quinta-feira, 7 de maio de 2015

Entrevista



Os mineiros do Seu Juvenal é aquele tipo de banda que quebra paradigmas. Mas, que fique bem claro que Bruno Bastos (vocal), Edson Zacca (guitarra), Alexandre Tito (baixo) e Renato Zaca (bateria) fazem isso por gosto, aliás com muito gosto! Tanto que seu terceiro disco (inicialmente lançado em vinil) traz o nome de “Rock Errado”. Conversamos com o guitarrista Zacca que além da produção e divulgação do novo trabalho, nos falou sobre algumas curiosidades que fazem parte não só do som da banda mas de tudo que a envolve.

Primeiramente, como surgiu o Seu Juvenal e da onde veio esse nome (risos)?
Zacca: Queríamos um nome bem mineiro mesmo, bem roqueiro até. Sempre achamos muito engraçado os nomes que normalmente se dão para bandas de R. O tal do "...eitor" ou "...eition" sempre nos soou meio ridículo. Eu mesmo no começo dos anos 90 tocava numa banda chamada Detonation of Traveition e era exatamente uma ‘tiração’ de onda com os nomes de bandas de Metal. Juvenal carrega tudo isto. É um nome simples, mas que para uma banda de Rock causa estranheza. Gostamos disto.

“Rock Errado” é o terceiro disco da banda. Houve alguma mudança na forma de compor em relação aos álbuns anteriores? Enfim, qual foi o processo de composição do novo trabalho?
Zacca: Do segundo (“Caixa Preta”) para este a forma de compor só aprimorou. Mantivemos uma linha. Mas do primeiro pra este a mudança foi radical. No primeiro éramos seis pessoas tocando e umas oito compondo. Era bem caótico o processo. Neste último conseguimos nos concentrar mais no que interessa. Fazer Rock brasileiro de qualidade!

E quais as diferenças vocês vêem no resultado final de “Rock Errado” em relação aos trabalhos anteriores?
Zacca: Nos anteriores, pela inexperiência em estúdio, não conseguimos o resultado que imaginávamos. Neste a satisfação foi garantida. Temos muito orgulho e prazer ao escutar o disco. Nos concentramos muito na criação de arranjos, na execução de cada faixa, na produção, gravação, mixagem e masterização. Cada etapa foi pensada artística e tecnicamente.

E por que decidiram lançá-lo em vinil?
Zacca: Quando íamos entrar pro estúdio, o Guilherme Diamantino, da Sapólio Discos, nos convidou para lançarmos em vinil. A partir daí buscamos informações sobre exatamente o que é gravar um vinil e descobrimos que precisávamos nos cercar de alguns cuidados. Naturalmente a ideia do vinil foi nos influenciando. Acho que muito por isto ele saiu com um som bem ‘vintage’. Ele agora está sendo lançado também em CD pela Sapólio. Tomamos o cuidado de fazer uma master diferente pra cada mídia.

É difícil definir a música do Seu Juvenal. Ao mesmo tempo em que a música parece de difícil digestão em um primeiro momento, ela traz novas descobertas nas próximas audições, pelo menos no novo disco. O que podem falar a respeito?
Zacca: Eu costumo dizer que embora a gente não tenha uma influência musical do Faith No More, tão evidente temos uma semelhança muito marcante neste sentido. Todos os discos deles, principalmente a partir do segundo com o Mike Patton (“Angel Dust”), você só consegue realmente assimilar a partir da terceira ou quarta audição. Não é uma banda daquelas que você escuta e de cara fica doido com o som. Sempre tem aquela estranheza e depois vem vindo a onda até você ficar completamente doido. Não que a gente consiga fazer com as pessoas o que eles conseguem. Afinal, os caras são uma super banda. Mas sempre me pareceu que quem gosta mesmo do Seu Juvenal são as pessoas que curtem bandas que a desafiem a entendê-las. Não entregamos tudo na bandeja pra nossos fãs.



Outro aspecto é a utilização das letras em forma de poesia, a poesia musicada. Expliquem melhor isso.
Zacca: Eu vejo que em nossas letras e na forma de colocá-las nas músicas é onde moram nossas influências da música popular brasileira. É por causa do Itamar Assumpção, do Sergio Sampaio, do Walter Franco, do Arnaldo Baptista, dentre vários outros, que escrevemos nossas letras desta forma.

Nota-se também um ar sarcástico e ao mesmo tempo rebelde nas músicas.
Zacca: Acho que nossa raiz Punk fala alto aí. Curtimos muito punk77. E tenho que admitir que embora nós quatro como pessoas sejamos muito diferentes, dividimos estas características mutuamente, somos sarcásticos e rebeldes desde o berço e acredito que seremos até a sepultura.

Como foi trabalhar com Ronaldo Gini (guitarrista do Virni Lisi) na produção e por que o escolheram?
Zacca: O Gino foi produtor de nosso primeiro disco. Mas na época, em 2004, chegamos em BH, oito malucos do interior, com 12 músicas pra ele gravar em uma semana. Foi ‘doidera’ total. Inesquecível. E ele foi extremamente profissional e deu o seu melhor. Ficou-se então uma vontade de no futuro gravarmos com ele novamente, mas de uma forma mais profissional. Foi isto que conseguimos agora. Ele deu uma liga impressionante nos sons. E o Virna Lisi é uma grande influência nossa. Rock mineiro extremamente barulhento, esquisito e lírico.

Talvez o Rock (errado?) a que o Seu Juvenal se proponha tenha um caminho mais difícil que o próprio Heavy Metal em termos de mercado nacional. Tudo devido à originalidade, essência desconhecida do grande público, enfim... Como tem sido a repercussão do trabalho e como é a agenda da banda em termos de shows?
Zacca: Esperamos ter um segundo semestre melhor com relação a shows. Ainda não conseguimos nos organizar para sair pra estrada este ano. Devido aos compromissos individuais de cada um (todos estamos em torno dos 40) não podemos mais fazer como antigamente que íamos pra onde o povo estava. Agora estamos trabalhando e curtindo a repercussão do trabalho que tem sido a melhor desde que a banda foi formada. O apoio profissional da Sapólio Discos e do Som do Darma na divulgação tem levado nosso disco pra bem mais longe. Acreditamos que assim, degrau por degrau, o segundo semestre nos reserva shows bem interessantes.

Bom, antes de deixar suas considerações finais, uma última pergunta: o que seria o Rock Errado? (risos)
Zacca: O Rock Errado traz dentro dele elementos que andam meio perdidos no Rock nacional. Letras cruas que dialogam com o ouvinte, som rasgado, uma produção que não busca a perfeição, mas a respiração, atitude acima da vontade de vender. Elementos que deveriam ser inerentes a toda banda que se diz roqueira, mas que na prática não o é. É muita cara de mal pra conteúdo nenhum. O Rock nacional se distanciou das ruas. Também acho que nosso Rock Errado traz alguns elementos novos de timbragens e abordagens temáticas. Mas no final das contas pra mim ele é um soco no estômago do que a grande mídia chama de Rock nacional. A antítese disto. Nos anos 80 falaram que o Rock errou... agora ele está assumidamente errado.

Muito obrigado, esse espaço é de vocês.
Zacca: Eu só posso agradecer a vocês do Arte Metal por se interessarem pelo Seu Juvenal e por nos enviarem perguntas tão inteligentes. Acho que o jornalismo roqueiro brasileiro carece muito disto. Inteligência e originalidade. Nossos críticos musicais estão precisando sair do mais do mesmo para que as milhares de excelentes bandas brasileiras de Rock autoral possam ter mais espaço. Precisamos urgentemente de um "Jornalismo Errado" (risos). Abraços a todos! Espero que vocês nos vejam ao vivo, pois é sem dúvida o que mais gostamos de fazer. Valeu.


Nenhum comentário:

Postar um comentário