Por Vitor Franceschini
A Metalizer chega ao seu
terceiro álbum revigorada, porém mantendo suas características iniciais.
Amadurecimento e uma evolução natural é o que pode ser ouvido no seu terceiro
disco, “The Pact” (2019). Pela primeira vez com duas guitarras, a banda agora é
formada por Sandro Maués (vocal), Douglas Lima (guitarra), Danilo Pavão
(baixo), Thiago Agressor (bateria) e o recém-chegado Edson Ruy (guitarra).
Agressor conversou com o ARTE METAL e falou um pouco mais sobre este novo
momento da banda.
No
meio musical costuma-se dizer que o terceiro álbum é o da consolidação de um
artista. Vocês concordam com esse termo e sentiram a pressão na hora de
elaborar todo trabalho envolvendo “The Pact”?
Thiago
Agressor: Olá, primeiramente gostaria de agradecer ao Vitor
pelo espaço cedido ao Metalizer no ARTE METAL, e a todo o público do site que
estiver lendo a nossa entrevista. Não concordo com a afirmação em relação ao
terceiro disco ser o trabalho de consolidação de uma banda ou artista. Para nós
cada novo trabalho tem essa função, e justamente por nunca ficarmos satisfeitos
temos sempre que buscar um algo a mais de um disco para o outro. Claro que
sentimos algum tipo de pressão, mas isso é bom, serve de combustível e com
certeza sentiremos pressão pra gravar os próximos trabalhos, é fundamental nós
mesmos nos pressionarmos pra ter um bom disco em mãos.
Aliás,
como vocês trabalharam no disco? Seguiram os mesmos métodos dos anteriores ou
mudaram algum aspecto neste sentido?
Agressor: Essas
composições surgiram entre 2012 e 2014, alguns riffs e passagens até antes, como
por exemplo o começo da 100 Days in
Rwanda, que eu tinha feito por volta de 2008, mas até então acho que não
estávamos prontos para desenvolver a ideia e executa-la da melhor maneira.
Temos uma forma de trabalhar que é a mesma desde o disco anterior, eu componho
as músicas e faço uma espécie de demo caseira, com uma bateria programada,
gravo guitarra, baixo e etc, então envio para os meus companheiros de banda,
escrevo a tablatura das guitarras e faço vídeos explicando como tocar os riffs.
Nos discos anteriores eu fiz as letras também, mas no próximo contará com
letras do Sandro também. Aí a partir disso os caras pegam as músicas e começam
a trazer ideias.
“The
Pact” contou com a estreia do guitarrista Edson Ruy (Rethurno). No entanto,
essa é a primeira vez que a banda gravou com duas guitarras. Como foi esse
processo e no que Edson pode ajudar na banda dentro do processo criativo?
Agressor: O
Douglas sempre participou muito da parte estrutural das músicas, o Sandro cria
muitas melodias, harmonias, backing vocals etc e com a entrada do Edson ele
trouxe muitas ideias para duetos e overdubs de guitarra, e também conseguimos
colocar mais solos dessa vez. Outra contribuição importante do Edson foi nos
backing vocals, ele faz um vocal mais gutural nos refrãos das músicas The Abomination e Consumed, e com ele aqueles coros em "gangue" do Thrash
Metal ficaram bem mais poderosos nesse disco.
Falando
nisso, por que decidiram adicionar mais um guitarrista e como chegaram até
Edson?
Agressor: Nós
costumamos brincar e falar que o motivo é que o Douglas assim poderia beber sem
se preocupar (gargalhadas). Mas falando sério, em um primeiro momento foi pra
dar mais um ‘punch’ ao vivo, mas depois que ele entrou na banda também focamos
em usar a presença de uma guitarra a mais no processo criativo. Conhecemos o
Edson de sua outra banda, o Rethurno, excelente banda de Thrash que canta em
português, e sempre curtimos a técnica e a criatividade dele, além disso ele é
um cara muito legal, sem nenhum lance de estrelismo e nos damos muito bem, o
que é fundamental.
Obviamente
que duas guitarras diferenciam “The Pact” dos outros discos, mas além disso, no
que vocês acham que o trabalho se destaca em relação aos anteriores?
Agressor: Bom,
acredito que uma banda deve ter sua identidade e preserva-la, mas também deve
sempre evoluir e não somente repetir os trabalhos anteriores. No caso do
"The Pact" primeiramente a produção está melhor, e particularmente,
finalmente fiquei feliz com meu desempenho na bateria, comecei a tocar por
necessidade e nos discos anteriores acho que faltou um pouco de coesão em
algumas coisas, então tentei ser o mais coeso possível, até reservei dois dias
pra gravar, mas mantendo a concentração, gravei em uma tarde. E de uma forma
geral, eu procuro nunca repetir riffs que já fizemos, tem algo de Heavy, isso
vem sendo uma característica nossa, assim como Speed Metal também, o som 100 Days in Rwanda que citei
anteriormente é bem diferente de tudo que fizemos, e as letras apresentam temas
diversificados e interessantes.
A
faixa Wild Eyes foi a escolhida para
ser o primeiro videoclipe. Por que a escolheram e como foi trabalhar no vídeo?
E como vocês veem a importância de gravar um material audiovisual nos dias de
hoje?
Agressor: O
Sandro fez um espaço na casa dele, onde tem o estúdio, mesa de bilhar, ping-pong,
churrasqueira e tal, e pela praticidade resolvemos gravar lá. Então nesse
ambiente de amizade, música e diversão que temos por lá, a faixa Wild Eyes, que fala sobre o estilo de
vida Heavy Metal, no sentido de não sermos engolidos pelo passar dos anos, pela
burocracia da vida cotidiana e mantermos aquele espírito livre, interessado, de
alguém que começou a curtir som, de ouvir e compartilhar com os amigos, enfim,
essa música combinou muito bem com a ideia do clipe. E contamos mais uma vez
com o Cláudio da Last Mosh, nosso Stanley Kubrick de Americana/SP (risos). O
cara é um ótimo profissional e entra de cabeça nas nossas doideras.
Nota-se
também no novo álbum, que a Metalizer se preocupou mais com os aspectos
líricos. Como chegaram aos temas, e mesmo não sendo um disco conceitual, qual a
mensagem em um aspecto geral vocês passam no trabalho?
Agressor: Como
você disse, não é um disco conceitual, são temas diversos, então cada música
tem sua particularidade. No geral, eu ouço aquela "demo" pronta, como
falei anteriormente e o próprio aspecto musical de cada faixa faz surgir a
temática na minha cabeça. A faixa título por exemplo, sombria, grande, que vai
crescendo e tal, fez eu me lembrar do livro o "Retrato de Dorian
Gray" (N.E.: de Oscar Wilde), obra que me fascinou quando li. Aí comecei a
ler novamente e escrever, até baixei uma versão em inglês para poder usar
alguns trechos de diálogos na letra. A 100
Days in Rwanda é sobre o genocídio ocorrido em Ruanda em 1994, tema que
sempre mexeu comigo, e quando senti o clima triste da música, percebi que
casaria muito bem. Warrior trata
sobre a banalização da palavra guerreiro, Worshippers
of War é uma crítica a quem parece se deleitar com a tragédia das guerras,
sentado no conforto do sofá, em baixo de um cobertor, bem protegido. Reborn Through Knowledge é sobre a
importância da leitura para o desenvolvimento humano, The Abomination escrevi a partir de um documentário que vi na TV,
chamado "O Homem Árvore". A
Menace to Society diz resumidamente que quando a sociedade está afundada em
ignorância, preconceito e outras barbáries, é dever de cada um que não se
enquadra nesse modelo, ser uma ameaça à sociedade, a esse tipo de sociedade. Free Art demonstra a importância em
fazer o seu trabalho, sua arte sem se atentar às tendências, ou qualquer outra
corrente que aprisiona a criatividade, Hypocrisy
traz alguns exemplos de hipocrisia, mas existem muitos outros por aí também. Consumed (Never Satisfied) é sobre
alguém que quanto mais consumia, nunca ficava satisfeito, e no fim ele acabou
consumindo a si mesmo.
Quanto
a sonoridade do álbum, o foco da banda continua no Thrash Metal, sempre
trazendo o Metal tradicional como referência. Vocês acreditam que definiram de
vez o som da banda em “The Pact”?
Agressor: Bom,
essas características surgiram naturalmente na nossa música, nós temos nossa
essência, ela será mantida, mas não faremos o mesmo disco novamente, muito
menos nos tornaremos uma outra banda. Temos uma sonoridade, novas referências
são bem vindas, mas sem ser algo forçado para soar "cool", enfim tudo
vai ser natural sempre, o mais importante é fazer o melhor que pudermos no
momento, sempre de forma honesta.
O
disco foi lançado somente digitalmente com apoio da Roadie Metal. Como pintou
essa oportunidade e como está o trabalho com eles? Há previsão de lançamento
físico do material?
Agressor: Nós
sempre vimos a Roadie Metal atuante na internet e nós sentíamos a necessidade
de ter alguma ajuda nesse sentido, pois não temos tanto conhecimento dessa
parte virtual e tal. Nosso guitarrista Douglas entrou em contato com eles e
fechamos uma parceria e tem sido ótimo o trabalho. Por exemplo o Spotify que é
o streaming que uso, nos primeiros meses chegou a ser ouvido por quase 600
pessoas, pra nós que tínhamos por volta de 20 pessoas por mês foi bem positivo.
Com certeza queremos lançar físico, o problema é a grana, a situação financeira
está bem mais complicada hoje pra nós do que nos lançamentos anteriores, e até
conversamos com alguns selos, tomara que consigamos alguma parceria ou recurso
pra lançar. Não vejo a hora.
A
capa de “The Pact” ficou a cargo de Bebeto Daroz (Dust From Misery,
Possessônica). Como vocês chegaram até e como foi o trabalho? Vocês escolheram
o desenho, trabalharam em conjunto ou deram autonomia ao artista?
Agressor: Conheci
o trabalho do Bebeto através da arte que ele fez para o novo álbum da banda
Unhaligast do Rio de Janeiro. Então pesquisei no Facebook e vi outras artes que
ele já havia feito. Mandei para meus companheiros de banda, eles gostaram e
então entrei em contato com ele. Eu passei só a temática, sobre o livro e tal,
acredito que ele conhecia a obra também e a partir disso ele foi desenvolvendo
livremente o trabalho. Nossa ideia para esse disco era ter uma capa desenhada
mesmo, e o Bebeto fez um trabalho primoroso, esperamos fazer outros trabalhos
com ele no futuro.
E
como tem sido a repercussão do disco até então, tanto por parte de mídia,
quanto por parte de público?
Agressor:
A
repercussão tem sido ótima na medida do possível, pois não é tão fácil
conseguir resenhas e entrevistas sem ter o material físico. Mas as resenhas que
foram feitas já, foram bem elogiosas, apresentando uma boa percepção por parte
das pessoas que resenharam, e todos dizendo que é nosso melhor trabalho até
hoje. O público sempre comenta positivamente, e pessoas que já conheciam os
outros trabalhos também disseram que esse é o melhor trabalho nosso, então
ficamos felizes com isso, esperamos supera-lo nos próximos.
No
momento em que elaboro estas perguntas, passamos por um momento muito difícil,
com a pandemia do COVID-19, o corona vírus. Então fica difícil perguntar pra
banda as questões envolvendo shows e planejamento. Mas como vocês pretendem
divulgar o trabalho daqui pra frente e a quais formas acreditam que terão que
se adaptar?
Agressor:
Nós
temos até então um show marcado com as bandas Sadistic Messiah, Blasthrash e
Chrome Skull, show marcado pra julho. Mas como você disse, estamos passando por
um período de incertezas, existe um vírus, desconhecido até recentemente,
aparentemente ele se dissemina muito rápido, e alguns podem dizer que ele tem
baixa letalidade, mas a quantidade de vítimas fatais irá aumentar
proporcionalmente em relação ao número de pessoas que tiverem o vírus. Então
nesse momento, o mais sábio a fazer é seguir a orientação dos especialistas em
saúde, esperando que passemos por esse período tendo o menor dano possível.
Muito
obrigado pela entrevista e podem deixar uma mensagem aos leitores.
Agressor: Muito
obrigado novamente pela entrevista Vitor, desejo muito sucesso para você e para
o ARTE METAL. Agradeço também a vocês que pararam um tempinho para ler essa
entrevista e conhecer mais sobre o Metalizer. Queria dizer que é uma grande
satisfação estar fazendo música durante esses 16 anos de banda, o que move uma
banda ou artista, é a necessidade de criar, devemos existir em razão das
composições e não o contrário, ou seja, fazer qualquer coisa só pra ter uma
banda. Então um salve para os meus amigos de banda também, que são grandes
músicos, mas antes de tudo grandes pessoa.
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