Os mineiros do Seu
Juvenal é aquele tipo de banda que quebra paradigmas. Mas, que fique bem claro
que Bruno Bastos (vocal), Edson Zacca (guitarra), Alexandre Tito (baixo) e Renato
Zaca (bateria) fazem isso por gosto, aliás com muito gosto! Tanto que seu
terceiro disco (inicialmente lançado em vinil) traz o nome de “Rock Errado”.
Conversamos com o guitarrista Zacca que além da produção e divulgação do novo
trabalho, nos falou sobre algumas curiosidades que fazem parte não só do som da
banda mas de tudo que a envolve.
Primeiramente,
como surgiu o Seu Juvenal e da onde veio esse nome (risos)?
Zacca:
Queríamos um nome bem mineiro mesmo, bem roqueiro até. Sempre achamos muito
engraçado os nomes que normalmente se dão para bandas de R. O tal do
"...eitor" ou "...eition" sempre nos soou meio ridículo. Eu
mesmo no começo dos anos 90 tocava numa banda chamada Detonation of Traveition
e era exatamente uma ‘tiração’ de onda com os nomes de bandas de Metal. Juvenal
carrega tudo isto. É um nome simples, mas que para uma banda de Rock causa
estranheza. Gostamos disto.
“Rock
Errado” é o terceiro disco da banda. Houve alguma mudança na forma de compor em
relação aos álbuns anteriores? Enfim, qual foi o processo de composição do novo
trabalho?
Zacca:
Do segundo (“Caixa Preta”) para este a forma de compor só aprimorou. Mantivemos
uma linha. Mas do primeiro pra este a mudança foi radical. No primeiro éramos
seis pessoas tocando e umas oito compondo. Era bem caótico o processo. Neste
último conseguimos nos concentrar mais no que interessa. Fazer Rock brasileiro
de qualidade!
E
quais as diferenças vocês vêem no resultado final de “Rock Errado” em relação
aos trabalhos anteriores?
Zacca:
Nos
anteriores, pela inexperiência em estúdio, não conseguimos o resultado que
imaginávamos. Neste a satisfação foi garantida. Temos muito orgulho e prazer ao
escutar o disco. Nos concentramos muito na criação de arranjos, na execução de
cada faixa, na produção, gravação, mixagem e masterização. Cada etapa foi
pensada artística e tecnicamente.
E
por que decidiram lançá-lo em vinil?
Zacca:
Quando íamos entrar pro estúdio, o Guilherme Diamantino, da Sapólio Discos, nos
convidou para lançarmos em vinil. A partir daí buscamos informações sobre
exatamente o que é gravar um vinil e descobrimos que precisávamos nos cercar de
alguns cuidados. Naturalmente a ideia do vinil foi nos influenciando. Acho que
muito por isto ele saiu com um som bem ‘vintage’. Ele agora está sendo lançado
também em CD pela Sapólio. Tomamos o cuidado de fazer uma master diferente pra
cada mídia.
É
difícil definir a música do Seu Juvenal. Ao mesmo tempo em que a música parece
de difícil digestão em um primeiro momento, ela traz novas descobertas nas
próximas audições, pelo menos no novo disco. O que podem falar a respeito?
Zacca:
Eu
costumo dizer que embora a gente não tenha uma influência musical do Faith No
More, tão evidente temos uma semelhança muito marcante neste sentido. Todos os
discos deles, principalmente a partir do segundo com o Mike Patton (“Angel
Dust”), você só consegue realmente assimilar a partir da terceira ou quarta
audição. Não é uma banda daquelas que você escuta e de cara fica doido com o
som. Sempre tem aquela estranheza e depois vem vindo a onda até você ficar
completamente doido. Não que a gente consiga fazer com as pessoas o que eles
conseguem. Afinal, os caras são uma super banda. Mas sempre me pareceu que quem
gosta mesmo do Seu Juvenal são as pessoas que curtem bandas que a desafiem a
entendê-las. Não entregamos tudo na bandeja pra nossos fãs.
Outro
aspecto é a utilização das letras em forma de poesia, a poesia musicada.
Expliquem melhor isso.
Zacca:
Eu vejo que em nossas letras e na forma de colocá-las nas músicas é onde moram
nossas influências da música popular brasileira. É por causa do Itamar
Assumpção, do Sergio Sampaio, do Walter Franco, do Arnaldo Baptista, dentre
vários outros, que escrevemos nossas letras desta forma.
Nota-se
também um ar sarcástico e ao mesmo tempo rebelde nas músicas.
Zacca:
Acho que nossa raiz Punk fala alto aí. Curtimos muito punk77. E tenho que
admitir que embora nós quatro como pessoas sejamos muito diferentes, dividimos
estas características mutuamente, somos sarcásticos e rebeldes desde o berço e
acredito que seremos até a sepultura.
Como
foi trabalhar com Ronaldo Gini (guitarrista do Virni Lisi) na produção e por
que o escolheram?
Zacca:
O Gino foi produtor de nosso primeiro disco. Mas na época, em 2004, chegamos em
BH, oito malucos do interior, com 12 músicas pra ele gravar em uma semana. Foi ‘doidera’
total. Inesquecível. E ele foi extremamente profissional e deu o seu melhor.
Ficou-se então uma vontade de no futuro gravarmos com ele novamente, mas de uma
forma mais profissional. Foi isto que conseguimos agora. Ele deu uma liga
impressionante nos sons. E o Virna Lisi é uma grande influência nossa. Rock
mineiro extremamente barulhento, esquisito e lírico.
Talvez
o Rock (errado?) a que o Seu Juvenal se proponha tenha um caminho mais difícil
que o próprio Heavy Metal em termos de mercado nacional. Tudo devido à
originalidade, essência desconhecida do grande público, enfim... Como tem sido
a repercussão do trabalho e como é a agenda da banda em termos de shows?
Zacca:
Esperamos
ter um segundo semestre melhor com relação a shows. Ainda não conseguimos nos
organizar para sair pra estrada este ano. Devido aos compromissos individuais
de cada um (todos estamos em torno dos 40) não podemos mais fazer como
antigamente que íamos pra onde o povo estava. Agora estamos trabalhando e
curtindo a repercussão do trabalho que tem sido a melhor desde que a banda foi
formada. O apoio profissional da Sapólio Discos e do Som do Darma na divulgação
tem levado nosso disco pra bem mais longe. Acreditamos que assim, degrau por
degrau, o segundo semestre nos reserva shows bem interessantes.
Bom,
antes de deixar suas considerações finais, uma última pergunta: o que seria o
Rock Errado? (risos)
Zacca:
O
Rock Errado traz dentro dele elementos que andam meio perdidos no Rock
nacional. Letras cruas que dialogam com o ouvinte, som rasgado, uma produção
que não busca a perfeição, mas a respiração, atitude acima da vontade de
vender. Elementos que deveriam ser inerentes a toda banda que se diz roqueira,
mas que na prática não o é. É muita cara de mal pra conteúdo nenhum. O Rock
nacional se distanciou das ruas. Também acho que nosso Rock Errado traz alguns
elementos novos de timbragens e abordagens temáticas. Mas no final das contas
pra mim ele é um soco no estômago do que a grande mídia chama de Rock nacional.
A antítese disto. Nos anos 80 falaram que o Rock errou... agora ele está
assumidamente errado.
Muito
obrigado, esse espaço é de vocês.
Zacca:
Eu só posso agradecer a vocês do Arte Metal por se interessarem pelo Seu
Juvenal e por nos enviarem perguntas tão inteligentes. Acho que o jornalismo
roqueiro brasileiro carece muito disto. Inteligência e originalidade. Nossos
críticos musicais estão precisando sair do mais do mesmo para que as milhares
de excelentes bandas brasileiras de Rock autoral possam ter mais espaço.
Precisamos urgentemente de um "Jornalismo Errado" (risos). Abraços a
todos! Espero que vocês nos vejam ao vivo, pois é sem dúvida o que mais
gostamos de fazer. Valeu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário