Mais da metade da vida
dedicada ao Metal, em especial o Thrash/Death Metal. A primeira assinatura do
Torture Squad, hoje um dos principais nomes do Metal extremo nacional. Com sua
voz ímpar, Vitor Rodrigues se tornou um ícone do Metal nacional naturalmente e
hoje, mesmo musicalmente em um hiato (apenas opinando e falando sobre o assunto
em sua página oficial, veja no final da coluna), é respeitado pelo seu legado e
contribuição com uma cena forte, mas que vive aos trancos e barrancos. Este é o
nosso convidado de hoje da seção Killing Yourself.
“Shivering”
- Torture Squad (1995): O começo de tudo. Não sabíamos de
nada a respeito de estúdio, timbragem, enfim... todos os elementos de uma
gravação de CD, mas por um outro lado estávamos extremamente empolgados com a
chance de gravar e ter um material para a posteridade. O disco é muito
influenciado pelo Doom Metal, estilo que a gente estava ouvindo muito.
Candlemass e Solitude Aeturnus eram sons que nos influenciavam acrescidos de
outros estilos dentro do Metal e isso deu vida à sonoridade do “Shivering” com
músicas tendo passagens mais lentas e climáticas. Um fator que também foi
decisivo para que a gente colocasse a mão na massa foi o produtor do álbum
desconhecer por completo a palavra "peso", e, portanto, nós tínhamos
que traduzir para ele o que essa palavra significava para a gravação e mixagem
nas músicas. De qualquer forma o resultado foi mais do que esperado e digno de
nota por ser o primeiro passo, enfim, por começar a partir daquele momento uma
carreira extremamente criativa e promissora. Tivemos um problema com o primeiro
distribuidor querendo passar a perna na gente, mas em 1998 dois amigos nossos,
Alexandre e Renato, donos da Destroyer Records resolveram fazer uma segunda
edição do “Shivering”, e a partir daí as coisas começam a funcionar.
Torture Squad na década de 1990 |
“Asylum
Of Shadows” - Torture Squad (1999): Muitos
não sabem, mas antes desse álbum ser lançado eu tinha saído da banda. Estava
meio perdido, sem emprego e sem estudo e foi uma fase meio depressiva. Minha
irmã me ajudou muito arranjando livros espíritas para que eu voltasse à
"realidade" e seguisse o caminho que havia perdido. Sobre o disco, dá
pra perceber uma aura meio obscura. Foi o primeiro disco a ser produzido por
Marcello Pompeu do Korzus e nem preciso falar que foi uma baita honra ser
gravado por esse grande talento e frontman do Metal nacional. Metade das letras
o Castor já tinha criado e as músicas estavam praticamente finalizadas, ou
seja, era só colocar letras em metade dessas músicas e gravá-las. O título “Asylum
Of Shadows” é uma alusão ao Umbral, estado ou lugar transitório por onde passam
as pessoas que não souberam aproveitar a vida na Terra. Aliás, A palavra
"umbral" vem de umbra, que em latim significa "sombra", por
isso o clima sombrio desse disco. Por muito tempo a música Finally The Disgrace Reigns fechava os shows do Torture Squad, e
foi com esse disco que fizemos nossa primeira ida à Europa no ano 2000
convidados pela banda alemã Grin.
“The
Unholy Spell” - Torture Squad (2001): Produzido pelo Ciero,
optamos por um som mais analógico, simplesmente porque queríamos experimentar
novas ideias. É um disco mais Thrash em relação ao “Asylum...” que oscilava
entre o Death e o Thrash, e traz músicas mais diretas porém com riffs e bases
mais complexas resultantes dos ensaios diários que fazíamos. O álbum abre com a
faixa-título do álbum e ela carrega um refrão emblemático, e o disco segue com
faixas realmente boas. Under The Wings Of
Empire tem uma história curiosa; Amilcar ficou muito interessado em uma
edição da revista Veja cujo título era “Sob As Asas Do Império”, e o texto - de
7 páginas - falava sobre o poder e a influência da economia americana em
relação aos outros países, em especial o Brasil. Eu li e reli várias vezes
todas as 7 páginas para encontrar um link e dessa forma fazer a letra. Obs.: A
capa era a grande águia americana observando ameaçadoramente o canarinho
brasileiro (risos). Após muitos rabiscos e papéis jogados no lixo resolvi dar
um tempo e fui assistir TV. Coloquei na Cultura porque gostava - e ainda gosto
- dos programas, aliás nessa época eu não tinha canais a cabo. Foi quando
começou o documentário “Anos De Chumbo” que fala sobre a Segunda Guerra
Mundial, e como eu gosto de História então foi só me ajeitar no sofá e
assistir. Eis que de repente me deparo com uma cena que mostra estandartes com
uma águia estilizada, a águia do Nazismo, e aquilo foi como se fosse uma luz
que acendeu na minha cabeça, ou seja, não preciso falar do império econômico
americano, mas posso falar de outro "império", e após o documentário
ter acabado, corri imediatamente para a minha mesa e as letras surgiam na minha
cabeça como cascatas. Under Wings Of
Empire é uma das músicas que eu mais gosto porque mostra o clima e as
atrocidades nazistas tanto musicalmente como liricamente.
“Pandemonium”
- Torture Squad (2003): Totalmente influenciado pelos
acontecimentos do 11 de setembro, “Pandemonium” é o disco que mais gosto. Em 38
minutos estão diluídos riffs matadores, solos ferozes, bateria e baixo numa
coesão perfeita, e os vocais dando a entender o desespero e os medos que o
mundo atravessava. Um dos mais cultuados discos do começo da década estando ao
lado de “Reign In Blood” (1986) do Slayer e “Master Of Puppets” (1986) do
Metallica em sites especializados de música pesada, e isso só mostra o momento
especial que estávamos passando. Foi o primeiro disco gravado por Mauricio Nogueira
substituindo o fundador da banda Cristiano Fusco, e como o Maurício vem da
escola do Kerry King as bases são memoráveis e os solos inspirados e de um
talento ímpar. Esse disco deu um status icônico ao Torture Squad e o motivo são
todas as faixas muito bem elaboradas, criativas, e que carregam uma verdadeira
dinâmica que dá um clima de verdadeiro pandemônio em todos os sentidos. Foi
através dele que fomos ganhando espaço não só aqui no Brasil como lá fora
também fazendo várias turnês internacionais chegando a ganhar o Wacken Metal
Battle de 2007, fato esse que considero um dos ápices da minha carreira, e o
que faz desse álbum tão poderoso é dar ao ouvinte uma experiência única ao
ouvi-lo.
“Hellbound”
- Torture Squad (2008): Após
ter vencido o Metal Battle, o Torture Squad assina um contrato com a Wacken
Records e o “Hellbound” é lançado. Acho que a palavra que pode definir esse
disco é... grandioso, tanto na intro épica do álbum como nas músicas. Faixas
como Man Behind The Mask, Twilight For All Mankind, e a
faixa-título denota uma sofisticação e uma progressão natural nas composições
do Torture. A gravação está muito superior aos álbuns anteriores,
principalmente nos vocais que estão mais "na cara", e a parte
instrumental também está poderosa. Há também uma evolução natural nas minhas
letras nesse disco versando sobre guerras cibernéticas (Cyberwar), casos de padres pedófilos (Man Behind The Mask), a indústria do medo (Chaos Corporation), entre outros assuntos que infelizmente são bem
atuais. Nesse disco as guitarras foram gravadas por Maurício Nogueira, mas como
ele saiu após o álbum ser lançado, a gravadora Wacken Records opta em colocar
na contra-capa do CD o guitarrista Augusto Lopes, que fez um trabalho no mínimo
brilhante na turnê do “Hellbound” na Europa e no Brasil. Produzido novamente
por Marcello Pompeu e Heros Trench (“Asylum Of Shadows”, “Pandemonium”, “Death,
Chaos And Torture Alive - Ao Vivo”, e “DVD”), o “Hellbound” é o segundo disco
da trilogia Inferno-Purgatório-Céu começado pelo “Pandemonium”. Com esse álbum,
nós excursionamos por 5 meses pela Europa tocando em mais de 20 países, sendo
que a maioria dos shows foi com a banda holandesa Cilice, e o ápice da tour foi
justamente tocar no Wacken Open Air daquele ano como banda convidada.
Voodoopriest |
“Mandu”
- Voodoopriest (2014): Um disco que resgata minhas raízes
indígenas, “Mandu” é um disco conceitual e conta a história desse grande
guerreiro nativo e que infelizmente não está nos livros de escola. Após ver o
massacre de sua tribo, Mandu - da tribo Arani - foi levado para um aldeamento
jesuíta aos 7 anos de idade e lá permanece juntamente com os índios Cariris. Os
padres vendo que ele era um índio astuto, e de enorme inteligência e com
vontade de aprender, resolvem ensiná-lo a ler, escrever com conhecimentos de
História, Latim e Português. Aos 15 anos, os padres tiveram que ser
substituídos por outros religiosos com uma postura mais radical. Esses novos
jesuítas obrigam os índios a abandonarem por completo suas crenças, queimando
artefatos sagrados para os nativos. Em represália, os índios queimam a igreja
dos jesuítas matando-os em seguida e fugindo para a mata. Após essa fuga, Mandu
é recapturado, mas como sabia ler e escrever colocam-no como mediador entre os
conquistadores e os índios, porém o que ele vê é traição e muita crueldade do
homem branco em relação aos nativos, e ao ver uma índia ser brutalmente
assassinada, Mandu resolve de uma vez por todas lutar pela sua raça. Chamada de
Revolta de Mandu Ladino, esse grande guerreiro segue mata adentro fazendo
alianças com tribos indígenas e unindo até mesmo tribos rivais para lutarem
lado a lado contra o maldito invasor branco. Mandu chegou a ter 4000 índios
lutando em várias frentes e ocasionando verdadeiro prejuízo para a coroa
portuguesa. Infelizmente o grande guerreiro foi traído pelos índios Ibiapavas,
e na perseguição sendo alvejado pelas costas vindo a morrer afogado.
Musicalmente falando temos faixas bem elaboradas, pesadas e criativas. Na parte
lírica foi um desafio gigantesco traduzir todo esse sentimento em palavras,
porém é perceptível a minha alegria em sentir que a tarefa foi magistralmente
cumprida com êxito.
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