terça-feira, 13 de setembro de 2016

Entrevista: Woslom




Por Vitor Franceschini

Os paulistanos do Woslom estão há quase 20 anos na estrada sob tal alcunha. Porém, há seis anos, quando lançaram seu primeiro álbum, as coisas começaram a mudar de acordo para a banda. Com a engrenagem rodando, o quarteto soltou o segundo disco e atualmente divulga seu terceiro e mais bem sucedido trabalho, “A Near Life Experience” (2016). Colhendo os primeiros frutos do trabalho, com shows no exterior e repercussão mais que considerável, a banda mantém os pés no chão e continua o trabalho de divulgação de seu mais recente disco. O baterista Fernando Oster conversou com o ARTE METAL e falou um pouco mais do novo álbum e tudo o que o circunda, além das perspectivas e outros assuntos relativos à banda. Completam o time Silvano Aguilera (vocal/guitarra), Rafael Iak (guitarra) e André Mellado (baixo)


Em “Time To Rise” (2010) o Woslom já mostrava a que veio fazendo algo bem característico e com personalidade. “Evolustruction” (2013) enfatizou essas características e mostrou uma banda evoluída e criativa. “A Near Life Experience” (2016) junta tudo isso e mais um pouco. Esse crescimento gradativo foi algo que a banda sempre planejou ou natural? Vocês vivem o melhor momento da carreira do grupo?
Fernando Oster: Olha foi algo natural mesmo, até porque nós sentimos que evoluímos como banda e como músicos após esses 6 anos de trabalho mais intenso. O Woslom é bem planejado, traçamos muitos planos e corremos atrás para concluí-los, mas nesse caso aí foi mesmo natural. Sem dúvida estamos no melhor momento, mas esperamos ter ainda momentos melhores (risos).

Há algo que a banda manteve no jeito de compor em relação aos outros trabalhos e/ou também algo que vocês inovaram completamente?
Fernando: Neste álbum seguimos mais ou menos o mesmo modelo de composição do “Evolustruction”, ou seja, nos focamos em criar a partir de determinado ponto e trabalhamos nisso. Normalmente o Rafa (guitarrista) é quem traz todo o esqueleto das composições meio pronto, já com alguns arranjos e a partir dali vamos desenvolvendo outros detalhes. Depois vamos ‘letrando’ a música. Dessa vez nós tomamos alguns cuidados maiores como fazer composições mais diretas, sem ser tão intrincado, métricas e letras que combinavam melhores com sons e vocais, sempre seguindo as nossas características pessoais. Não posso dizer que inovamos, mas aprimoramos algumas coisas e tenho certeza que essa será a forma que vamos seguir, buscando sempre o nosso jeito de fazer.

O Speed/Thrash Metal é mantido no novo trabalho, mas “A Near Life Experience” é mais abrangente que isso. Como você o classificaria sonoramente falando?
Fernando: Ainda acho que é só Thrash Metal, difícil rotular, é Metal e pronto. Mas o que nós buscamos é dar uma cara nossa para o nosso som, isso é o mais complicado e difícil. Criar uma identidade é o desafio, nós queremos chegar ao ponto do ouvinte nos identificar sem saber qual banda é.

Apesar do equilíbrio entre as composições, na opinião deste que vos entrevista há três composições que são verdadeiros hinos. Caso da faixa título, Rendemption e Lords of War. Claro que você concorda que são ótimas composições, mas o que poderia falar das mesmas?
Fernando: Eu me lembro que durante a composição do álbum nós conversamos muito sobre compor músicas longas e o cuidado que você tem que tomar com isso. A música longa tem que ser legal de se ouvir e ela tem que parecer que tem 3 minutos, eu acho que conseguimos isso com A Near Life Experience. Já Redemption eu insisti pro Rafa seguir essa composição, pois eu sempre acreditei no riff principal dela e esta foi a última a ficar pronta, coisa de uma semana antes de eu começar as sessões de bateria. A Lords of War nós quisemos aplicar alguns elementos mais Death e foi um grande desafio fazê-la, pois ela tem um beat mais acelerado do que estamos acostumados, vocais mais guturais, coisas que não havíamos aplicado antes. Acho que conseguimos fazer algo do nosso jeito, dando a nossa cara para ela.

Há composições no novo álbum que você vê como especiais?
Fernando: Todas são especiais para nós, pois pensamos em todos os detalhes de cada uma. Talvez o cover seja algo mais especial, pois tratamos ele de uma forma diferente. Ali o desafio é transformar algo que já existe, então isso acaba sendo algo especial. Mas de nossa autoria é difícil dizer, talvez cada um sugira uma. Eu particularmente me identifico com a Redemption por ter estudado um pouco sobre a doença de Esclerose Múltipla Lateral e ter lido muito sobre o Jason Becker.



Apesar de não ser conceitual, “A Near Life Experience” traz mensagens fortes em suas letras. A ‘vida’ seria uma forma que resumisse a mensagem do disco? Fale um pouco da mensagem que passam no trabalho.
Fernando: É engraçado que o nome do disco acabou vindo muito depois de algumas músicas, na verdade essa música nem tinha esse nome inicialmente. Alguns temas estavam prontos como Lapses of Sin e Underworld of Aggression. Redemption já tinha o tema, mas não tinha o nome. Lords of War também não tinha esse nome. E quando surgiu esse nome, de cara eu falei, é esse. Ele traz sofisticação e ao mesmo tempo uma mensagem que acabava se completando com o resto dos temas. É até estranho porque normalmente você parte de um tema principal para decorrer nos demais, foi assim com o “Evolustruction”, o nome foi a primeira coisa que surgiu. Mas neste o nome veio no final e interligava tudo. Acho que a ideia principal e é a forma como gostamos de escrever as letras é essa, falar do comportamento humano, fazer as pessoas pensarem um pouco, ir nas entrelinhas. É quase algo filosófico. Então a ideia de que não estamos vivendo da melhor forma sempre será um ponto a ser questionado.

Aliás, a capa também traz diversas mensagens e é a melhor da banda até então. Como foi o trabalho em cima da arte?
Fernando: A capa sempre foi algo que sabíamos que poderíamos melhorar e muito. Então a ideia aqui foi buscar alguém especialista mesmo para desenhá-la. Isso ficou a cargo do André (baixista) e do Silvano (vocalista/guitarrista) e o André até insistiu para fazermos com o Mario Lopez da Guatemala. Conhecemos o trabalho dele através de outras bandas do nosso selo europeu e bandas com as quais tocamos na Europa. E ao passarmos a ideia inicial ele já captou de primeira e entregou um esboço animal. Dali pra frente foi só trabalhar nos detalhes, algo que o André também fez questão de seguir foi a ideia de “Somewhere in Time” (1986) do Iron Maiden. Acho que definitivamente conseguimos nossa melhor capa também.

A produção de “A Near Life Experience” é outro fator preponderante para a qualidade do trabalho. Como foi produzir o próprio disco e o porquê optaram por isso, além de ter Danilo Pozzani na mixagem e masterização de Neto Grous no Absolute Master?
Fernando: Bom, a produção é algo que sempre assinamos nos nossos trabalhos. Nós ainda não conseguimos pensar em trabalhar com um produtor, de ter um cara que fica pegando no seu pé e dizendo pra você mudar algo que você acha que está bom. Nós achamos que para trabalhar com um produtor, temos que estar preparados para isso e ainda não era a hora. Então nós gostamos de fazer tudo nós mesmos. E quando optamos novamente pelo Danilo e pelo Acustica Studios, é porque sabíamos que ali poderíamos trabalhar bem tranquilos, pois o Danilo sabe bem como a gente trabalha. Obviamente ele acaba sendo o 5º elemento da banda ali naquele mês de produção. E toda parte técnica de captação e engenharia fica por conta dele também. Toda a parte de produção em si como sonoridade, formas de se tocar, obviamente a composição em si, fica por nossa conta. A gente só pede pra ele desempatar quando estamos divididos. Já a masterização no Absolute Master caiu como uma luva, pois temos aqui um estúdio dedicado a isso, com equipamentos e mão de obra de ponta. Então ninguém melhor do que eles para finalizar o trabalho. Nós fizemos questão de ir até lá pessoalmente junto com o Danilo pra finalizar o CD junto ao Neto Grous.

A banda retornou de uma turnê pela Europa. Qual o saldo dessa tour, o que mais destacariam do cenário europeu e no que a cena brasileira precisa se espelhar na de lá?
Fernando: Legal essa pergunta. Respondendo por partes. Nós já estamos fazendo um trabalho na Europa há 4 anos, todos nossos trabalhos foram lançados lá e já temos um nome conhecido no underground por ali. Nesta tour conseguimos participar de alguns festivais de pequeno e médio porte. O saldo foi muito positivo, sem dúvida nossa melhor tour até o momento. O que é possível destacar lá, obviamente é a organização, cumprimento do acordado e principalmente amor pelo Metal que eles têm. Outro ponto importante que eu gostaria de dizer é que Metal underground é complicado em qualquer lugar, mesmo na Europa. Então algo que tem que ficar claro pra nossa cena aqui é que não adianta reclamar. Acho que existe algo natural do brasileiro que é reclamar de tudo e de todos. As bandas reclamam, o produtor reclama, o dono do bar reclama, a imprensa, o público....todo mundo vai lá no Facebook e escreve um monte de merda, só veem o lado negativo. Tudo é ruim, a cena é fraca, o público que não comparece, etc... Parem com isso e façam mais! Na Europa também tocamos pra públicos pequenos, também tem promotor que não promove direito, clubes com infra ruim. Mas ninguém reclama, todos se divertem e fazem acontecer, todos fazem o seu trabalho da melhor forma possível. Aqui o pessoal tem mania de achar que tudo tem que ser perfeito, a banda tem que ser melhor que o Iron Maiden, o produtor tem que encher um estádio, a infra da casa tem que ser de uma casa de show conceituada e o público tem que se cotovelar no meio a milhares de pessoas no evento. Aí a imprensa enche a boca pra falar bem. Querem algo assim? Vão curtir outra coisa então. Metal é underground, é pra quem gosta mesmo, é livre, aberto, não tem regras não existe o bem sucedido ou o mal sucedido.

Quais os planos da banda agora, o que vocês podem nos adiantar em termos de shows e divulgação do novo trabalho?
Fernando: Bem, shows e divulgação do trabalho (risos). Desta vez optamos por ir em um caminho um pouco diferente, nossos videoclipes devem sair posteriormente, estamos buscando consolidar mais tours dentre eventos singulares. Buscar mais parcerias também é o nosso foco. Acho que não tem muito segredo pra bandas independentes como nós, temos que trabalhar e trabalhar.

E como tem sido a repercussão de “A Near Life Experience” até então?
Fernando: Tem sido boa, as resenhas pela imprensa especializada tanto aqui como lá foram positivas. As vendas de material durante a tour foram excelentes. O feedback das pessoas também. Temos conseguido participar de eventos maiores, as parcerias também estão aparecendo. As coisas estão caminhando e isso nos motiva muito.

Muito obrigado pela entrevista, este espaço é para as considerações finais.
Fernando: Nós que agradecemos a oportunidade de expor um pouco aqui do nosso trabalho e convidamos as pessoas a abrir a mente e conhecer coisa nova. Também gostaria muito de agradecer nossos apoiadores, que nos ajudam demais, Punishment 18, Shinigami Records, Metal Of Crypt, Acustica Studios, Absolute Master, Estudio V8, Santo Rock, Metal Media, Baquetas Controlle, Dunamiz Shop Guitars, Edu Lawless Photography.


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