quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Killing Yourself: Vitor Rodrigues (ex-Torture Squad e Voodoopriest)




Mais da metade da vida dedicada ao Metal, em especial o Thrash/Death Metal. A primeira assinatura do Torture Squad, hoje um dos principais nomes do Metal extremo nacional. Com sua voz ímpar, Vitor Rodrigues se tornou um ícone do Metal nacional naturalmente e hoje, mesmo musicalmente em um hiato (apenas opinando e falando sobre o assunto em sua página oficial, veja no final da coluna), é respeitado pelo seu legado e contribuição com uma cena forte, mas que vive aos trancos e barrancos. Este é o nosso convidado de hoje da seção Killing Yourself.

“Shivering” - Torture Squad (1995): O começo de tudo. Não sabíamos de nada a respeito de estúdio, timbragem, enfim... todos os elementos de uma gravação de CD, mas por um outro lado estávamos extremamente empolgados com a chance de gravar e ter um material para a posteridade. O disco é muito influenciado pelo Doom Metal, estilo que a gente estava ouvindo muito. Candlemass e Solitude Aeturnus eram sons que nos influenciavam acrescidos de outros estilos dentro do Metal e isso deu vida à sonoridade do “Shivering” com músicas tendo passagens mais lentas e climáticas. Um fator que também foi decisivo para que a gente colocasse a mão na massa foi o produtor do álbum desconhecer por completo a palavra "peso", e, portanto, nós tínhamos que traduzir para ele o que essa palavra significava para a gravação e mixagem nas músicas. De qualquer forma o resultado foi mais do que esperado e digno de nota por ser o primeiro passo, enfim, por começar a partir daquele momento uma carreira extremamente criativa e promissora. Tivemos um problema com o primeiro distribuidor querendo passar a perna na gente, mas em 1998 dois amigos nossos, Alexandre e Renato, donos da Destroyer Records resolveram fazer uma segunda edição do “Shivering”, e a partir daí as coisas começam a funcionar.

Torture Squad na década de 1990


“Asylum Of Shadows” - Torture Squad  (1999): Muitos não sabem, mas antes desse álbum ser lançado eu tinha saído da banda. Estava meio perdido, sem emprego e sem estudo e foi uma fase meio depressiva. Minha irmã me ajudou muito arranjando livros espíritas para que eu voltasse à "realidade" e seguisse o caminho que havia perdido. Sobre o disco, dá pra perceber uma aura meio obscura. Foi o primeiro disco a ser produzido por Marcello Pompeu do Korzus e nem preciso falar que foi uma baita honra ser gravado por esse grande talento e frontman do Metal nacional. Metade das letras o Castor já tinha criado e as músicas estavam praticamente finalizadas, ou seja, era só colocar letras em metade dessas músicas e gravá-las. O título “Asylum Of Shadows” é uma alusão ao Umbral, estado ou lugar transitório por onde passam as pessoas que não souberam aproveitar a vida na Terra. Aliás, A palavra "umbral" vem de umbra, que em latim significa "sombra", por isso o clima sombrio desse disco. Por muito tempo a música Finally The Disgrace Reigns fechava os shows do Torture Squad, e foi com esse disco que fizemos nossa primeira ida à Europa no ano 2000 convidados pela banda alemã Grin.



“The Unholy Spell” - Torture Squad (2001): Produzido pelo Ciero, optamos por um som mais analógico, simplesmente porque queríamos experimentar novas ideias. É um disco mais Thrash em relação ao “Asylum...” que oscilava entre o Death e o Thrash, e traz músicas mais diretas porém com riffs e bases mais complexas resultantes dos ensaios diários que fazíamos. O álbum abre com a faixa-título do álbum e ela carrega um refrão emblemático, e o disco segue com faixas realmente boas. Under The Wings Of Empire tem uma história curiosa; Amilcar ficou muito interessado em uma edição da revista Veja cujo título era “Sob As Asas Do Império”, e o texto - de 7 páginas - falava sobre o poder e a influência da economia americana em relação aos outros países, em especial o Brasil. Eu li e reli várias vezes todas as 7 páginas para encontrar um link e dessa forma fazer a letra. Obs.: A capa era a grande águia americana observando ameaçadoramente o canarinho brasileiro (risos). Após muitos rabiscos e papéis jogados no lixo resolvi dar um tempo e fui assistir TV. Coloquei na Cultura porque gostava - e ainda gosto - dos programas, aliás nessa época eu não tinha canais a cabo. Foi quando começou o documentário “Anos De Chumbo” que fala sobre a Segunda Guerra Mundial, e como eu gosto de História então foi só me ajeitar no sofá e assistir. Eis que de repente me deparo com uma cena que mostra estandartes com uma águia estilizada, a águia do Nazismo, e aquilo foi como se fosse uma luz que acendeu na minha cabeça, ou seja, não preciso falar do império econômico americano, mas posso falar de outro "império", e após o documentário ter acabado, corri imediatamente para a minha mesa e as letras surgiam na minha cabeça como cascatas. Under Wings Of Empire é uma das músicas que eu mais gosto porque mostra o clima e as atrocidades nazistas tanto musicalmente como liricamente.



“Pandemonium” - Torture Squad (2003): Totalmente influenciado pelos acontecimentos do 11 de setembro, “Pandemonium” é o disco que mais gosto. Em 38 minutos estão diluídos riffs matadores, solos ferozes, bateria e baixo numa coesão perfeita, e os vocais dando a entender o desespero e os medos que o mundo atravessava. Um dos mais cultuados discos do começo da década estando ao lado de “Reign In Blood” (1986) do Slayer e “Master Of Puppets” (1986) do Metallica em sites especializados de música pesada, e isso só mostra o momento especial que estávamos passando. Foi o primeiro disco gravado por Mauricio Nogueira substituindo o fundador da banda Cristiano Fusco, e como o Maurício vem da escola do Kerry King as bases são memoráveis e os solos inspirados e de um talento ímpar. Esse disco deu um status icônico ao Torture Squad e o motivo são todas as faixas muito bem elaboradas, criativas, e que carregam uma verdadeira dinâmica que dá um clima de verdadeiro pandemônio em todos os sentidos. Foi através dele que fomos ganhando espaço não só aqui no Brasil como lá fora também fazendo várias turnês internacionais chegando a ganhar o Wacken Metal Battle de 2007, fato esse que considero um dos ápices da minha carreira, e o que faz desse álbum tão poderoso é dar ao ouvinte uma experiência única ao ouvi-lo.



“Hellbound” - Torture Squad  (2008): Após ter vencido o Metal Battle, o Torture Squad assina um contrato com a Wacken Records e o “Hellbound” é lançado. Acho que a palavra que pode definir esse disco é... grandioso, tanto na intro épica do álbum como nas músicas. Faixas como Man Behind The Mask, Twilight For All Mankind, e a faixa-título denota uma sofisticação e uma progressão natural nas composições do Torture. A gravação está muito superior aos álbuns anteriores, principalmente nos vocais que estão mais "na cara", e a parte instrumental também está poderosa. Há também uma evolução natural nas minhas letras nesse disco versando sobre guerras cibernéticas (Cyberwar), casos de padres pedófilos (Man Behind The Mask), a indústria do medo (Chaos Corporation), entre outros assuntos que infelizmente são bem atuais. Nesse disco as guitarras foram gravadas por Maurício Nogueira, mas como ele saiu após o álbum ser lançado, a gravadora Wacken Records opta em colocar na contra-capa do CD o guitarrista Augusto Lopes, que fez um trabalho no mínimo brilhante na turnê do “Hellbound” na Europa e no Brasil. Produzido novamente por Marcello Pompeu e Heros Trench (“Asylum Of Shadows”, “Pandemonium”, “Death, Chaos And Torture Alive - Ao Vivo”, e “DVD”), o “Hellbound” é o segundo disco da trilogia Inferno-Purgatório-Céu começado pelo “Pandemonium”. Com esse álbum, nós excursionamos por 5 meses pela Europa tocando em mais de 20 países, sendo que a maioria dos shows foi com a banda holandesa Cilice, e o ápice da tour foi justamente tocar no Wacken Open Air daquele ano como banda convidada.

Voodoopriest


“Mandu” - Voodoopriest (2014): Um disco que resgata minhas raízes indígenas, “Mandu” é um disco conceitual e conta a história desse grande guerreiro nativo e que infelizmente não está nos livros de escola. Após ver o massacre de sua tribo, Mandu - da tribo Arani - foi levado para um aldeamento jesuíta aos 7 anos de idade e lá permanece juntamente com os índios Cariris. Os padres vendo que ele era um índio astuto, e de enorme inteligência e com vontade de aprender, resolvem ensiná-lo a ler, escrever com conhecimentos de História, Latim e Português. Aos 15 anos, os padres tiveram que ser substituídos por outros religiosos com uma postura mais radical. Esses novos jesuítas obrigam os índios a abandonarem por completo suas crenças, queimando artefatos sagrados para os nativos. Em represália, os índios queimam a igreja dos jesuítas matando-os em seguida e fugindo para a mata. Após essa fuga, Mandu é recapturado, mas como sabia ler e escrever colocam-no como mediador entre os conquistadores e os índios, porém o que ele vê é traição e muita crueldade do homem branco em relação aos nativos, e ao ver uma índia ser brutalmente assassinada, Mandu resolve de uma vez por todas lutar pela sua raça. Chamada de Revolta de Mandu Ladino, esse grande guerreiro segue mata adentro fazendo alianças com tribos indígenas e unindo até mesmo tribos rivais para lutarem lado a lado contra o maldito invasor branco. Mandu chegou a ter 4000 índios lutando em várias frentes e ocasionando verdadeiro prejuízo para a coroa portuguesa. Infelizmente o grande guerreiro foi traído pelos índios Ibiapavas, e na perseguição sendo alvejado pelas costas vindo a morrer afogado. Musicalmente falando temos faixas bem elaboradas, pesadas e criativas. Na parte lírica foi um desafio gigantesco traduzir todo esse sentimento em palavras, porém é perceptível a minha alegria em sentir que a tarefa foi magistralmente cumprida com êxito.


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