jogar metranca pode virar uma música extrema (risos). O que de fato rola é que
a questão do ‘groove’ sempre esteve presente, se você ouvir a Demo, de 1999,
verá que a faixa Words From The Pit
tem, a próxima Where Dark... é bem isso.
E houve outras em outras passagens musicais, seja no “By The Grace of Evil”
(2004), seja no “Bio-violence”, etc. É que nesse disco, até por ser uma
produção mais cristalina, ficou bem claro o arranjo. Eu vejo com naturalidade,
Faith no More, Pantera e algumas outras bandas também casaram isso com acerto,
creio que é um ponto interessante, não necessariamente vital, mas que dá um
colorido.
Essa
versatilidade do disco mostra a banda menos direta. Isso foi algo intencional
ou vocês procuraram soar dessa forma?
Marcos: Esse
disco foi relativamente feito sem muitos direcionamentos. Quase todos os nossos
surgem assim. Quando já está mais ou menos no meio é que definimos um pouco da
pegada e ajustamos alguns pontos e terminamos. De toda forma, queríamos um disco
mais trabalhado e que não ficasse na cola do “Belligerent...”.
Mesmo
mantendo as partes mais agressivas, as linhas vocais também primam pela
versatilidade, com partes mais brandas e até limpas. Qual foi o objetivo ao
mesclar essas linhas e o como foi trabalha-las?
Marcos:
O
objetivo de variação vocal é tornar a música a mais dinâmica possível.
Interpretamos a música como uma viagem. A viagem pode ser boa ou ruim, a
depender das turbulências e contratempos, mas também porque possui belas
paisagens, um bom clima e você não se perdeu no trajeto. Então vejo o trabalho
de produção vocal importantíssimo para que a pessoa tenha todas as sensações
topográficas que a música precisa ter para não soar monótona, insípida, ou, por
outro lado, over.
“7th”
também se mostra um trabalho homogêneo, onde é necessário ouvi-lo inteiro para
compreende-lo, concorda? Há conexões entre as músicas? Qual mensagem vocês
tentam passar?
Marcos:
“7th” não é um disco com temática fixa, tentamos abordar muita coisa da
atualidade, do ponto de vista lírico. A coesão do material é importante, então
não lidamos com coisas que se chocam, precisamos harmonia no material. E também
gostaríamos que a audição fosse contínua, então pensamos numa sequência de
músicas que pudesse manter esse ritmo, sem abrir tanto espaço para pular de
faixa. O disco só traz todos os elementos que nos são reconhecíveis numa
audição completa, de ponta a ponta, de tal maneira que da primeira à última
faixa você irá reconhecer algo que nos assemelha em outras épocas. Talvez
tenhamos conseguido esse resultado.
E
como tem sido trabalhar a divulgação de “7th” já que o disco saiu no Brasil
pela Cogumelo Records e nos EUA pela Greyhaze Records? Como tem sido a
repercussão do trabalho aqui e lá fora?
Marcos: Repercussão
em geral está boa. A divulgação também está indo bem, mas o que torna o cenário
um pouco turvo é, internamente, a questão econômica, e, externamente, a
necessidade de uma tour, o que ainda reunimos condições pra fazer.
Saindo
um pouco do disco e falando da banda em si. O Drowned completou vinte aos desde
o lançamento da demo “Where Dark and Light Divide...”. Qual o balanço vocês
fazem desses vinte anos, os melhores momentos, piores momentos e qual o
principal diferencial em se trabalhar com Metal no Brasil lá no começo e
atualmente?
Marcos: Metal
no começo da nossa carreira não era bom. Estávamos no baixo dos anos 98. Em Belo
Horizonte estava ruim, começou a ficar bom quando estávamos iniciando. Em 20
anos, experimentamos muita coisa boa, diria que um dos pontos altos da carreira
foi participação em festivais que consideramos muito bons, como o Porão do
Rock, Palco do Rock, Roça’n’Roll, Setembro Negro, Extreme Metal Fest. Além
desse ponto alto aqui no Brasil (grandes eventos), considero realizar a tour do
“Bio-violence” na Europa também um aprendizado pra banda.
Aliás,
a banda mantém essa atual formação há 7 anos. No dinamismo de hoje em dia, isso
é raro. Qual o segredo para chegarem a essa estabilidade?
Marcos: O
Drowned sofreu poucas modificações de formação ao longo dos anos. Nunca houve
formações rápidas, que geraram instabilidade. O Rafael Porto foi a última
modificação do Drowned, isso em 2011, mas antes ele já esteve na banda, de 2000
a 2004. Ou seja, dos atuais 5 integrantes, temos 3 que estão tocando juntos há
mais de 20 anos (Fernando, Beto e Marcos) e dois que estão há mais 11 (Rafael,
somando os períodos) e 14 anos (Kerley). Creio que não somos, em conjunto,
pessoas que pensam tão diferente assim em relação ao som, mesmo que a gente
venha a discordar, ninguém nunca chamou o outro de filho da puta sem razão! (gargalhadas)
Então, considerando que um entende mais ou menos o outro e não temos
divergências musicais, acaba que o entrosamento vem e não se tem necessidade de
mudar.
Quais
os planos para 2019? O que podem nos adiantar?
Marcos: Pretendendo
não parar pra nada, queremos ter um material de covers pra lançar, começar a
fazer música pro próximo disco, que esperamos estar na praça até o final de
2020 e, se der fazer um ao vivo ou uma coletânea de regravações. São os planos,
vamos ver o que conseguiremos concretizar.
Por
fim, momento tiete (risos). É uma honra entrevistar vocês, que foram a primeira
banda com a qual realizei uma matéria e resenha, lá pelos idos de 1999 quando
eu editava o Goredeath Zine (colagens e xerocado) e sempre me trataram com um
baita respeito, inclusive mencionando o zine nos agradecimentos do álbum de
estreia, “Bonegrinder” (2001). Aliás, teve uma história curiosa, pois vocês
enviaram duas demos, e eu acabei enviando de volta uma cópia. Jamais vou
esquecer desta época. Muito obrigado, Drowned!
Marcos:
Pô,
massa demais. Sabe que temos cópia de boa parte de tudo que saia com a gente no
começo de carreira, inclusive do Goredeath n° 1, com Vulcano na capa,
valorizamos demais essa época, porque quando a gente começa, toda banda precisa
do apoio dos zines, dos que se apaixonam pelo o que você está fazendo e achamos
esse um período sensacional da banda e das nossas vidas. O lance da demo
duplicado eu confesso que não me recordo, mas não era só eu quem fazia o
mailing, pode ter ocorrido facilmente, mandamos coisa para cacete naquela
época, divulgamos o que podíamos. Deixo de novo aqui nosso eterno agradecimento
a você, ao público de Metal em geral, que resiste aos estilos mais fáceis e
seguem prestigiando a música pesada! Um abraço a todos!
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